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A professora e pesquisadora da Unicamp Marilane Teixeira participou na noite dessa terça-feira (12) de um debate sobre a “reforma” da PrevidĂȘncia proposta pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL). Marilane Ă© especialista em relaçÔes de gĂȘnero no mundo do trabalho, e falou no encontro intitulado Os Impactos da Reforma da PrevidĂȘncia de Bolsonaro na Vida das Mulheres.
Em sua introdução, ela classificou o debate sobre as alteraçÔes no sistema da PrevidĂȘncia como “o mais importante atualmente na sociedade”. Para a pesquisadora, Ă© impossĂvel analisar a proposta do Executivo sem dar a atenção especial para a questĂŁo das mulheres, as mais prejudicadas, vĂtimas de uma “singularidade”. E Ă© este segmento que pode ter o protagonismo na luta contra a matĂ©ria.
Para isso, ressalta a pesquisadora, Ă© necessĂĄrio engajamento e informação, para repetir o feito visto durante o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB). A mobilização das trabalhadoras e dos trabalhadores foi capaz de barrar, no ano passado, a tramitação da PEC 287. “Agora, ela volta com força e piorada. A proposta do Bolsonaro Ă© infinitamente mais predatĂłria”, disse.
Para a pesquisadora, as justificativas dos dois projetos sĂŁo similares, bem como seus reais objetivos. “EquilĂbrio fiscal, controle de contas, segurança para investidores. Mas as motivaçÔes sĂŁo ideolĂłgicas, polĂticas. NĂŁo sĂŁo exatamente econĂŽmicas. Se fossem, atacariam do lado da arrecadação, e nĂŁo da despesa”, argumentou. Para Marilane, existem equĂvocos de arrecadação, em um sistema injusto, regressivo, que beneficia os mais ricos em detrimento dos mais pobres.
“Deveriam buscar o equilĂbrio, mas nĂŁo. Atacam o lado da despesa, que Ă© retirar direitos e desmontar um sistema construĂdo na Constituição de 1988, base da seguridade social (…) A PrevidĂȘncia no Brasil nĂŁo serve apenas para garantir um benefĂcio apĂłs 35 anos de contribuição em regime geral, mas tambĂ©m trata da proteção social – este Ă© o sentido do sistema – durante toda a vida laboral. Desde antes de vocĂȘ nascer inclusive, com a licença maternidade. EntĂŁo, a PrevidĂȘncia Ă© um sistema de segurança que nos protege ao longo de toda nossa vida”, completou.
Marilane argumenta que a real intenção da proposta do governo Bolsonaro Ă© privilegiar um jĂĄ soberano sistema financeiro no paĂs. “Abrir as portas para um regime de capitalização pelos bancos. As pessoas terĂŁo de fazer uma adesĂŁo individual e, ao invĂ©s do sistema solidĂĄrio de hoje, ela contribuiria para um sistema financiado por bancos, seguradoras, fundos”, disse. O projeto em si nĂŁo Ă© especĂfico sobre como via funcionar este sistema, ficando carente de regulamentação por lei complementar posterior Ă aprovação.
A PrevidĂȘncia Social e as mulheres
A situação das trabalhadoras foi apontada como especialmente prejudicada pela PEC 6/2019 pela natureza do prĂłprio mercado de trabalho. SĂŁo cerca de 8 milhĂ”es de mulheres que trabalham sem registro. Os dados foram fornecidos pela pesquisadora. “Ainda tem outro problema, que as mulheres recebem em torno de 75% do salĂĄrio dos homens. Isso faz com que se aposentem com um salĂĄrio mĂ©dio menor. A PrevidĂȘncia jĂĄ reproduz isso”, disse.
Com a “reforma”, que aumenta o tempo de contribuição das mulheres, o cenĂĄrio tende a piorar. “A maioria das trabalhadoras do Brasil se aposenta por idade, porque nĂŁo alcançam os 35 anos de contribuição”, apontou, ao lembrar da jornada tripla das mulheres, que envolve ainda a maternidade. “Aposentam hoje com 60 anos em mĂ©dia e trabalharam, em mĂ©dia, de 15 a 18 anos. No regime atual conseguem se aposentar, porque precisam comprovar 15 anos de contribuição (…) Com a reforma, tĂȘm que ter 62 anos e 20 anos de contribuição.”
No fim, explica a pesquisadora, mesmo se a idade mĂnima para a aposentadoria das mulheres for reduzida, como jĂĄ acenou o governo em demonstração de possĂvel recuo para negociar a tramitação da PEC, isso pouco vai importar. O problema estĂĄ no aumento do tempo de contribuição, devido Ă natureza do trabalho das mulheres. “Mesmo com 60 anos, ela nĂŁo vai conseguir alcançar 20 anos de contribuição”, avaliou. “Para conseguir sobreviver e ter o seu benefĂcio integral garantido, a mulher terĂĄ de contribuir por 40 anos. Se com 62 anos ela contribuiu 20, sĂł poderĂĄ se aposentar dignamente com 82”, sentenciou.
Por Gabriel Valery, na Rede Brasil Atual
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