Binho: “a Globo olha o Acre com preconceito”

Binho-Globo

O governador Binho Marques (PT) conversou, ontem, durante uma hora por telefone com A GAZETA. Na entrevista, o governador acreano criticou com veemência números sobre o desenvolvimento social no Estado apresentados pela Rede Globo. Ele se mostrou preocupado com a série de crimes que vem acontecendo em Rio Branco e falou das medidas que tem adotado para mudar o quadro da violência. Binho também negou que o seu Governo tenha atrapalhado a Álcool Verde de entrar em funcionamento. “Eles sempre tiveram licença para funcio-nar, mas resolveram cumprir à risca as recomendações do Ministério Público”, garantiu.
Binho Marques se disse indignado com os números que a Rede Globo apresentou, na semana passada, sobre os indicadores sociais do Acre. “Não pretendemos entrar com medidas judiciais contra a emissora. Nós vamos mandar uma carta à direção da Globo corrigindo os dados. O olhar de preconceito com o Acre tem que ser mudado. E isso só se resolve despertando a sensibilidade dos responsáveis pelas informações. Eles têm preconceito com o Norte e o Nordeste por causa das diferenças culturais e ambientais e acabam fazendo chacota com a nossa realidade. Não sei de onde tiraram esses números”, argumentou.
O governador acreano explicou os erros de interpretações dos números do IBGE. “O Brasil é um país muito grande e nós só temos censo de 10 em 10 anos. Os mais recentes indicadores ainda são do ano 2000. Mas o IBGE faz projeções baseada nas tendências do período pesquisado. Antes do ano 2000 as transformações sociais aconteciam de maneira lenta no Acre. A Globo vem e pega essas projeções que não condizem com a nossa realidade”, salientou.
O dado que mais revoltou o governador foi relativo à mortalidade infantil no Estado. “Eles pegaram informações baseadas em estimativas de 29,7% mortes de crianças em 1000. Segundo o Ministério da Saúde, a nossa mortalidade infantil é de 18% em 1000. Em 98, era de 44% para 1000. Portanto, houve uma queda acentuada nos mais recentes anos. É muito triste a gente fazer mudanças importantes no Acre que não são reconhecidas e ainda ficam de preconceito”, desabafou.
Indagado se houve motivação eleitoral na apresentação dos números referente ao fato do Estado ser governado pelo PT há 12 anos e a candidata presidencial, Dilma, do partido estar disparada nas pesquisas, Binho, respondeu: “não descarto essa possibilidade. Mas as pessoas nos olham de maneira errada. Quem está em São Paulo, Minas, Rio de Janeiro pode pensar que o Acre é no máximo exótico. Como os jovens de classe média que questionam de maneira irônica na internet se o Acre existe”, destacou.
Binho garante que os governos do PT investiram muito para mudar o quadro da mortalidade infantil no Acre. “Desde o governo do Jorge Viana (PT) investimos nas parteiras tradicionais através de orientações e fornecimento de equipamentos adequados. Criamos comitês de mortalidade infantil para orientar as mães e mostrar a importância do aleitamento materno. Fizemos bancos de leite e investimos numa grande maternidade na Capital. Em Cruzeiro do Sul, a unidade está em reforma, mas atualmente funciona em outro prédio com muito mais qualidade. Demos orientações neo-natal e criamos UTIs infantis. Estamos fazendo um serviço de qualidade para a mãe e o bebê. Estamos realizando de seis a sete  atendimentos pré-natais das grávidas, inclusive, no alto dos nossos rios”, revelou.
Analfabetismo e educação
Apesar das críticas, Binho Marques admitiu que em relação aos números referentes ao analfabetismo a Globo errou para menos. “Temos que ser justos. Eles deram números de analfabetos menores do que temos. Atualmente são 13,8% de analfabetos adultos no Acre. Mas isso não é para se envergonhar porque antes nós tínhamos 23,8%, portanto, tivemos uma queda de 48%. Combater o analfabetismo é uma coisa difícil porque as pessoas têm que querer. Não é todo mundo que chegou a idade adulta sem saber ler e escrever que está disposto a reverter à situação. É uma questão cultural. Alguns até começam a estudar, mas não agüentam o ritmo”, justificou.
