ESTUDANTE TARAUACAENSE CONTA O DRAMA QUE VIVEU AO PERDER UMA FILHA E A LUTA PARA SE FORMAR EM PSICOLOGIA


Laura Estaynne Rocha, 26 anos, estudante tarauacaense que acaba de se formar em Psicologia pela UNINORTE, conta o drama que viveu ao perder uma filha que morreu afogada num balde d'água e ter que encarar a vida e os estudos enfrentando grandes adversidades.

O texto é forte e relata detalhes do sofrimento da jovem e sua vitória ao se tornar psicóloga.

Leia na íntegra. 

Aqui deixo um resumo do porquê da minha escolha... Quem sabe e acompanhou minha história entenderá. Não gosto de expor minha vida pessoal, porém, eu havia prometido.

No dia 29/08/2012 a minha vida foi marcada por um acontecimento que nunca mais me faria ser a mesma. Foi quando recebi a notícia enquanto estava em uma loja comprando umas coisas para minha filha mais nova (Nathália Lis) de que uma criança havia morrido afogada dentro de um balde.. Ao saber, lamentei e sofri pela aquela criança e pelos pais da mesma.. o que eu não sabia era que aquela notícia se tratava da minha "filha". Momentos depois me ligaram e falaram do ocorrido e sem acreditar, pois minha filha tinha uma babá que ficava o dia todo com os olhos voltados para ela, justamente porque eu tinha medo de perdê - la para seu pai.. com a notícia, sai correndo pelas ruas da minha cidade sem saber o que fazer e na minha cabeça só vinha dois pensamentos:
1: Isso não é verdade, a Francisca(babá) nunca faria isso comigo.. ela cuida muito bem da Lís.
2: Se eu for para casa não vejo ela e se eu for para o hospital vou demorar uma eternidade.. Foi quando olhei para o lado e vi uma escola aberta justamente no horário de (recreio), desesperada soltei minha bicicleta na calçada e corri feito louca até essa escola. Ao me deparar com o porteiro, agarrei na gola de sua blusa e disse a seguinte frase: "Mataram minha filha, minha filha ta na água, me ajuda". Comecei a delirar, falar coisa com coisa até que a frase "me leva para o hospital saiu". Indo para o hospital, foram os 5 minutos mais longos da minha vida pois eu não conseguia acreditar que aquilo era comigo, chegando no hospital e ao me deparar com uma multidão de curiosos eu me joguei da moto que até hoje sinto a dor da batida em meu joelho.
Saí aos gritos e na certeza de que não era ela, não era a minha princesinha que eu cuidei com tanto amor.. Lembro-me que passei por um corredor imenso aonde dos dois lados estava lotado por pessoas chorando e outras filmando.. Tudo que eu queria era encontrar a capela do hospital e me prostrar diante de qualquer imagem de Santo e suplicar pela minha filha. Foi quando uma voz triste chamou pelo meu nome e disse: é aqui! 
Naquele momento eu congelei mais no impulso de ver minha filha com vida eu entrei de uma vez e me deparei com a cena que nunca saiu da minha memória com a cena que vejo sempre que fecho os olhos.. Minha filha deitada de pernas abertas na maca do hospital, com seus cachinhos todos molhados, sua boquinha toda roxa e ao lado várias pessoas de jaleco. Corri para cima dela na certeza de que ao toca-la ela voltaria. Cai no chão com ela nos meus braços, chupei sua boquinha, seu nariz, sacudi e nada dela voltar, não satisfeita obriguei praticamente todos os médicos e enfermeiros a tentar trazê-la de volta.. quando percebi que nao tinha jeito tentei reanimar com aquele aparelho que não lembro o nome, só lembro da minha filha pulando na cama a toda vez que tentavam com esse aparelho trazê -la de volta.. Quando o médico olhou para mim e disse que não dava mais eu surtei, gritei, quebrei tudo, escalei nas paredes e portas pois tentaram me dopar.. Nesse segundo olhei para o céu e gritei por Deus, gritei com toda a força que tinha dentro de mim mais o céu tava parado, não ouvi a voz de Deus naquele momento. Hoje eu sei que se dependesse da fé ela teria voltado. Mas, já entendi que tinha que ser assim pois a missão dela acabava ali, naquela sala de hospital e que a missão dela na terra foi levar o Amor para mim e para todos os que tiveram a oportunidade de conhecê-la.

