As coletivas de imprensa na Superintendência da Polícia Federal no Acre nos últimos anos ficaram parecidas com coletivas em que cientistas discorrem sobre Objeto Voador Não Identificado (OVNI). Diferente de outras superintendências, no Acre a PF nunca revela os nomes das pessoas que prende ou leva para depor em suas operações. Distribui um press release e convida a imprensa para coletiva em que os delegados são fotografados e filmados, mas não dizem nada além do que já constava na nota.
O argumento pode ser “coloquem-se por apenas um segundo no papel de alguém que esteja somente sendo investigado, tem seu nome divulgado e depois se prova inocente”.A Polícia Federal, com a participação do Ministério Público Federal, Controladoria-Geral da União, Tribunal de Contas da União e Receita Federal, deflagrou nesta segunda-feira (30) a operação Buracos, com o objetivo de apurar desvios de recursos públicos estimados em R$ 700 milhões, no âmbito do Departamento de Estradas e Rodagens do Acre (Deracre) e Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) do Estado de Rondônia. Neste caso, nenhum nome foi revelado com o argumento de que ainda está em fase de investigação e que havia restrição judicial. Mas a PF distribuiu imagens de armas e de R$ 75 mil apreendidos durante a operação, também sem citar o nome ou nomes a que pertenciam.O mais transparente neste episódio foi o governador Tião Viana. Em nota, manifestou “a mais elevada confiança” e revelou os nomes de alguns dos alvos: “Marcus Alexandre, Gicélia, Ocírodo Júnior, Fernando Moutinho, Edson Alexandre e Joselito Nóbrega”, que fizeram parte do governo estadual.
Foram cumpridos 23 mandados de condução coercitiva e 26 de busca, nos municípios de Rio Branco (AC), Porto Velho (RO), Pimenta Bueno (RO), Ji-Paraná (RO), Cuiabá (MT) e Araraquara (SP). Mas a imprensa só teve acesso a três imagens de armas e dinheiro apreendidos no Acre.Além do que já constava no press release, os delegados da PF disseram que os suspeitos, em duas contas bancárias, movimentaram R$ 20 milhões, sendo R$ 10 milhões em cada.
Portanto, se a PF não pode revelar os nomes de todos os investigados, não faz sentido distribuir imagens de armas e dinheiro apreendidos sem mencionar os nomes dos supostos criminosos. Ou inocentes.
Altino Machado (Facebook)