É mais fácil enganar o povo do que educá-lo


Na última quarta feira tive a infelicidade de assistir a sessão parlamentar da Câmara de Vereadores de Tarauacá. Digo infelicidade e posso explicar. 

Atuo no movimento social em Tarauacá já faz um bom tempo e continuo convicto de que é necessário organizar o povo em todos os seus espaços de atuação. É uma atividade que precisa de muita disposição. 

É preciso compreensão de como a sociedade se movimenta, como é a “engrenagem” do sistema político e econômico em que vivemos, ter boa elaboração e conhecer a cultura de cada população. Ainda estamos longe disso.

Em Tarauacá, o movimento social é forte e as organizações populares atuam no sentido de lutarem para que os direitos das pessoas sejam respeitados por quem comanda o poder político e econômico da cidade. Todos sabemos que é mais fácil enganar o povo do que educá-lo. Parece discurso velho  e ultrapassado, mas, o povo unido é mais difícil de ser vencido.


O movimento social educa o povo e esse é o medo das elites e de seus representantes que o exploram

Temos em nossa cidade alguns sindicatos de trabalhadores (servidores públicos, agricultores, taxistas,...) associações de moradores, pastorais, grupos de juventude, núcleos de indígenas, colônia de pescadores e outras organizações populares.

Temos em nossa cidade algumas lideranças populares incluindo aí jovens, freiras, padres, pastores, sindicalistas, líderes comunitários, indígenas e outros que dedicam parte de seu tempo e de sua vida à sua comunidade.

O que seria de Tarauacá sem essas organizações se mesmo elas existindo o povo ainda sofre com tantas mazelas?

Corrupção, enriquecimento ilícito com dinheiro público, injustiça, miséria, abandono, fome, falta de trabalho, baixos salários, jovens se marginalizando, crianças em situação de riscos, idosos infelizes, postos de saúde abarrotados de gente para consultar um médico, abrigo de menores lotados, penitenciária cheia de jovens pobres, menores se prostituindo, tráfico e consumo de drogas aumentando, cidade sem rede de esgoto e uma minoria com tudo e uma maioria com nada.

Quem é que produz a riqueza de Tarauacá? São os patrões ou são os trabalhadores?

Quem planta o milho, a melancia, o feijão, o arroz, a mandioca? 

Quem é que pesca o peixe que a gente come, cuida do gado nas fazendas e tira o leite da vaca todas as manhãs?

Quem é produz tapioca, buriti, rapadura, manzape, cheiro verde, cebola de palha, couve, pepino, farinha...?

Quem é que atende no hospital, no posto de saúde e na maternidade?

Quem é que diariamente cuida e ensina as crianças, os jovens e os adultos na sala de aula de alguma escola pública?

Quem é que passa noites e dias correndo risco de vida para que a gente tenha um pouco de segurança?

Quem é que junta o nosso lixo, limpa nossa valas, varre ruas, constrói estradas, pontes, ramais, prédios, residências...?

Quem é que transposta nosso povo e nossas mercadorias?

Quem é que paga o salário do patrão e seu luxuoso patrimônio?

Quem é que paga o salário do prefeito, do juiz, do promotor e do vereador?

Resposta: É o povo trabalhador.

Portanto, esse povo precisa se organizar para se conscientizar disso tudo e lutar para que a riqueza por ele produzida seja investida em seu benefício. E são os bravos homens e mulheres do movimento social que com acertos e erros cumprem esse papel perante a sociedade. Então, merecem respeito.

É muito comum em Tarauacá se ouvir da boca de representantes das elites ou de políticos inescrupulosos que todo sindicalista é vagabundo, não trabalha e está a serviço de alguma força política.  Falo isso com conhecimento de causa.

O que eu ouvi de alguns vereadores na última quarta feira no microfone da Câmara de Vereadores não me surpreendeu, porém, me entristeceu.

Foram ataques frontais com adjetivos impublicáveis aos sindicalistas do movimento dos trabalhadores rurais (aqueles que produzem a riqueza) que um dia antes haviam realizado um ato público em frente à Câmara de Vereadores.

Alguns vereadores não gostaram do que foi dito pelos líderes do movimento e se sentiram ofendidos moralmente. 

Acho que eles têm todo o direito de discordar do que foi dito pelos sindicalistas. Também acho que na qualidade de homens públicos poderiam ter tratado do assunto com mais serenidade.

Homens públicos que são eleitos pelo povo, recebem bons salários pagos pelo povo e que se reúnem duas vezes por semana para exercer a nobre função de representante do povo.

Lamentável a atitude daqueles parlamentares que ao invés de gestos de grandeza, preferiram atacar os legítimos representantes da classe trabalhadora.

Fica aqui o meu reconhecimento ao Marlindo, à Inês, ao Sidenir, ao Fernando e a todos os que lutam em Tarauacá pelos direitos dos trabalhadores.

Registro aqui o meu repúdio aos vereadores que trataram o assunto daquela maneira.

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