Após isso, meu mundo acabou, minha esperança e começou ali todos os sintomas de depressão e síndrome do pânico. Fui acolhida mais também fui julgada, cuspiram na minha cara sem ao menos olharem para o tamanho da minha dor.. Só esqueceram que eu era fênix que enxergava como águia.Toda vez que eu ia depor, eu ouvia tantas coisas sobre as suspeitas de não ter sido acidente e sim, assassinato.. Eu quis morrer, eu saia gritando pelas ruas até chegar ao cemitério e cantar para minha filha pois para mim nada tinha que mudar e sempre que chegasse a hora dela dormir eu teria que ta lá para cantar para ela. Quando não aguentei mais a dor eu me ajoelhei no chão do quarto do meu irmão e coloquei minhas mãos sobre uma faca e disse que ali chegaria tudo ao fim..Mas uma voz suave falou ao meu ouvido que nao, que ainda não tinha chegado ao fim, que eu tinha nascido para vencer e que era ele quem iria fazer justiça. Comecei a chorar e após horas de choro me levantei com a cara inchada, com vergonha e medo e logo comecei a ir para a igreja (fui pela dor). Após aquele momento, não seria mais eu mais sim, o Espírito santo a me guiar.

Meses depois fiz o vestibular e coloquei como opção direito e psicologia e orei para Deus me guiar pois eu não tinha paciência se quer de ler a prova mais tudo que eu queria era sair  daquela cidade, daquelas pessoas, daquela dor..Não suportava mais ser vista como a coitada, como a sofrida e na verdade era bem isso mesmo.

Então no dia 17/02/2013 sai de Tarauacá com o coração aos cacos por toda a situação e por deixar a minha outra filha (Lara) o que me acalmava era saber que eu dei o melhor pai para ela e se eu ficasse ali provavelmente eu iria morrer de tristeza e minha filha iria crescer com a certeza de que sua mãe não lutou.
Eu fazia duas faculdades, logo arrumei um trabalho no calçadão como vendedora de sapatos e comecei a ocupar a mente.. Mal sabia eu que a grande batalha seria isso... Morei três meses com minha amiga que também faleceu e logo aluguei um apartamento perto da faculdade. O bom de tudo era que eu tinha meu lugar e o ruim era que eu só tinha minhas roupas e o caderno de aula, Rsrs. Foi ai que eu soube o que era privação de verdade, passei três meses dormindo encima de uma coberta pois tudo que eu tinha lembrava minhas filhas então não quis.. Lembro-me e me orgulho de falar que na faculdade eu sempre mostrava tá bem mais quando chegava em casa jantava miojo cru por que não queria incomodar os vizinhos, no trabalho eu pegava meu vale almoço e juntava para comprar vasinhos na loja de 2,25 e por dias almoçava e tomava café biscoito recheado e quando a barriga já não aguentava eu tomava água... Mais sempre estava sorrindo e fazendo meus trabalhos.. até que com luta fui indicada para uma loteria da caixa econômica e com a rescisão comprei minhas coisas de casa, umas de segunda mão e outras novas e com o tempo fui me refazendo..
Escolher Psicologia foi a melhor escolha da minha vida, não ter desistido foi minha maior Vitória.
Por um bom tempo me fechei para relacionamentos e com o passar do tempo surgiu amigos (anjos) que sempre me ajudaram sem pedir nada em troca. Nesse tempo arrumei irmãs postiças, mãe e até pai.. Deus é mesmo maravilhoso...e sempre que passo por situações difíceis eu digo que é só fase e com cada uma dessas fases tento tirar o que é de melhor.. Sempre fui determinada e sempre que quero algo eu luto com dignidade para conseguir. Hoje eu só posso agradecer pois tudo isso foi necessário para que eu pudesse chegar até aqui. Sempre acreditei que os ventos contrários servem para nos colocar no lugar certo... Sei também e acredito que eu vim para essa terra para ser protagonista de tudo aquilo que eu me propor a fazer..
Sou grata a Deus pelo fôlego da vida e por ser o meu alicerce, por ser minha âncora e por me amar tanto. 
Agradeço as minhas duas filhas Lara e Lís.. Minha princesa da terra e meu anjo do céu. A Lara por pulsar em mim o desejo da vida e de buscar mais e mais por ela e a Lís por me proteger e iluminar lá de cima.. Hoje eu digo que a melhor coisa do mundo é ser mãe, não importa aonde seu filho está pois só em saber que ta bem e vivo já nos deixa feliz.
Minha gratidão vai para meus amigos, familiares, que me ajudaram de forma direta ou indireta.. Agradeço aos mestres da psicologia os quais só me passaram os melhores ensinamentos.

Prometo honrar meu curso, a minha profissão e prometo também melhorar cada vez mais tudo que aprendi durante esses cinco anos e que muito me orgulha. Me sinto preparada, me sinto realizada pois sei e acredito no meu potencial e que a ética, bondade, lealdade, gratidão, humildade e o amor pelo próximo esteja sempre comigo.

OBRIGADA DEUS, OBRIGADA PAPAI, OBRIGADA FILHAS.

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