A FPA que se cuide

Quando o governador Binho Marques concluir o seu atual mandato a FPA estará completando 12 anos de poder. Prevalecesse a fadiga, raramente, isto aconteceria.

Narciso Mendes

Mesmo em governos com altíssimas aprovações, a alternância do poder pode se ocorrer quando se dá a confluência de dois fatores: a acomodação daqueles que o ocupam e, logicamente, a sempre crescente organização, em todos os aspectos, daqueles que buscam ocupá-lo. Não raro, prevalece a segunda hipótese, até porque, desorganizadas, não se tem notícia de um só caso em que as oposições tenham reconquistado o poder.

No Acre, a depender dos seus atuais opositores, ainda por muito tempo a FPA manter-se-á no poder, enfim, em matéria de organização e disciplina, quase tudo tem faltado aos seus opositores, inclusive legitimidade. Bastaria a mais evidente, entre as mais escancaradas evidências decorrentes da recente disputa pela prefeitura de Rio Branco, para justificar o presente raciocínio. Enfim, só como pilhéria, Sérgio Petecão poderia apresentar-se como candidato das oposições, afinal de contas, ninguém mais que ele foi tão bem tratado e melhor aquinhoado pela própria FPA.

Ser dissidente é uma coisa, ser oposição é outra. O dissidente, não raro, só largou o governo quando seus interesses – pessoais e políticos – foram irremediavelmente contrariados, e este, inquestionavelmente, foi o seu caso. Já o opositor, sequer carece exibir o seu DNA, porquanto se vê desobrigado em razão de sua própria história. Foi assim que sempre me comportei até o dia em que fui tomado pela decepção, e, conseqüentemente, pelo desengano, quando constatei a absoluta falta de solidariedade advinda da grande maioria daqueles com os quais tive o dissabor de conviver. Melhor teria feito se o meu desengano houvesse se manifestado quando, injustificadamente, as oposições se fizeram representar, e em duas eleições sucessivas, por um arrivista, no caso, quando Márcio Bittar disputou a prefeitura de Rio Branco e logo a seguir, o governo do Acre.

Se nada na vida é absoluto, a não ser a absoluta certeza de que tudo é relativo, politicamente falando-se, quando falta oposição, quase que invariavelmente, surge o fogo-amigo. Aos não adeptos dessa lógica, que interprete o comportamento do artilheiro Gladsom Cameli, o mais perverso aliado com o qual a FPA poderia contar nas eleições próximas passadas. De Cruzeiro do Sul a Brasiléia, passando por Tarauacá e Sena Madureira, no que dependeu dele, a FPA só contabilizou constrangimentos e prejuízos, e se mais estragos não veio a sofrer, que se credite ao amadorismo político do próprio Gladson Cameli, até porque, no pantanoso terreno do submundo da politicalha, a experiência também se faz necessária.

Se os estrategistas da FPA não pararem para pensar, avaliar e prevenir-se, aquilo que foi o comportamento político-partidário de Gladson Cameli poderá se transformar, não apenas numa pedra, como disse o poeta, e sim, numa intransponível pedreira. Senão pelos estragos já causados, mas, sobretudo, pelo precedente que certamente ficará e que servirá como exemplo. Se a desordem entre seus opositores dá à FPA uma confortável doze de tranqüilidade, o mesmo não se pode dizer quando se tem um aliado disposto a praticar o fogo-amigo.



Eleito em circunstâncias absolutamente questionáveis, não apenas pelo fato da eleição de 2006 ter sido a mais corrupta de nossa história, sobretudo, por temer que o mercado eleitoral acreano não seja mais capaz de garantir a sua reeleição, Gladsom Cameli aproveitou a disputa proximamente finda para tentar montar o esquema de sua própria reeleição. Pouco ou nada lhe importava se em suas negociatas os entes envolvidos pertenciam - ou não - à FPA.

Se em Tarauacá o jovem parlamentar até poderia alegar que esteve apoiando o candidato Vando Torquato por ser ele do seu partido, ainda assim haveria de se questionar: se a duras penas os companheiros e camaradas tarauacaenses acabaram se entendendo, como se justificar que, ao fim e ao cabo, fossem surpreendidos por um tucano que só entrou na FPA com um único propósito, qual seja, o de escapar dos rolos em que havia se metido, rolos esses que já haviam lhe custado até a perda de seus direitos políticos.

Gladson Cameli apoiou Vando Torquato pela mesmíssima razão que apoiou Toinha Vieira em Sena Madureira e Aldemir Lopes em Brasiléia, ou seja, na intenção de transformá-los em seus cabos-eleitorais, enfim, nas eleições de 2010, não bastará apenas confiar no mercado eleitoral como ocorreu em 2006, quando o jovem candidato Gladson Cameli surpreendeu o mundo político acreano ao conseguir ser mais votado em Rio Branco que na meca dos Cameli, no caso, em Cruzeiro do Sul. Sem verve e sem verbo, abusou da verba.

Se a FPA conseguiu chegar aonde chegou, mais a sua organização, a sua disciplina e a solidariedade que nunca faltaram entre seus companheiros e camaradas que propriamente a influência desta ou daquela liderança, sobressaem-se como as causas determinantes de seu extraordinário e reconhecido sucesso. Vamos lá;

Se em Cruzeiro do Sul não chegou a mover uma palha em favor do candidato da FPA, Zinho Santos, o mesmo não se deu em Tarauacá, porquanto Gladson Cameli fez das tripas coração em prol da eleição de Vando Torquato. Em tempo: por ignorar o seu jeito de ser e de agir, Zinho Santos não se colocou à disposição da reeleição de Gladson Cameli, e desta feita não recebeu o seu apoio. Enquanto isto, o prefeito Vando Torquato não só prometeu como jurou fidelidade a sua reeleição. Resultado: obteve apoio e grana. Quem sabe a grana que o deputado estadual Moisés Diniz afirma que acabou determinando o resultado eleitoral em Tarauacá.

Como quem estivesse com o propósito de insultar – ou debochar - da aliança histórica entre o PT e o PC do B, certamente a parelha que deu origem e que tem agido com singular lealdade à FPA, Gladson Cameli fez de tudo para demonstrar sua independência, e, sobretudo, que age tão somente pensando em sua reeleição.
Raimundo Accioly

Cidadão comum da cidade de Tarauacá no Estado do Acre, funcionário público, militante do movimento social, Radio Jornalista, roqueiro e professor. Entre em Contato: accioly_ne@yahoo.com.br acciolygomes@bol.com.br 68-99775176

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