Ataque de cigarras na BR-364


Estão se tornando cada vez mais freqüentes na Amazônia os impactos ambientais provocados pelos grandes empreendimentos de infra-estrutura, causando, não raras vezes, desequilíbrio das espécies.
No último final de semana, estivemos viajando no trecho entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul. Na volta da viagem, ao sair de Feijó - em mais de dez quilômetros - em direção a Manuel Urbano, fomos surpreendidos por um fenômeno que mais parecia uma chuva de cigarra, que voavam e batiam no vidro do carro. Confesso que ficamos impressionados. As cigarras caiam na pista aos milhares, mortas, e outras vivas, voando sem parar. Uma verdadeira peste! A imagem nos lembrou de uma passagem bíblica bem conhecida envolvendo gafanhotos.
No decorrer dos anos, verificamos que diferentes insetos têm assumido o posto de pragas-chave, aumentando os danos às culturas. Construção de estradas e a diminuição dos predadores naturais, como sapos, cobras, lagartos, dentre outros - além do desmatamento para pastagens, cultivos sucessivos da mesma cultura, uso indiscriminado de agrotóxicos -podem ser os principais fatores para o aumento de insetos-praga, como a que vimos na estrada.
As cigarras também são reconhecidas pela forma característica e pelo tamanho grande, que varia cerca de 15 milímetros até pouco mais de 65 milímetros de comprimento e atingindo até 10 cm de envergadura. Possuem um "bico" comprido para se alimentar da seiva de árvores e plantas onde normalmente vivem.
A importância da cigarra no ecossistema é positiva, por um lado, por servir de alimento para os predadores e, negativa, por outro, porque constitui-se em pragas de algumas culturas. As suas ninfas vivem alimentando-se da seiva das raízes das plantas, causando sensíveis prejuízos pela quantidade de líquidos vitais que retiram e pelos ferimentos causados às raízes, facilitando a penetração de fungos e bactérias.
Muitas espécies de cigarra têm períodos diferentes de amadurecimento, com ciclos vitais de duração variada, enquanto as larvas ficam sob a terra. Mas sete espécies do gênero Magicicada têm uma característica adicional: elas são sincronizadas, ou seja, saem do chão todas ao mesmo tempo, para cerca de duas semanas de canto ensurdecedor, acasalamento e postura de ovos.
O que está ocorrendo, nem precisa ser biólogo para entender. O fato é que a diminuição dos habitats tem provocando situações como a que vivenciamos na prática - e que mais parecia uma chuva de cigarras. E como tinha cigarra naquele lugar!
Conforme dizem os especialistas, com o aumento da importância do Agronegócio para o Brasil e da necessidade do aumento da produção agrícola, novas fronteiras e tecnologias têm sido exploradas, propiciando assim condições climáticas favoráveis para surgimento de novas pragas.
Não estou afirmando que essas cigarras que apareceram na estrada tenham essa mesma causa, citadas anteriormente, porém, temos que refletir e avaliarmos profundamente as causas e os efeitos que esses insetos produzem para a natureza. Devemos e temos o direito de pedir explicações a todos sobre que decisões estão sendo tomadas para evitar o pior, preservando-se assim o equilíbrio de nosso meio ambiente, tão rico e diversificado.
Jose Pereira Passos é  tecnólogo em estradas e topografia  

1 Comentários

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  1. Muito interessante ver essa matéria. A semana passada, mais precisamente sexta-feira, fui de Brasiléia a Assis Brasil pela BR 317. Tive a oportunidade também de ver algo inédito pra mim nesses três anos que ando, pelo menos duas vezes ao mês, de Brasiléia para Rio Branco e vice-versa: uma chuva de cigarras!

    Durante aproximadamente uns dez quilômetros elas batiam no pára-brisa do carro. O que também me fez refletir sobre aquela ocorrência.
    Jean Freire

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