Com tantas dificuldades, o governador considera uma vitória os índices alcançados. “Fizemos um bom trabalho nessa questão. Conseguimos fechar a torneira do analfabetismo e não vamos ter mais números crescentes. Os números cresciam por causa do rescaldo do passado. Admito que os nossos números são ainda significativos, mas estamos melhores do que qualquer estado do Nordeste”, ponderou.
Binho considera uma contradição o braço assistencial da Globo, a Fundação Roberto Marinho, estar fazendo tantas parcerias com o Acre e a emissora só divulgando números negativos. “Se eles consultassem a Fundação Roberto Marinho saberiam que a nossa educação era a última do país e, agora, está entre as dez melhores. No ensino médio, estamos entre as cinco. Reformamos as escolas do Estado e melhoramos muito os salários dos professores. Levamos o ensino médio às comunidades mais isoladas através do ProAcre e da Asas da Florestânia. Estamos, em parceria com a Fundação Roberto Marinho, levando a pré-escola a todos os lugares da floresta e criando um base educacional às nossas crianças”, revelou.
Onda de criminalidade
Preocupado com os homicídios que aconteceram recentemente, Binho Marques, garante que não há falta de investimento na Segurança Pública. “Foi uma das áreas ao qual mais me dediquei. Melhoramos e ampliamos o prédio da Secretaria para termos espaço para trabalharmos com a inteligência e as novas tecnologias de informação. Através do SIGO, que foi testado no Carnaval, temos o cruzamento das informações completas dos criminosos e fizemos várias prisões. Temos todas as informações no mesmo lugar”, explicou.
Segundo Binho Marques, os resultados dos investimentos em Segurança Pública demoram a aparecer. “O Jorge Viana teve que acabar com o crime organizado dentro da polícia. Andava de carro blindado e teve que mandar as filhas para estudarem fora do Acre. Hoje nós temos uma polícia limpa. Tivemos um crescimento econômico e crescimento traz problemas. Temos uma área de fronteiras abertas pelas suas dimensões. Com a mudança do quadro na Colômbia, atualmente os nossos vizinhos Peru e Bolívia são os maiores produtores de droga do mundo. Por isso, a droga no Acre é muito barata. Mas contratamos de uma vez só 600 policiais com todos os equipamentos para combater o crime. O problema da criminalidade é mundial. Se não tivéssemos feitos todos esses investimentos estaríamos vivendo uma barbárie”, revelou.
Outra questão preocupante para o governador é a postura da Justiça. “Pretendemos fazer uma visita à Comissão Nacional de Justiça para mostrar que a situação de carceragem no Acre é diferente dos outros estados. Inclusive, vamos entregar, em breve, a penitenciária de Senador Guiomard para 800 detentos. A gente prende e a Justiça solta. Para se ter uma idéia entre os dias 1º e 24 de agosto prendemos 108 pessoas. No mesmo período foram soltos 170 perigosos presidiários. A CNJ não pode flexibilizar a prisão das pessoas porque se torna um problema”, resumiu.
“A Álcool Verde sempre teve licença para funcionar”
Outra acusação feita ao seu Governo que Binho esclareceu foi em relação à entrada em funcionamento da Usina Ál-cool Verde. “Essa Usina será uma referência para o Brasil em termos ambientais. Nós nunca atrapalhamos a operação da empresa. O Ministério Público que recomendou uma série de medidas que os proprietários resolveram adotar atrasando a sua entrada em funcionamento. Desde a colheita da cana, passando pela destinação do vinhoto à preservação dos hieróglifos da região. Mas eles sempre tiveram a licença para operar”, garantiu.
Binho, na realidade, comemora as operações da Álcool Verde. “Os empresários do Grupo Farias estão animados com a perspectiva da criação de uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE). Já estão pensando em produzir o açúcar gramichó para exportação e teremos uma redução significativa do preço do álcool nas bombas dos postos de combustíveis e entramos numa nova fase de geração de empregos. Veja que nessa região tem as fábricas de camisinhas e de pisos e a o abatedouro de aves em Brasiléia. Lá já são abatidas 12 mil aves por dia com a participação de 130 pequenos produtores. Por outro lado, conseguimos triplicar a nossa produção de grãos. Depois a oposição ainda afirma que o Acre não gera alimentos”, finalizou. 

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