Índio de 99 anos é primeira vítima de Covid-19 de cidade isolada no AC: ‘trabalhador’, diz sobrinho


A aldeia Canafista, que fica no município de Jordão, no interior do Acre, está de luto. Após 10 dias de luta contra a Covid-19, o indígena Roldão Kaxinawá, de 99 anos, não resistiu e morreu nesse sábado (11).

Ele estava internado desde o dia 1º de julho no Instituto de Traumatologia e Ortopedia (Into), em Rio Branco. A morte do indígena foi confirmada no boletim da Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) desse domingo (12).

Esse foi o primeiro óbito registrado na cidade de Jordão, uma das mais isoladas do Acre, onde para se chegar só é possível por meio de barco ou avião de pequeno porte. Agora somente o município de Porto Walter não tem morte causada pela Covid-19.

A coordenadora em exercício do Distrito Sanitário Especial Índigena (Dsei) do Alto Rio Purus, Eliana Maria Bezerra, explicou que, por ser uma cidade de difícil acesso, os pacientes com Covid-19 no Jordão que apresentam maiores complicações no quadro clínico são transferidos para a capital Rio Branco, foi o caso de Kaxinawá.

Homem trabalhador

O sobrinho de Roldão, o artista indígena Isaias Sales contou que o tio foi infectado pelo novo coronavírus dentro da aldeia onde vivia e que, inicialmente, ficou se tratando no local. Com a piora do quadro, ele foi atendido por uma equipe de saúde indígena que fez o encaminhamento dele para a capital.

A vítima deixa mulher, 10 filhos e cerca de 40 netos. O sobrinho lembra de Roldão como um homem sempre trabalhador e que deixou um grande legado para os povos da região.

“Meu tio era seringueiro, produtor e também agricultor, um homem muito trabalhador que deixou uma família grande. Ele pegou essa doença lá mesmo na aldeia, assim como eu, e acabou não resistindo. Alguém levou para a gente na aldeia esse vírus, que é muito inteligente. Acredito que ele tenha pego lá pelo dia 6 de junho, e aí ficou muito ruim e teve que ser levado para o hospital”, disse o sobrinho.

Mais de 430 casos entre indígenas

Um mapa lançado pela Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-AC) mostra como estão os casos de infecção pelo novo coronavírus nas terras indígenas e cidades do estado. Foram contabilizados 434 casos confirmados de Covid-19 entre os povos indígenas.

Entre os casos, 146 são de índios que vivem em terras indígenas, sendo a maioria no Alto Rio Purus, onde foram registrados 41 casos entre povos Huni Kui ou Kaxinawás, como também são conhecidos. Outros 288 casos são de indígenas que estão na cidade, onde a maioria foi registrada em Santa Rosa do Purus, com 116 indígenas contaminados. No Jordão foram registrados 14 casos de indígenas com a doença.

O último mapa, que deve ser atualizado semanalmente, conta com dados até o dia 7 de julho. O levantamento registra que foram 17 mortes causadas pela Covid-19 entre indígenas. Porém, na quarta-feira (8), a CPI-AC divulgou mais um óbito. Com a morte de Roldão Kaxinawá, o número de óbitos entre indígenas sobe para 19.

Covid-19 no Jordão

Com pouco mais de 8 mil habitantes, o município de Jordão tem 55 casos de Covid-19 confirmados, segundo último boletim da Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre), divulgado nesse domingo (12). Outros 146 casos foram descartados. Em todo Acre já são 16.190 casos da doença.

No ranking da incidência média da doença, o município aparece em 20º lugar no Acre, com taxa de 90,8 para cada 10 mil habitantes. Os municípios de Assis Brasil e Cruzeiro do Sul apresentam as maiores incidências do estado com 302 e 267 por cada 10 mil habitantes, respectivamente.

Do total de 426 mortes causadas pela Covid-19 no estado, uma foi registrada no Jordão. O maior número de óbitos está na capital Rio Branco, com 291 casos.

Fonte: G1-Acre

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