Escrito por Flaviano Schneider, de Lima, Peru
Presidentes se reuniram em Lima, na sexta-feira, durante o seminário ‘Interoceânica: uma nova ligação entre Brasil e Peru”, para anunciar investimentos conjuntos na malha viária que liga o Acre ao litoral do Pacífico.
Lula falou sobre a aproximação do Brasil com o Peru
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente do Peru, Alan García Perez, anunciaram nesta sexta-feira, em Lima, capital do Peru, a construção de rodovia asfaltada entre Cruzeiro do Sul e Pucallpa, capital do Departamento de Ucayaly, que vai ligar a região do Juruá ao porto de Chimbote, no Oceano Pacífico, um dos mais importantes do país vizinho. A rodovia terá aproximadamente 210 km, dos quais 120 km em território brasileiro. De Cruzeiro do Sul até Chimbote, que em território peruano é denominada de Interoceânica (IRSA) Central, são 1.020 km e representam a menor distância entre o Acre e o litoral peruano bem menos que a Interoceânica Norte que ligará o litoral norte peruano a Manaus e a Interoceânica Sul que ligará Rio Branco ao litoral sul peruano.
Alan García elogiou a forma como o Brasil enfrentou a crise
O anúncio ocorreu no encerramento do seminário ‘Interoceânica: uma nova ligação entre Brasil e Peru’ que reuniu empresários e autoridades dos dois países, dentre eles uma delegação de 129 acreanos, composta por 22 deputados estaduais, dois deputados federais, cinco prefeitos, vereadores e empresários, a maioria de Cruzeiro do Sul. Na mesma solenidade, aconteceu a assinatura de criação do Conselho Empresarial Brasil/Peru que tem como presidente do capítulo brasileiro o empresário paulista Paulo Skaf e presidente do capítulo peruano o empresário Mario Brescia.
O presidente Alan Garcia depois de elogiar a forma como o Brasil e o Peru enfrentaram a crise financeira internacional fez um apaixonado discurso pela integração econômica, cultural e até “dos espíritos” entre os dois países. Como exemplo desta necessidade, ele disse que as águas que escorrem da cordilheira dos Andes para a planície amazônica poderiam, represadas, produzir anualmente 90 mil megawatts de energia elétrica, representando assim que está sendo desperdiçada no Peru toda a energia que o Brasil consome durante um ano.
O presidente Lula, lembrando a informação de que nos últimos oito anos Brasil e Peru fizeram mais reuniões que nos 180 anos passados, lamentou os quase dois séculos de distanciamento e cegueira em que “nem o Peru enxergava o Brasil nem o Brasil enxergava o Peru”, exemplificando, como fato mais concreto dessa situação, que a primeira ponte entre o Brasil e o Peru começou a ser construída cinco anos atrás. Para o presidente, a cegueira aconteceu no setor empresarial, político, com os militares e com os sindicalistas. Lula contou que foi um sindicalista importante no Brasil e viajava pelo menos três vezes por ano aos países europeus, aos Estados Unidos, ao Canadá, e nunca veio ao Peru, nem foi à Argentina, nem ao Paraguai, nem à Colômbia. Segundo ele, isso aconteceu porque se acreditou durante muitas décadas que “alguém que estava muito longe e que era muito rico é quem poderia vir salvar nossa economia e vir dizer e fazer nossa lição de casa, que nós mesmos poderíamos fazer”. Para Lula “era a predominância do complexo de inferioridade nossa em relação aos ricos e era o complexo da desconfiança entre os povos do nosso continente”.
O presidente Lula arrancou gargalhadas da plateia que o ouvia atentamente ao comparar a aproximação dos países ao início de um namoro. “O amor nem sempre se dá à primeira vista. Às vezes as pessoas se olham e falam: ‘Não faz o meu gênero, não é o meu tipo’, mas depois de alguns encontros, aí as pessoas se descobrem. Eu acho que o Brasil e o Peru se descobriram. Acho que pintou um clima entre Brasil e Peru.”