Lula virá ao Acre. Ainda não se sabe bem fazer o quê, mas já se imagina como será: empolgação total dos petistas tentando reviver uma espécie de aurora saudosista e lutando lunaticamente para reinventar a fotografia dos tempos de glória. Tempo em que o PT pairava acima do bem e do mal, nas terras de Galvêz.
É a primeira vez que o ex-presidente vem ao Acre desde que deixou o cargo. Ele virá com a esfarrapada desculpa de inaugurar um laboratório de alevinagem em um complexo de psicultura, daqueles projetos que são lindos no papel, mas com pouco valor real.
A vinda dele é tão inexplicável quanto a ojeriza que a atual presidente tem para com este Estado. Ela manda chefe de gabinete, ministro, e-mail, carta e até sinal de fumaça, mas recusa-se a mostrar a cara para os acreanos.
Pisar em solo acreano não é para Dilma. A vinda de Lula, ao invés da Dilma, é como se no jogo da Seleção mandassem o Pelé para comentar, e não o Neymar para fazer gol. Lindo para a foto, mas de pouca utilidade, na prática.
Sabemos que a vinda sem sentido e importância do ex-presidente não contrabalanceará o desprezo que a atual presidente tem para com os acreanos, mas servirá para ilustrar as fotos, massagear o ego dos petistas nortistas, abandonados nos confins da Amazônia, a fim de que revivam o sonho da hegemonia partidária e, quem sabe, até para dar uma dançadinha ao som do vermelho que tanto já empolgou os petistas em seus sonhos de quimera.
Lula é antigo amigo dos ‘capas pretas’ do PT no Acre e não é a primeira vez que vem ao Estado, mas é a primeira vez que ele aterrizará em solo acreano com a difícil missão de ressuscitar a paixão petista no coraçãozinho do povo acreano.
A vinda sem sentido do ex-presidente, que nem de longe se parece com o barbudo, forte e convicto líder sindical que aportou no Acre na década de 80, representa o atual momento do PT: de vazio e busca por significados ocultos em líderes carismáticos. Lula e o PT do Acre não são mais os mesmos.
O Lula de hoje é um homem mais sofisticado. Com sua barba aparada e seus ternos Armani, o Lula atual é bem mais dado a concessões nunca antes imaginadas, e disposto a tudo para governar a seu modo. O longo processo do Mensalão diz muito sobre as mudanças implícitas no velho metalúrgico.
Mesmo não sendo citado como réu na Ação Penal 470, as nove digitais do ex-presidente impregnaram todo o processo. O PT do Acre também não é mais o mesmo.
Ao chegar ao governo, o Partido dos Trabalhadores provou ser mais elitista do que todas as elites juntas. Os meninos do PT envelheceram, trocaram o Fusca do Nílson Mourão por inúmeros Corolas, que pagam com suas ricas nomeações, e esqueceram de vez o que quer dizer alternância de poder.
A inevitável crise de identidade chegou para o PT do Acre. Eles mudaram muito, mas ainda tentam usar velhas fórmulas para seduzir o povo acreano com figurinhas repetidas como o Lula. Vamos ver no que vai dar. Até sei no que vai dar o laboratório de alevinagem, mas preciso descobrir no que vai dar essa foto de amanhã e aonde ela irá parar.
Escrito por Gina Menezes