UM CABIDE DE DORES E DE ESPERANÇAS

Os sociólogos estão em busca de uma resposta. Os políticos correm para aplaudir o Cabide e se livrar da comparação. Nenhum deles quer ser o anti-Cabide. Uma graça o comportamento de alguns. Os teólogos, com a ajuda do próprio Cabide, não param de afirmar que foi vontade de Deus.

Quanto a mim, que também sou político, não vou fugir das minhas responsabilidades. Eu também sou responsável pela eleição do Cabide. Cabide representa um voto de protesto contra a classe política. E por que é protesto?

Porque faz tempo que a população não consegue eleger um político só por causa da cor dos olhos. De um jeito ou de outro, os candidatos oferecem algum favor, o eleitor recebe algo em troca do voto. Esconder isso é farisaísmo.

E por que é protesto? Porque há centenas de candidatos sem recursos que não se elegeram. Outras centenas de Cabide. Centenas de milhares. No Acre os candidatos mais pobres não estão na lista dos eleitos. Das 214 vagas de vereador do Acre apenas um se elegeu: Cabide.

Foi o protesto mais saudável que eu já vi. No lugar de quebrar ônibus ou pôr fogo em prédios públicos, a população de Rio Branco deu uma vaga de vereador a um homem simples, filho verdadeiro do povo.

Cabide representa o povo na sua mais áspera pobreza, no seu mais profundo abandono. Cabide deve ser bem tratado, respeitado e acolhido com o carinho que merece o povo.

Percebi como alguns jornalistas entrevistam o Cabide e como alguns políticos e intelectuais analisam a vitória de Cabide.

Cabide é o Lula sem a consciência de classe, o Lula sem a experiência de sindicalista, o Lula sem as relações com a classe média e a elite industrial, o Lula sem a experiência das viagens pelo Brasil e pelo mundo.

Mas, observem, Cabide até fala um pouco como o Lula. Cabide é o povo, a sua dor, a sua angústia, o seu rosto queimado, a pele macerada, o olhar aflito, a feição superior à idade, as mãos calejadas, as esperanças sem fim, o nome de Deus o tempo todo nos lábios, a simplicidade, a alegria no sofrimento, a não percepção de que os bacanas estão rindo por dentro enquanto o cumprimentam e se dizem solidários, a certeza de que todos que estão ao seu redor são honestos, a vontade de mudar o mundo.

Cabide pode não ter percebido que representa tudo isso, mas ele veio para dizer algo. Eu, pessoalmente, vou me esforçar para descobrir!

Seja bem vindo, Cabide!

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Raimundo Accioly

Cidadão comum da cidade de Tarauacá no Estado do Acre, funcionário público, militante do movimento social, Radio Jornalista, roqueiro e professor. Entre em Contato: accioly_ne@yahoo.com.br acciolygomes@bol.com.br 68-99775176

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