TARAUACÁ: Accioly escreve cata aos Trabalhadores em Educação do Acre


Aos Trabalhadores em Educação do ACRE.

Companheiros da luta.

Quando decidi me candidatar a presidência do Sinteac, os Trabalhadores em Educação da Rede Estadual no Acre, estavam vivendo, talvez o momento de maior descontentamento com o nosso Sindicato e com o Governo. 

Uma greve pensada nos moldes de uma concepção sindical que, na minha modesta opinião, havia se esgotado e que levou nossa categoria ao maior vexame de sua história de luta.

De um lado, uma categoria de trabalhadores desmobilizados e dividida entre Sinteac, Sinplac e Movimento Acorda Educação e, de outro, o Governo (patrão) com seus negociadores devidamente preparados, apostando na divisão do movimento, para aplicar o “golpe final”. Não haveria ganho em 2013 e, se quisessem só em 2014. Foi esse o discurso do patrão.

A greve começou de forma equivocada e terminou de forma melancólica e humilhante com trabalhadores brigando entre si. 

Palmas para o governo que assistiu tudo de “camarote” e ainda dava carão nos seus sindicalistas. Aliás, uma greve frustrada e que a classe não apoiou em sua grande maioria.

Ouvi de um dos mais importantes assessores do Governo do Acre a seguinte frase: “Mesmo que se crie as condições não vamos atender nenhuma reivindicação em 2013, para não entregarmos ‘de mão beijada’, um troféu a quem não merece”. Se referia ao chamado Movimento Acorda Educação que, segundo ele, representava a oposição ao governo.

Em Tarauacá e Cruzeiro do Sul, os trabalhadores aderiram ao movimento e todas as escolas foram fechadas. Em Tarauacá Trabalhadores em Educação foram para as ruas da cidade com nariz de palhaço, apito na boca e cartazes na mão protestar contra o governo. 

Em Cruzeiro do Sul o presidente do Sinteac, que é da mesma força política do Coordenador Regional de Educação, levou os trabalhadores até a sede da representação da SEE e passou uma corrente no portão, travou o cadeado e levou a chave. Tarauacá e Juruá estavam em greve.

Em Rio Branco, a maioria das escolas estava funcionando normalmente, numa demonstração de descrétido aos líderes do sindicato. Quando marcavam uma assembléia, ao invés de mobilizarem os trabalhadores pelos meios de comunicação, que em tese, estariam em greve, os sindicalistas se dirigiam para as escolas. A categoria tava mesmo era trabalhando.

Os tumultos decorrentes da “pseudo greve” em Rio Branco, foram gerados pela desorganização, distanciamento da categoria, atrelamento ao governo e um modelo de sindicalismo de conciliação, que pensávamos estar superado. A greve foi um fracasso na capital, onde concentra a diretoria central do sindicato e a maioria dos trabalhadores em educação.

Nesse cenário complicado, havia também interesses de forças políticas em se projetarem para a eleição do sindicato, que se avizinhava. Todos com suas idéias e estratégia de como saírem da greve com capital político para concorrer a eleição. 

Surge então, a eleição marcada para o dia 29 de agosto, 20 dias depois do movimento fracassado da data-base e da greve. 

Presenciei uma das cenas mais hilárias desse processo de eleição. Uma assembléia foi marcada para escolha da comissão eleitoral, responsável pela condução da eleição em Rio Branco e nos demais municípios do estado. O que mais me chamou a atenção, num auditório lotado, em completa escuridão, um calor insuportável, foi o fato das possíveis chapas ainda não inscritas (naquele dia havia 7 pré-candidatos), indicarem candidatos a “juízes da eleição”, que passariam por um processo de eleição na assembléia. 

A disputa favorecia aqueles que havia mobilizado mais gente para eleger os juízes de sua confiança. Quase não acreditei que em pleno ano de 2013, candidatos indicarem os membros da comissão eleitoral. Mas, foi exatamente assim. As chapas derrotadas, reclamarem e ainda reclamam de que houve uma possível armação já naquela assembléia. Não deu outra. A chapa da candidata do governo indicou a maioria dos membros da comissão eleitoral. A primeira vitória já estava consolidada.

