jornal a Gazeta de 08.08.08
HASSEM NETO
Especial para A GAZETA
Quando o governo decidiu proibir o uso do DDT e Malathion no Brasil, na década de 70, inegavelmente admitiu que esta substância altamente tóxica estava causando sérios danos à saúde pública. Nada mais justo que agora, diante de fartas evidências, o Estado reconheça sua obrigação de indenizar os guardas da extinta Sucam. A cobrança mais enfática por providências está sendo feita pela deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB), que foi atendida já na próxima semana na proposta de criar uma comissão externa para levantar todos os casos existentes na Amazônia. Perpétua fez um apelo às bancadas do Norte em Brasília, para que a incidência de contaminações por estado seja, finalmente, conhecida.
A intenção é levar as ocorrências, devidamente tabuladas, ao conhecimento do presidente da República. Seria o primeiro grande apelo nacional por justiça. Um grupo de deputados já se mobiliza para visitar os 9 estados da região. A expedição terá atribuições respaldadas pela Comissão da Amazônia da Câmara Federal e tentará encerrar um longo período - mais de 16 anos - de omissão e indiferença do governo com o sofrimento de milhares de famílias.
Acre: 40 mortes e centenas de doentes
Não se sabe quantas pes-soas convalescem sem perspectivas de melhora no país. Muitos, no entanto, morrem com sintomatologias comprovadamente decorrentes da exposição direta ao inseticida.
Somente no Acre, 40 ex-guardas já faleceram em conseqüência da contaminação, 12 ficaram mutilados e 11 estão com suspeita de câncer. Outros 12 têm problemas cardiovasculares e o restante aguarda a oportunidade de fazer os exames. Os dados são oficiais e foram confirmados pela associação de servidores contagiados, representada pelo ex-servidor público Aldo Moura da Silva, que estima em 500 o número de acreanos a serviço da Sucam naquela época. “Não vejo outro momento de implorar por justiça. Tem que ser agora. É realmente uma situação muito difícil”, diz ele.
Audiência pública - Ao ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo de Tarso Vanucci, e ao presidente da Funasa, Francisco Danilo Bastos Fortes, caberá explicar, no Congresso Nacional, quais as medidas o governo pretende adotar daqui para frente. Deles é esperada uma proposta de solução para o problema durante uma audiência pública que pode ocorrer ainda este mês, de acordo com requerimento de autoria da deputada Janete Capeberibe, aprovado na última quarta-feira na Comissão de Direitos Humanos. “Não haverá justiça neste caso se todas as pessoas contaminadas na Amazônia não forem atendidas”, alertou Janete Capeberibe.
Cobrança -Simultaneamente à aprovação do requerimento, em pronunciamento, Perpétua Almeida sugeriu que governo assuma a responsabilidade de fazer exames para diagnosticar o teor de DDT no organismo destas pessoas. A deputada também quer ouvir vítimas dos efeitos acumulativos do inseticida, além de um especialista, possivelmente ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A Gazeta - O pedido de providência via Câmara Federal também foi motivado por uma reportagem especial assinada pelo jornalista Silvio Martinello, publicada na edição de terça-feira (5) de A GAZETA. A matéria, contando o drama de algumas vítimas, foi mostrada e distribuída às bancadas de todo o país no plenário da casa, durante pronunciamento da deputada Perpétua Almeida, que elogiou a iniciativa do jornal e a abordagem “profissionalmente correta” sobre o tema. A reportagem havia registrado a morte, no último sábado, de ex-servidor público José Lacerda, que atuava no enfrentamento aos vetores transmissores da malária. Lacerda foi a quadragésima vítima da contaminação por DDT no Acre.
Mais conhecidos como mata-mosquitos, eles trabalhavam sem os equipamentos de proteção individuais que somente a partir dos últimos anos passaram a ser utilizados pelos atuais agentes de endemias. Todas as vítimas apresentam sérios danos neurológicos, respiratórios e cardiovasculares.
Negligência - “O Estado negligenciou ao longo desses anos. Ou o poder público manda examinar estas pessoas, ou o sentimento de impunidade e injustiça prevalecerá, e isso nós não iremos permitir mais”, disse a deputada, que no último final de semana acompanhou pessoalmente o martírio de alguns contaminados por DDT. Eles estão internados em hospitais públicos. Outros que fizeram exame por conta própria obtiveram respostas desagradáveis quanto ao nível de contaminação. Em média, como ocorre com os demais pacientes, os microgramas de DDT por decilitros de sangue estão até 60% acima do aceitável pela Organização Mundial de Saúde.
