"Eu não deveria estar aqui, deveria estar na escola, do outro lado do oceano", disse ainda, com a voz trêmula, ao ler seu discurso. "Mas os jovens estão começando a entender a traição de vocês".
Antes do apaixonado discurso da adolescente de 16 anos na cúpula convocada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, 66 países, 10 regiões, 102 cidades e dezenas de empresas se comprometeram a alcançar a neutralidade nas emissões de carbono em 2050, anunciou a organização. As nações que assumiram esse compromisso passaram a integrar a "Aliança de Ambição pelo Clima", segundo o secretário.
Vários países se comprometeram a plantar mais de 11 bilhões de árvores.
"Mas ainda temos um longo caminho a percorrer", acrescentou. "Precisamos de planos mais concretos, mais ambição de mais países e mais empresas" para alcançar a neutralidade de carbono para 2050 e limitar o aumento da temperatura média a +1,5ºC em relação ao século XIX.
A falta de anúncios significativos dos países mais contaminantes, como China e Índia, campeões de energia solar e eólica, mas que devoram carvão, condenaram a ambientalistas.
- Perdendo a corrida climática -
"Estamos perdendo a corrida da emergência climática, mas ainda podemos vencê-la", declarou Guterres diante dos líderes.
A cúpula deve revigorar as promessas do Acordo de Paris de 2015 e mostrar quem são os líderes que atuam no combate às mudanças climáticas, destacou o secretário-geral, que pediu "planos concretos e não apenas palavras".
De acordo com um balanço feito pela ONU, 59 países anunciaram sua intenção de fortalecer suas metas nacionais para combater as mudanças climáticas até 2020, e outros nove iniciaram processos internos para tornar suas metas mais ambiciosas.
Os países anunciaram seus objetivos nacionais no Acordo de Paris de 2015 e, agora, vão revisá-los para cima.
O objetivo coletivo é reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa em pelo menos 45% até 2030 e, assim, preparar-se para alcançar a neutralidade de carbono em meados do século.
A Aliança foi anunciada pelo presidente do Chile, Sebastián Piñera, em preparação para a COP25 a ser realizada em Santiago, em dezembro.
"Acabar com o carvão é uma prioridade", afirmou a ONU.
Um grupo que busca eliminar o uso de usinas a carvão agora se expandiu para cobrir 30 países, 22 estados, ou regiões, e 31 empresas que se comprometeram a não construir mais novas usinas até 2020 e fazer a transição para energias renováveis.
Laurence Tubiana, presidente da Fundação Europeia do Clima, disse à AFP que a cúpula representa "o momento da verdade", mas enfatizou "a tensão entre os países que querem avançar para transformar seus objetivos em políticas verdadeiras e aqueles que não o querem".
- Reunião sobre a Amazônia -
Antes da cúpula começar, o presidente da França, Emmanuel Macron, a chanceler alemã, Angela Merkel, o presidente colombiano, Ivan Duque, e seu colega chileno, Sebastian Piñera, se reuniram para discutir a situação na Amazônia.
O Brasil, que possui 60% da maior floresta tropical do planeta, tenta convencer o mundo de que está com a situação sob controle, depois que o forte desmatamento e a propagação de incêndios florestais causaram uma crise internacional em agosto.
Apesar desta questão ser o centro das discussões, o presidente Jair Bolsonaro não compareceu ao encontro, assim como o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, cujo governo persegue agressivamente uma agenda amiga do carvão.
"Há indícios de que o processo de 'savanização' já começou" em mais da metade da Amazônia, disse à AFP Carlos Nobre, um dos maiores especialistas em clima do mundo.
"Pode ser revertido? Acho que sim. Mas se o desmatamento continuar, se permanecer descontrolado, temos um enorme risco de perder a Amazônia. Será um suicídio", disse ainda Nobre, entrevistado pela AFP na ONU.
Durante a cúpula, que não contará com a presença do presidente Donald Trump - que retirou seu país do Acordo de Paris - os líderes também se encontrarão com jovens lideranças, incluindo Thunberg, criadora das Greves das Sextas-feiras, que se espalharam por todo o mundo.
O Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a ONG Conservação Internacional decidiram doar US$ 500 milhões adicionais para o reflorestamento da Amazônia e de outras florestas tropicais, anunciou a presidência francesa nesta segunda-feira.
Um primeiro anúncio formal deve ser feito durante a reunião sobre a Amazônia.