*POR CHAGAS BATISTA
Tarauacá tem uma excelente oportunidade pra mudar a página de uma cidade insalubre, desumana e com precária infraestrutura e qualidade de vida. A cidade de Tarauacá foi construída na Foz do Rio Murú, no encontro de dois rios em formação, uma área vulnerável e alagadiças, no início do século passado.
Vale registrar que em 1926, em viagem aos rios da Amazônia, o Padre, Constant Testevin, aos passar por Tarauacá, descreveu o seguinte: "A entrada de Tarauacá é razoavelmente pitoresca: dois molhes de madeira, de apenas 1,50 metro de largura, ligam o rio à terra firme por cima das terras inundáveis, numa extensão de aproximadamente 100 a 200 metros". Assim começou a construção urbana de Tarauacá.
Quase um século depois, Tarauacá continua crescendo sem planejamento em áreas de risco e de proteção ambiental, se transformando em uma explosão de construções irregulares e bolsões de pobreza. Mudar essa realidade, requer tempo, recursos, coragem, visão de futuro e acima de tudo, compromisso com uma nova cidade.
Nas últimas três decadas, somente o bairro Esperança foi criado de forma mais ou menos regular. A gestão do então prefeito Rodrigo Damasceno, comprou uma área particular para assentar aproximadamente 100 famílias que haviam sido despejadas de outra área particular. Foi nesse mesmo período também que foi tomada algumas iniciativas no sentido de reorganizar o crescimento e o ordenamento da cidade.
Primeiro, foi realizado com apoio do Governo Federal e Estadual, um levantamento de todas as habitações em áreas de risco e elaborado um plano de mudança dos moradores das áreas de risco, para outro lugar seguro e habitável. Segundo, foi contratada uma empresa especializada em planejamento urbano para elaboração dos seguintes planos: plano de gestão integrada de saneamento e resíduos sólidos; plano de mobilidade urbana e plano de reformulação do plano diretor da cidade. Os planos foram concluídos e aprovados em audiências públicas com a participação de todos os segmentos da sociedade. O Plano Diretor orienta reordenamento do crescimento e da expansão urbana, com definição das áreas de moradias, de proteção ambiental e de risco.
Esses instrumentos técnicos e legais são indispensáveis para a captação de recursos e gestão de uma nova política urbana sustentável. Ocorre que com a mudança do Governo Municipal todo o trabalho produzido para avançar na humanização urbana foi abandonado. Voltaram novamente os loteamentos irregularidades e as construções em áreas de APP's e áreas de rico.
Para avançar nesse processo de mudança e humanização da cidade é preciso compromisso público. Reconhecer que, se há uma política urbana de um Governo que terminou é preciso que o que sucede siga adiante. Os projetos técnicos e as leis aprovadas no período de 2013/2016 , são os instrumentos básicos necessários para a resolução gradual dos problemas. Isso não aconteceu. Esse planos certamente estão mofando nos almoxarifados.
Atualmente, com fenômenos naturais de grandes enchentes todos os anos, é necessário se decidir se queremos mudar ou continuar vendo a população sofrendo todos os anos. Essas enchentes, segundo os especialistas são causadas pela mudanças climáticas e tendem a se agravar a cada ano. Não é possível que exista alguém que queira viver todos os anos, as tragédias de ficar semanas com suas casas e comércios invadidos pelas águas.
Seu José da Cruz, morador do bairro da Praia me disse: "Na última enchente fiquei 10 dias dentro da minha casa com água na minha cintura, sem energia, com muita carapanã e sem água para o consumo. Fiquei nessa situação para não perder tudo que tinha em casa. Eu queria só um terreno que não alague, eu construia minha casinha e saia daquela situação". Será o que senhor José está querendo algo difícil e impossível? Vivemos na Amazônia, umas das regiões do planeta com a menor concentração de pessoas por km2, o que justifica o povo viver nessa situação? Resumo da resposta: falta de respeito e solidariedade humana.
Enquanto o povo padece na lama, a administração atual diz que vai construir uma Orla na margem do Rio pela valor de quase 18 milhões. Toda essa dinheirama daria para adquirir 1000 lotes de terras, urbanizar, dotar de infraestrutura de água, esgoto, energia e pavimentação. Resolveria mais da metade do problema, além de projetar uma cidade para o futuro. Qual o sentido e como será de construída essa orla na beira da praia de um rio em formação, que está em constante mudança do seu curso? Sera igual a obra que foi feita na rua Lauriete Borges que na primeira chuva desabou para dentro do Rio?
Como esse ano tem eleição para Prefeito e Vereadores a sociedade precisa ficar atenta para confrontar as propostas dos candidatos. Nao podemos ficar ouvindo promessas vazias feitas apenas para registar a candidatura na justiça eleitoral e enganar a população. Não podemos mais votar em candidatos que se quer tem coragem de ir ao debate público expor suas ideias e compromissos. A hora de mudar a infraestrutura urbana de Tarauacá é agora ou nunca.
Ainda acredito que as pessoas querem viver numa cidade melhor. Uma cidade urbanizada, com espaços públicos, infraestrutura, serviços, desenvolvimento econômico, social e cultural. É possível.
*Chagas Batista é ex-vereador e ex-prefeito de Tarauacá
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OPINIÃO