Produção de coca se aproxima do Acre e demais fronteiras do país

Por ser rota do tráfico e um dos maiores consumidores de cocaína do mundo, o Brasil atrai cada vez mais para perto a produção de coca no Peru. A agência antidrogas do Peru (Devida) detectou o aumento da produção nas áreas fronteiriças com Brasil, Colômbia e Bolívia.

As informações são do diretor da Devida, Rubén Vargas, que apresentou os dados no dia 27 para jornalistas. “O Brasil está movendo o mapa da coca e do narcotráfico. Fica claro para nós que há um aumento de cultivo em áreas de fronteira”, afirmou Vargas.

A Região de Madre de Dios, que faz fronteira com o Acre e Bolívia, é uma que se verificou o aumento do cultivo da coca. No Baixo Amazonas, em Caballococha (tríplice fronteira com Colômbia e Brasil), na Província de Sandía (fronteira com Bolívia), são as demais áreas em que se verificou o crescimento do cultivo, de acordo com informações do Jornal Estado de São Paulo.

Com base nestas informações, o Jornal A Tribuna entrevistou representantes dos principais órgãos que atuam no combate ao tráfico internacional de drogas no Acre, a Polícia Federal (PF) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF).

O chefe de Delegacia da PRF-AC, Sávio Hipólito, afirma que não há como mensurar a real produção de cocaína, tendo em vista que a produção é ilegal, e por isso não pode ser contabilizada. Mas, presume que realmente o avanço na produção vem ocorrendo, pelas constantes apreensões de drogas realizadas pelas forças de segurança e pelo flagrante consumo nas ruas das cidades.

O Brasil faz fronteira com Peru, Bolívia e Colômbia, os três maiores produtores de cocaína do mundo. Em especial, o Acre, possui aproximadamente 2 mil quilômetros de fronteira com Peru e Bolívia, que torna o estado, inevitavelmente, uma rota para o tráfico local, interestadual e até mesmo do tráfico internacional.

O delegado regional executivo da PF, Rafael França, afirma que a Polícia Federal trabalha fortemente em cooperação com diversas agências para dirimir as ações de grupos organizados que controlam a distribuição de cocaína produzida nos países andinos e na região de fronteira.

França frisa que o Brasil não produz a substância, mas é forte mercado consumidor e país de trânsito para carregamentos que são enviados principalmente para a América do Norte e Europa através do continente africano.

Se houver aumento de produção de cocaína, os Estados de Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas e outros serão também parte das rotas utilizados pelos narcotraficantes para escoamento. “No Acre, assim como nos demais Estados, a PF está preparada e a postos para ser um entrave nos negócios ilícitos das organizações criminosas”, relata o delegado.

O que a Polícia deve fazer no Acre para impedir que esse avanço afete a criminalidade no estado e no Brasil?

Rafael França: A PF atua diuturnamente na repressão ao narcotráfico internacional no Estado do Acre, embora grande parte dessa atuação ocorra de modo discreto. Procura-se dar maior valor à inteligência policial, método que permite alcançar não só o transportador das cargas, mas, também, os intermediários e compradores das partidas de cocaína.

Um exemplo dessa ação é o aumento de prisões em flagrante no Aeroporto Plácido de Castro, no qual vêm sendo feitas investigações que já possibilitaram apreensões não só em Rio Branco, mas em diversas outras capitais brasileiras. Foi criado, para tanto, o Núcleo de Polícia Aeroportuária da PF no Estado, grupo que desenvolve ações com a participação da INFRAERO, da Receita Federal e das polícias estaduais, demonstrando a importância da integração e das ações interagências. Ainda, a PF restabeleceu o Serviço de Canil no Estado, o que reforça a atuação contra o narcotráfico.

Para tornar ainda mais efetivo esse mecanismo de ação contra o tráfico de drogas, a Polícia Federal tem por missão o estudo e a repressão das organizações criminosas que passaram a atuar no Estado do Acre e no Sul do Amazonas nos últimos anos, ordem essa emitida pela Direção-Geral da PF em Brasília/ DF neste ano.

Em cumprimento à determinação, a Superintendência Regional reforçou a equipe de investigadores voltados a este trabalho, criou a equipe tática de nome Grupo de Pronta Intervenção (GPI) para o enfrentamento e para ações mais incisivas e, ainda, aumentou as fiscalizações em portos de entrada com o apoio da Força Nacional de Segurança Pública.

Sávio Hipólito:

Entre as atribuições da Polícia Rodoviária Federal, estão atuar no combate a criminalidade no intuito de reduzir não apenas a violência no trânsito, mas também aumentar a percepção de segurança e combater todo tipo de ilícito penal nas rodovias federais e nas áreas de interesse da União. Diante disso, atuamos todos os dias realizando fiscalização a veículos e pessoas que transitam nas rodovias federais do nosso estado, de forma a coibir o tráfico de drogas, os crimes transfronteiriços, crimes ambientais, crimes contra o patrimônio, etc. Este é o nosso dever e exercitamos todos os dias para garantir segurança a sociedade.

Quanto de droga já foi apreendido no Acre este ano?

Rafael França: Somente neste ano, foi apreendida mais de meia tonelada de cocaína no Estado do Acre. Deve ser considerado o que foi apreendido em decorrência de investigações feitas pela equipe da PF do Acre, ou seja, o que passou pelo estado e acabou sendo apreendido em outras unidades da Federação. Se assim for, a PF no Acre apreendeu aproximadamente uma tonelada de cocaína nos últimos doze meses.

Sávio Hipólito: Somente em 2018, no período de janeiro à 30 novembro, a PRF já apreendeu 485 Kg de cocaína, 45 Kg de maconha e 10 mil compridos de ecstasy nas rodovias federais do nosso Estado, contribuindo de forma efetiva para o combate ao narcotráfico e todos os crimes conexos.

O que é preciso para melhorar esse enfrentamento?

Rafael França: O desafio para todos os órgãos de segurança pública é melhorar a atuação das interagências, quer dizer, aumentar a cooperação e a troca de informações entre as polícias e outros componentes do sistema criminal, inclusive o IAPEN (Instituto de Administração Penitenciária).

Além disso, é necessário “qualificar” ainda mais as operações, o que já está sendo feito pelos policiais federais no Acre. Neste objetivo, a PF dá prioridade às investigações de grupos mais estruturados, focando, ainda, na lavagem de dinheiro e na cooperação com as polícias da Bolívia e do Peru. Aliás, esse é o melhor caminho para o enfrentamento: estreitar ainda mais os laços com os países vizinhos, nos quais também são sentidos os efeitos decorrentes do aumento da criminalidade no Brasil.

Sávio Hipólito: Políticas públicas que privilegiem o investimento em tecnologia, equipamentos e efetivo de todas as polícias da União e também dos Estados na região de fronteira, além de uma maior integração de informação e do serviço de inteligência entre todos os órgãos de segurança pública, garantindo o policiamento ostensivo eficiente ao longo das rodovias, rios, portos e aeroportos.

A Tribuna

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