O desafio de um grande sertanista
Em 1975, chegava ao Acre, o sertanista José Porfírio Fontenelle de Carvalho com a missão de instalar na região, uma base avançada da Fundação Nacional do índio no Acre, e dar inícios ao trabalho visando identificar a existência de grupos indígenas na região do Acre, e sudoeste do Amazonas.
Os problemas eram muitos, pois o sertanista naquela ocasião trabalhava sozinho. A primeira missão do Carvalho foi mapear toda região, para identificar territórios indígenas ocupados por fazendeiro, e também desconstruir o velho mito que não existiam grupos indígenas na região, apenas caboclos pintados de urucum.
Em 1976, FUNAI no Acre, passou a contar com mais dois servidores, o indigenista Jose Carlos Meirelles e Sebastião Batista de Figueiredo, esse que vos escreve. Sob o comando de Carvalho, o grupo elegeu dois problemas considerado os mais critico da época.
O primeiro era prender o lendário Pedro Biló, considerado na época, o maior exterminador de índios da região. Enquanto o segundo era rever uma grande propriedade de terra, em poder de um fazendeiro poderoso situada na região Boca do Acre amazonas.
Biló, uma figura bastante conhecida em todo estado do Acre. Era tido como uma espécie de justiceiro, tendo como principal função, exterminar grupos indígenas arredios e também era encarregado de limpar os seringais, da presença dos índios isolados. Pedro Biló era considerado um anjo da guarda dos seringalistas nordestinos que vieram para região do Acre, de varias partes do nordeste, para exploração da borracha. Pessoalmente, poucas pessoas o conheciam. A história desse matador de índios era cercada de muitos mistérios. “Falavam que tinha oração forte, que se virava em toco de arvore, em cupim e adentrava nas malocas, cortava corda dos arcos, quebrava flechas, sem ser visto em seguida iniciava o massacre”.
Para prendê-lo, não foi nada fácil. Pois Pedro Biló tinha informações que ao qualquer momento, poderia ser preso, por causa de denuncia de matança de índios. Por isso, andava com bastante cuidado pela região rural do município de Feijó. Quando ouvia qualquer barulho de motores subido o rio Envira, ficava de olho o tempo todo. Para predê-lo os argentes da policia federal juntamente com o sertanista Carvalho, fizeram um mapeamento de toda região e constataram que Biló se encontrava no seringal Simpatia a seis dias de barco partindo da cidade de Feijó. Na ocasião, o sertanista Carvalho juntamente com os argentes federais, saíram de Rio Branco rumo à fazenda Califórnia no alto Envira, distante a dois dias de barco do endereço onde estava Pedro Biló. Da fazenda a equipe seguiu de barco e para que ele não desconfiasse de nada, a equipe navegou duas horas a mais, acima da localidade onde mova Biló.
A estratégia dos agentes federais para capturá-lo. Atracaram o barco distante duas horas, acima da localidade de Pedro Biló e deixaram anoitecer. Por volta das 22horas, os argentes federais desceram a Envira com o motor desliga., chegando ao local por volta da meia noite cercaram a casa do matador de índios.
Encurralado foi detido, sem esboçar qualquer resistência. Em seguida os policiais explicaram os motivos de sua prisão, e pediram que ele que não tentasse se virar em toco de arvores ou em cupim, pois se isto acontecesse, eles metralhariam o toco, e botava fogo no cupim.
Em depoimento. Ele disse que daquilo era verdade. Em seguida, a equipe retornou para Feijó e posteriormente para Rio Branco, onde foi interrogado na sede da polícia federal, onde foi interrogado e liberado sem que houvesse indiciamento. As últimas informações, que vieram de Pedro Biló, é que foi para Manaus-AM e veio a falecer na década de oitenta.
Em depoimento, parentes disseram que Biló tinha pouco mais de oito anos quando testemunhou um grupo de índios arredios, invadir a casa da vizinha e matar seu coleguinha de nove anos e uma menina de três anos. A terceira criança de seis meses, só escapou porque ele e sua irmã de cinco anos correram para o mato e entraram em um buraco de tatu, onde passaram o dia e a noite com fome e frio. No dia seguinte, Biló ao perceber que seu pai havia chegado de viagem, desesperado saiu da toca chorando prometendo que iria a vingar mortes do amigo e fazer o mesmo que eles tinham feito com a família da vizinha.
Segundo informações, Pedro Biló era um grande especialista quando adentrava na floresta. Sua bussola geográfica era o sol, lua, os igarapés, os divisores de água, as lombadas de terras, as estrelas e outros. Imitava todo tipo de animais silvestres era capaz de rastrear índios e animais na mata, simplesmente pelos vestígios deixado nas folhas secas ou pelos odores exalados pelo animais. Em Relação a prisão de Pedro Biló, não é ficção, porque fiz parte dessa história.
Por Sebastião Batista de Figueiredo
Servidor da Fundação Nacional do Índio FUNAI
Formado em Geografia pela Universidade Federal Acre
Graduação em gestão ambiental e desenvolvimento Sustentável
Infelizmente não deu em nada, pois o próprio Bispo de Rio Branco o defendia, juntamente com os "coronéis" do Envira, especialmente José Gurgel Rabelo (o temido coronel Zeca Rabelo) do município de Feijó-AC. Eu morei lá entre 1976 e 1979 e conhecí Pedro Biló e o entrevistei. Falei com muitos velhos que conheciam as suas peripécias e matanças dos tempos passados. De posse desse material, compus o conto "O Massacre do Lago do Arapapá", que pode ser lido, juntamente com outros contos e relatos parecidos, no meu livro "Dramas da Amazônia", que pode ser adquirido na Amazon.com.
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