Não é segredo para ninguém que a Floresta Amazônica abriga uma diversidade gigante de espécies e nesse sentindo, é esperado que algumas delas possam ter aparências e comportamentos peculiares.
Não é segredo para ninguém que a Floresta Amazônica abriga uma diversidade gigante de espécies e nesse sentindo, é esperado que algumas delas possam ter aparências e comportamentos peculiares. E nesse caso vocês entenderiam sim, pois vou explicar cada uma delas.
Sapo-pipa
Pipa pipa é uma espécie de sapo aquático que ocorre na Amazônia e que muita gente sequer sabe da sua existência, apesar de serem amplamente distribuídos no bioma. Esses animais já chamam atenção logo de cara pelo formato do corpo, completamente achatado, com uma boca bem pequena e dedos finos que ajudam a pegar os alimentos. Não bastasse esse visual, as fêmeas desses anfíbios apresentam um comportamento, como podemos dizer, um pouco extremo.
Isso porque os ovos desse animal são mantidos sob a pele das costas (dorso) da fêmea até que os filhotes completem seu desenvolvimento e deixem o corpo da mãe já como pequenos sapinhos completamente formados. Essa é uma ótima forma de manter seus filhotes protegidos de predadores e garantir que eles se desenvolvam em segurança.
Uma fêmea de sapo-pipa com os ovos nas costas, onde ficam até completar seu desenvolvimento. Foto: Matthieu Berroneau
Lagarto-narigudo - O lagarto-narigudo ou papa-vento-narigudo (Anolis phyllorhinus) é uma espécie endêmica (ou seja, que só ocorre em um lugar) encontrada no Brasil no sul da Amazônia. É um lagarto arborícola e diurno que pode facilmente ser reconhecido por uma característica exótica: a presença de um apêndice nasal, também chamado de probóscide, na frente do focinho. Não à toa o nome lagarto-narigudo.
O "narigão", característica exclusiva dos machos da espécie, possivelmente está relacionado ao reconhecimento sexual, assim os indivíduos da mesma espécie identificam à primeira vista os machos das fêmeas.
Papa-vento-narigudo com o seu "nariz" utilizado para que as fêmeas possas identificar os machos. Foto: Christopher Borges
Mata-mata - Os mata-matas (espécie Chelus fimbriata) são quelônios amazônicos de água-doce com uma aparência realmente única. Tem uma cabeça triangular, achatada com muitos tubérculos e abas de pele, e um "chifre" no seu focinho alongado. A carapaça da mata-mata é de cor castanha ou preta. Uma espécie facilmente reconhecível com uma cabeça plana, triangular e olhos pequenos. Apresenta um longo nariz tubular que é utilizado para respirar sem que precise tirar a cabeça para for da água. O pescoço longo tem abas de pele que se parecem com folhas e a carapaça achatada tem saliências em forma de pirâmide.
Estas características permitir que esses animais se assemelhem a um pedaço de casca de árvore, camuflando-os de possíveis predadores. Outra característica peculiar nesses animais se refere ao seu comportamento alimentar, feito por sucção. O mata-mata se camufla na vegetação do fundo dos igarapés, até que um peixe chegue perto. Então, impulsiona sua cabeça para fora e abre sua enorme boca o máximo que puder, criando uma pressão que suga a presa para dentro da boca. Ao fechar a boca, a água é expelida lentamente, e o peixe é engolido inteiro.
O quelônio mata-mata que apresenta uma aparência única e perfeita para se camuflar na vegetação do fundo de igarapés na Amazônia. Foto: Jan Richtr
Urutau - O Urutau (Nyctibius griseus), também conhecido como mãe-da-lua é uma ave que na Amazônia é cercada de lendas e mitos. Há muita superstição em torno dessa ave e por isso algumas pessoas, por desconhecimento acabam por rejeitá-la com medo de mau agouro ou má sorte. Uma bobagem, pois quem conhece um pouco desses animais, sabe o quanto é uma sorte grande vê-los na natureza. Isso porque os urutaus são mestres na arte da camuflagem e apresentam um comportamento bem peculiar para se manter invisíveis aos predadores.
Além da coloração, que faz com que eles fiquem muito parecidos com os trocos das árvores, o urutau possui uma adaptação única em aves, chamada de "olho mágico". São duas fendas na pálpebra superior, as quais permitem que fique imóvel por longos períodos, observando os arredores, mesmo de olhos fechados. Se sim, eles têm a capacidade de enxergar com os olhos fechados. Não é incrível?
O Urutau ou mãe-da-lua pode passar horas imóvel para se camuflar e mesmo com os olhos fechados, enxergar o que está acontecendo a sua volta. Foto: Rafael Martos Martins
Amblipígios - Os últimos animais da nossa lista apresentam uma aparência bastante exótica, dignos inclusive de terem feito uma participação especial em um dos filmes da série Harry Potter! Os amblipígios, também conhecidos como aranhas-chicote, são muitas vezes confundidos com aranhas por pessoas leigas, porém não são aranhas apesar do nome. E apesar também da aparência assustadora para algumas pessoas, esses animais não apresentam qualquer ameaça para os seres humanos, visto que não possuem veneno e se comportam como predadores de insetos, outros aracnídeos e pequenos vertebrados.
Os amblipígios possuem o corpo achatado, grandes pedipalpos (que são o segundo par de apêndices articulados e móveis que ficam na parte da frente do corpo dos aracnídeos. Quem aí se lembra das aulas de Biologia?), providos de espinhos e o primeiro par de pernas extremamente alongado e com função sensitiva. Eles ocupam diversos ambientes, tais como florestas tropicais, ambientes áridos e cavernas.
O amblipígio ou aranha-chicote, que apresenta uma aparência não tão amigável, mas que é inofensivo para os seres humanos. Foto: César Favacho.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado de conhecer um pouco mais sobre alguns animais super peculiares que ocorrem na Amazônia. E lembrem-se que a melhor forma de comemorar o Dia da Amazônia é lutando para a conservação dela! Abraços de sucuri para vocês e até ao próximo texto com informações sobre a nossa exuberante fauna da amazônica!
Sobre a autora - Luciana Frazão é pesquisadora na Universidade de Coimbra (Portugal), onde atua em estudos relacionados as Reservas da Biosfera da UNESCO, doutora em Biodiversidade e Conservação (Universidade Federal do Amazonas) e mestre em zoologia (Universidade Federal do Pará).
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LUCIANA FRAZÃO - LUCA.FRAZAO@GMAIL.COM