Até o Demóstenes que se apresentava como o "Senador da Ética"? É corrupção da grande.

Conhecido pela defesa da ética na atividade política, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), um dos símbolos da oposição no Congresso, viu-se na berlinda depois que investigações da Polícia Federal revelaram sua relação com o empresário Carlinhos Cachoeira, acusado de associação com jogos de azar.

Nos últimos dias, com uma série de denúncias vindo à tona, o parlamentar deixou o posto de líder do DEM no Senado, tornou-se alvo de um inquérito aberto no STF (Supremo Tribunal Federal) e corre o risco de ser cassado, já que o PSOL levou uma representação contra ele ao Conselho de Ética do Senado.

O clima pesou até dentro de seu partido. O presidente nacional do DEM, José Agripino Maia (RN), que o substituiu na liderança no Senado, já admitiu a hipótese de expulsá-lo. A sigla deve se reunir na semana que vem para selar o destino de um de seus principais quadros.


A crise que agora se abate sobre Demóstenes já havia dado as caras no início do mês. Em 6 de março, poucos dias após a prisão de Cachoeira, apontado como líder de uma quadrilha que explorava caça-níqueis em Goiás, ele subiu à tribuna no Senado para explicar que tipo de relacionamento mantém com o bicheiro. No discurso, o político negou a informação de que havia sido investigado pela PF, como informara a revista Veja.

— A Procuradoria-Geral da República informou que não há nada, nenhuma investigação ou processo que envolva o meu nome. Não sou investigado em nenhum fato, não sou acusado de nada. 

Referindo-se à gravação de suas conversas com Cachoeira, de quem admitiu ser amigo, o então líder do DEM no Senado afirmou estar tranquilo, já que se tratavam de diálogos “triviais”. Ele revelou que conhece Carlinhos Cachoeira na condição de empresário, e disse que ele explorava modalidades legais de jogos.

— Eram negócios considerados lícitos. Como empresário, ele frequentava a alta sociedade goiana, convivia com pessoas das mais variadas áreas, que nem por isso estão comprometidas com suas atitudes.

Demóstenes também disse ser verdadeira a informação de que o bicheiro havia dado a ele, como presentes de casamento, um fogão e uma geladeira importados, mas afirmou que não havia nada de irregular no que considerou ser apenas uma “gentileza” de cachoeira.

No entanto, gravações divulgadas nos últimos dias pela PF, feitas com autorização da Justiça, revelaram que Demóstenes e Cachoeira tratavam dos mais variados assuntos em suas conversas telefônicas. 

Em alguns diálogos, aos quais a Rede Record teve acesso, o senador prometia trabalhar pela aprovação de propostas que fossem de interesse do empresário no Congresso e atendia a favores dele. Cachoeira, além disso, fazia pedidos a Demóstenes para que ele interferisse em processos judiciais.

Além disso, em conversas mantidas por Cachoeira com auxiliares, também gravadas pela PF, o nome de Demóstenes é citado várias vezes. Nestes diálogos, o bicheiro chega a mencionar quantias milionárias de dinheiro.

Desdobramentos

No Supremo, a investigação sobre o senador está nas mãos do ministro Ricardo Lewandowski, que já determinou a quebra de seu sigilo bancário. 

Na esfera política, Demóstenes correrá o risco de ser cassado se o Conselho de Ética do Senado abrir um processo e entender que ele de fato quebrou o decoro parlamentar. Se renunciar ao mandato para evitar perdê-lo, será enquadrado na Lei da Ficha Limpa e não poderá disputar as próximas eleições.

Desde que as mais recentes denúncias foram veiculadas pela imprensa, Demóstenes adotou o silêncio. Disse que só irá se pronunciar depois de ter acesso às acusações contra ele.