Saí de Tarauacá com minha história na luta popular, minhas idéias para administrar o sindicato e fui até Rio Branco para apresentar meu nome como um dos possíveis candidatos e buscar apoio para minha campanha e composição de uma chapa. Tive um primeiro contato com os companheiros da CTB – Central dos Trabalhadores do Brasil, que é composta de sindicalistas classistas e, que grande parte abraçou minha candidatura.

Fui aos poucos encontrando antigos amigos da luta e os tarauacaenses que trabalhavam na educação e residiam em Rio Branco. Montamos uma chapa e registramos. Quando começou a surgir o meu nome no cenário da eleição, quase ninguém deu atenção em Rio Branco. Os que me conheciam se animaram, contribuíram com a campanha, foram para as escolas e levaram nosso material (em preto e branco) com uma carta de apresentação para que os companheiros pelo menos pudessem ler.

Quase fechamos uma aliança com o Movimento Acorda Educação para formarmos um grande bloco de pessoas e propostas para reorganizar nossa entidade sem o atrelamento partidário e governamental. A aliança não se confirmou e cada um seguiu para seu lado.

No último dia de prazo inscrevemos nossa chapa que levava o slogan “Acorda Sinteac” com o nome do companheiro Valdenísio do município de Cruzeiro do Sul como vice. 

Pela ordem de inscrição nossa chapa a sexta a se inscrever e recebeu o número 6. Agora já era oficial. 6 chapas na disputa. Nossa campanha foi simples, objetiva e animada. Visitamos diversos municípios, escolas e distribuímos nosso material. 

Sabíamos do nosso potencial na região de Tarauacá, Juruá e precisávamos intensificar em Rio Branco. Precisávamos que os companheiros conhecessem nossa história. Tínhamos consciência que nosso principal adversário era a chapa oficial do governo, que iria usar a máquina do estado e da prefeitura de Rio Branco para nos derrotar e continuar a “influenciar” as ações do sindicato. Entretanto, não esperávamos esse desespero por parte da “tropa de elite” do governo que, descaradamente optou por se apoderar das instâncias do poder para agir de forma desonesta num processo eleitoral de um sindicato. Usar um cargo para influenciar a decisão de um eleitor é uma atitude inerente a quem não tem caráter. Isso aconteceu na capital e nos municípios do interior.

O resultado da eleição não nos surpreendeu, pois sabíamos da estratégia antidemocrática e ditatorial dos membros do governo em eleger uma candidatura a qualquer custo. 

A grande surpresa para alguns foi a nossa votação. Um cara vindo do interior, com história de luta na mochila, idéias revolucionárias na cabeça e discurso firme contra o atrelamento dos sindicatos aos governos, surpreende a todos e balança as estruturas do poder estatal conservador e viciado em usar a máquina pública para derrotar aqueles que ousam contrariar seus interesses. 

Outro fato que chamou a atenção de muita gente foi a minha votação em Tarauacá, que atingiu 92% do eleitorado. Muitos jornalistas queriam saber como se explicava uma votação tão expressiva dessa. Resposta simples: Em Tarauacá todos conhecem minha luta e minha conduta.

As possíveis fraudes nas eleições, já relatadas pelos sindicalistas e divulgadas na imprensa local, devem ser apuradas pela justiça sim.

A candidata “vencedora” perdeu eleição em Rio Branco, Cruzeiro do Sul e em Tarauacá, mas garantiu seus votos em verdadeiros “currais eleitorais” através do uso da máquina pública. 

Nada contra a pessoa da professora Rosana, que foi “eleita” com apenas 28% dos votos da nossa categoria. Como sindicalista, mulher e trabalhadora em educação, merece respeito. 

Acho que temos que continuar o debate sério, propositivo e classista, de reorganização de todo o movimento sindical, comunitário e de outras frentes no Estado do Acre. 

Coloco-me à disposição dos companheiros que pensam como eu, para contribuir nesse processo necessário e de mudança de concepção de sindicalismo.

Um agradecimento especial aos companheiros e companheiras de todo o estado que contribuíram na nossa campanha e aos 1617 guerreiros e guerreiras que apostaram na mudança, ajudaram na campanha e votaram na nossa chapa. 

Abraço forte à todos vocês.

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