Presidente do Mohan, Elson Dias
O Brasil tem o maior índice de casos de hanseníase do mundo, segundo relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS). Só no Acre, no ano passado, foram registrados mais de 200 novos portadores da doença, uma das mais antigas enfermidades do mundo.
Nesta semana, uma equipe do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Mohan) faz um levantamento de novos pacientes em Xapuri, onde existe um aumento no número de ocorrências.
O presidente do Mohan, Elson Dias, explicou que a doença ocorre em locais onde há maior concentração de pobreza e o sistema de saneamento básico precário. “Tem relação direta entre as condições de higiene do local e o aumento das pessoas com hanseníase”, acrescentou.
De acordo com a OMS, a meta que deveria ser atingida em 2005 era de menos de um caso para cada dez mil habitantes. Mas os dados de 2009 mostram que nenhum estado brasileiro atingiu o índice. No ano passado, mais de 36 mil pessoas ficaram doentes, e a taxa de detecção ficou em 19,18% para cada cem mil habitantes. O país registrou taxa de prevalência de 2,19% para cada dez mil habitantes, taxa maior que em 2008, quando número era 2,06%.
Conforme informações do Ministério da Saúde, o número de casos vem caindo. Foram registrados 57.941 em 2003, 29% a mais que em 2009. Mesmo assim, os dados atuais assustam.
Histórico
O site Dermatologia diz que a hanseníase é uma doença infecciosa, de evolução crônica causada pelo Mycobacterium leprae, microorganismo que acomete principalmente a pele e os nervos das extremidades do corpo.
A transmissão é feita de indivíduo para indivíduo, por germes eliminados por gotículas da fala e que são inalados por outras pessoas penetrando o organismo pela mucosa do nariz. Outra possibilidade é o contato direto com a pele através de feridas de doentes.
No entanto, é necessário um contato íntimo e prolongado para a contaminação, como a convivência de familiares na mesma residência. Daí a importância do exame dos familiares do doente de hanseníase.
Sofrimento
Os portadores de hanseníase ainda sofrem preconceito. Marilza Macedo tinha seis meses quando o pai foi levado à Colônia Souza Araújo, local para aonde eram transferidas pessoas com hanseníase na década de 1980. Foi adotada por uma família que a criou até os nove anos. Sozinha, teve que trabalhar ainda criança como empregada doméstica, recebendo pratos de comida como pagamento. “Só sonhava em rever meu pai.
Imaginava o dia em que podia receber e dar um abraço cheio de carinho e amor”, desabafou. Hoje com 34 anos, Marilza só realizou o seu maior sonho em 2002. Ela contou orgulhosa que não há bem maior na vida de uma pessoa que a família. “Faltam os pedaços do corpo dele, mas o importante é que ele está com a gente”, disse. (Gilberto Lobo)