Procurador de Justiça e com atuação ligada à área da segurança pública, ele foi o primeiro colocado na eleição de Goiás para senador em 2010, com 2,1 milhões de votos. (r7)

Notícias sobre o Caso

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Ouça AQUI gravações de diálogos entre Demóstenes Torres e Cachoeira


Gravações feitas pela Polícia Federal mostram indícios de que o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) negociava no Congresso projetos de interesse do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e revelam o interesse do senador em interferir em contratos da Infraero, empresa estatal que administra os aeroportos brasileiros.

Reportagem desta sexta (30) do jornal ‘O Globo’ traz a transcrição de conversas telefônicas entre o senador Demóstenes Torres e Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso pela Polícia Federal sob a acusação de comandar um esquema de jogo ilegal
As ligações foram gravadas pela Polícia Federal em 2009, com autorização da Justiça, e indicam que o senador do DEM de Goiás colocou o mandato a serviço do bicheiro.

No dia 22 de abril de 2009, Carlinhos Cachoeira pede que o senador faça um levantamento sobre um projeto de lei que trata da criminalização de jogos e da legalização das loterias estaduais. Dois dias depois, Cachoeira recebe o retorno do senador.

- Cachoeira: Escuta, aquele negócio que eu pedi procê olhar lá, já checaram lá, aquela lei do Maguito?
- Demóstenes: Já checaram a lei do Maguito (.....) Tá na Câmara já no último estágio.
- Cachoeira: Pois é, agora, vou dizer, ocê é que tinha que trabalhar isso aí com o Michel. Pra por em votação. Porque seria interessantíssimo, né?


O “Michel” citado por Cachoeira é vice-presidente Michel Temer, então presidente da Câmara dos Deputados, e “Maguito” é Maguito Vilela, que foi senador por Goiás.

Cinco dias depois, o senador dá retorno a Cachoeira e recebe orientações sobre como agir.

- Cachoeira: Oi, Doutor.
- Demóstenes: Fala, Professor. Eu peguei o texto, ontem, da lei pra analisar. É aquela que transforma contravenção em crime. Que importância tem a aprovação disso?
- Cachoeira: É bom demais, mas aí também regulamenta as estaduais, uai.
- Demóstenes: Regulamenta não. Vou mandar o texto procê. O que tá aprovado lá é o seguinte: transforma em crime qualquer jogo que não tenha autorização. Qualquer jogo que não tenha autorização. Então, inclusive, te pega, né?
- Cachoeira: Não, mas essa aí é boa também. É bom fazer isso. Não pega ninguém, não. Pode mandar brasa aí.


O projeto de lei citado por Cachoeira foi aprovado por duas comissões e está parado, pronto para entrar na pauta do plenário da Câmara.

Em 4 de abril de 2009, os dois conversaram também sobre a Infraero - empresa responsável pela administração dos aeroportos brasileiros. Cachoeira estaria interessado na área de informática da empresa.

Demóstenes foi relator, em 2007, da CPI do Apagão Aéreo e, nessa ocasião, se aproximou do brigadeiro José Carlos Pereira, ex-presidente da Infraero.

No telefonema, Demóstenes relata ao bicheiro que pediu a Idalberto Matias Dadá, sargento da reserva da Aeronáutica, preso na operação da Polícia Federal, que sondasse o ex-presidente da Infraero sobre possíveis licitações. Mas o negócio não prosperou.

- Demóstenes: O nosso amigo marcou um encontro com ele em uma padaria, não sei o quê. E levou o ex-presidente, cê entendeu? E que aí o trem lá não andou nada. Eles nem sabem o que tá acontecendo.
- Cachoeira: Mas tem que ser você mesmo. Você que precisava ligar pra ele.


O ex-presidente da Infraero José Carlos Pereira confirmou que foi procurado por Dadá. Disse que ele falou em nome do senador Demóstenes.

“Era interesse do senador, sim. O Dadá não ia querer saber de informática da Infraero, coitadinho. Sargento da Aeronáutica, agente. Mas disse ‘não, tá tudo bem lá, não vai ter problema nenhum, e não vai haver licitação alguma’. O assunto morreu”, afirmou Pereira. (G1)

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