Reação - Após o apelo feito pela deputada, veiculado em tempo real pela TV Câmara, dona Maria de Lourdes, que se identificou como habitante de Rondônia, informou que um exame feito em seu esposo, um ex-mata-mosquito, “deu positivo para pesticida”. Num email enviado ao gabinete da deputada, Maria de Lourdes explica que o DDT total registrado foi de 6,17% ug/dl, enquanto o recomendado pela Organização Mundial de Saúde é de, no máximo, 3% ug/dl. “Espero que a senhora (deputada) faça mais alertas como este aos nossos governantes. Não desista. Os ex-funcioná-rios da Sucam deram seu sangue e agora estão morrendo”, disse.
Exposição ao risco - “Naquela época, durante as borrifações, não havia máscaras. Quando havia macacões, estes eram compartilhados com os outros colegas. E depois eram levados para casa, para serem lavados pelas esposas que também eram contaminadas. O alojamento dos mata-mosquitos era o mesmo espaço usado pelo governo à época para estocar o DDT. O balde usado na dissolução do inseticida era o mesmo para carregar a água de beber. E ninguém jamais alertou esses homens do risco de morte que eles estavam correndo”, desabafou o Cedício Vasconcelos, do sindicato dos servidores federais do Pará. Ele reuniu com a deputada na tarde da última terça-feira e informou que a entidade paraense contabilizou mais de 450 casos até então, dos quais 45 óbitos. Lá, especialmente no sul do estado, são movidas ações coletivas na Justiça pedindo que seja declarado o direito a indenizações por acidente de trabalho. Estranhamente, conta ele, as primeiras reclamações começaram a surgir na imprensa local 11 anos atrás, num prenúncio de que a desinformação sobre a origem dos sintomas é quase total. A indignação das famílias, diz Cedício, aumentou com os argumentos apresentados por algumas instâncias governamentais para não indenizar as vítimas: o de que as seqüelas seriam resultado de uma vida desregrada, baseada no fumo, ingestão de álcool e sedentarismo. “De forma alguma nós concordamos com isso”, disse.
Histórico - O DDT faz parte de um grupo de substâncias químicas de alta periculosidade, que não se decompõem e podem ser transportadas pelo ar e pela água. Há muitos países em que o uso do DDT é vedado. Os EUA baniram sua utilização em 1973. Tornou-se um dos mais conhecidos inseticidas de baixo custo. Começou a ser utilizado na Segunda Guerra Mundial para eliminar insetos e combater as doenças emitidas por eles como a Malária, Tifo e Febre amarela, era usado também por fazendeiros para controlar pestes agrícolas.
Peste - O inseticida demora de 4 a 30 anos para se degradar. O principal problema é sua ação indiscriminada, que atinge tanto as pragas quanto o resto da fauna e flora da área afetada, além de se infiltrar na água contaminando os mananciais e interrompe o equilíbrio natural no meio ambiente. Dentre os malefícios causados por ele está o enfraquecimento das cascas de ovos das aves, envenenamento de alimentos como carnes e peixes.
CARTA ABERTA
ResponderExcluirContaminados por DDT em Rondônia pedem Apoio
Vimos por meio desta, solicitar apoio político na causa dos servidores da FUNASA em Rondônia, que, assim como outros servidores deste órgão em todo o Brasil, durante várias décadas estivemos trabalhando em contato com o inseticida organoclorado DDT (Dietil-Dicloro-trietano) sem nenhum tipo de equipamento de segurança, tampouco, sem nenhum tipo de informação quanto ao poder tóxico deste produto.
O DDT foi descoberto e inicialmente utilizado durante a II Guerra Mundial para controlar a praga de piolhos que os soldados tiveram. Após o fim da guerra, com a alta letalidade do produto sobre os insetos, o DDT passou a ser utilizado no controle de pragas agrícolas e de interesse em saúde pública, como a malária. Países no mundo inteiro compraram o DDT que era fabricado no E.U.A, porém, com pouco mais de 10 anos de uso, os americanos descobriram este inseticida era letal na natureza e no próprio ser humano. Por isso, a partir do início da década de 60 o uso do DDT foi proibido (lá!), no entanto, os outros países do mundo, como o Brasil, continuaram a comprar o inseticida durante muuuuito tempo. No brasil o DDT foi utilizado pela FUNASA nas ações de controle de malária até 1990, e extra-oficialmente ele ainda foi aplicado até 1995.
Bem, o que está ocorrendo hoje no quadro de servidores da FUNASA, tanto naqueles que trabalham com saúde indígena quanto nos descentralizado que atuam nas Divisões de Endemias Brasil afora, problemas de saúde que variam desde paralisias de membros, degenerações de articulações, alterações neurólogicas e neuro-psiquísicas, como depressão e outros problemas que nem mesmo a Organização Mundial de Saúde conseguiu ainda descrever todas as possibilidades de danos fisiológicos que o DDT causa no organismos, sendo considerado o mais grave a alteração na camada de mielina das nossas células nervosas, cujo dano é irreversível. Por causa disso tem-se perda de memória, paralisias, perda de reflexos, etc.
No ano de 2005, por iniciativa de determinado advogado recém-chegado a Rondônia, os sucanzeiros começaram a fazer testes de intoxicação por DDT, particularmente mesmo, sem cobertura por plano de saúde e coisas assim. Quando os resultados começaram a chegar vindos lá da região centro-oeste, foi um espanto só de norte a sul de Rondônia, homens com níveis de DDT no sangue em quantidade 2, 3, 5, até quase 10 vezes maiores que o índice considerado normal para um ser humano.
Após o espanto, foram iniciadas algumas ações judiciais por danos materiais e morais decorrentes da intoxicação, uns gatos pingados tiveram a coragem de iniciar a ação, a maioria correu de medo das ameaças que trovoaram de dentro das salas administrativas da FUNASA em Rondônia.
Até mesmo na imprensa teve representante técnico da FUNASA defendendo a teoria que o DDT não causa os males que os sucanzeiros estão alegando, entre outras injustiças, ditas claro, por pessoas que nunca aplicaram o DDT nas casas, tampouco respiraram o veneno enquanto o mesmo era pesado manualmente para o trabalho no campo, entre outras situações absurdas às quais os guardas da SUCAM foram expostos na manuseio do inseticida.
Nos Estados do Pará e Acre também existem servidores que deram entrada em ações judiciais por intoxicação por DDT. No Acre a situação está bem grave
inclusive com mortes recentes de servidores intoxicados e outros que se encontram em estado grave - www.aleac.ac.gov.br/aleac/edvaldomagalhaes/index.php?option=com_content&ta... No Pará, há alguns anos os servidores entraram com ações pedindo indenizações por intoxicação, já ganharam na 1a. Instância mas a UNIÃO recorreu, e perdeu. No entanto, é certo que estas ações chegarão até o julgamento do STF pois não há jurisprudência quanto à responsabilidade administrativa da União pela intoxicação dos servidores da FUNASA em todo Brasil pelo manuseio do DDT.
Aqui em Jaru, exceção são os poucos colegas cujo índice de DDT no sangue encontram-se dentro da normalidade, e mesmo entre aqueles cujos valores não são tão alarmantes, quase todos apresentam problemas crônicos de saúde e alterações psico-neurológicas.
Estamos pedindo apoio político nesta causa que é justa, porque nosso interesse é de recebermos justiça e não simplesmente dinheiro! Queremos ter condições de custear as despesas médicas e que os impactos desses problemas na vida pessoal possam ser minimizados. Principalmente, estamos pedindo apoio para projeto de lei que estenda o direito que hoje somente os professores têm:
a aposentadoria por 25 anos de serviço e 50 anos de idade para servidores do sexo feminino que atuam nas ações de controle de endemias;
aposentadoria por 30 anos de serviço e 55 anos de idade para servidores do sexo masculino que atuam nas ações controle de endemias.
Os sucanzeiros fazem parte da história do Brasil, principalmente na região Norte, heróis que salvaram muitas vidas e que ainda em muitos locais perdidos nestes confins de mundo amazônico, são os únicos que levam o atendimento que o poder público deve ao povo brasileiro. Merecemos respeito, principalmente os que deram a saúde e até mesmo a vida por este trabalho!
"Por que essa discriminação?"
ResponderExcluir‘’Um professor se aposenta com 25 anos de serviço porque trabalha com o giz, material bem menos tóxico do que o DDT, por que nós, que estamos envenenados, que demos a nossa vida para matar o mosquito da malária e salvar milhões de outras vidas, também não podemos ter direito, por que essa discriminação com a gente?’’, questionou Waldyr Madruga, acrescentando que o último exame realizado revelou um percentual de 7,11% da presença de DDT no seu organismo.
‘’Eles nunca tiveram respeito pela gente. Quando íamos para a zona rural não tínhamos nem lugar para acampar. Quantas vezes não dormir em chiqueiro de porco ou curral de boi. Agora, eles continuam nos relegando o segundo plano, escondendo da opinião pública que estamos doentes. Deixando-nos morrer a míngua’
Desabafa Waldyr Madruga.
Ji Parana-Ro. 20 05 2009