Binho Marques: parceria com prefeituras precisa ser com base democrática e republicana

Página 20
19-Out-2008
Governador do Estado garante que não será candidato a reeleição ou a qualquer outro cargo no pleito de 2010
Nas conversas com jornalistas e em entrevistas às emissoras de rádio de televisão nos últimos dias, o governador Binho Marques (PT) tem reafirmado sua convicção de que a Frente Popular foi a grande vencedora das eleições municipais deste ano.

Mas não é só isso. Binho Marques tem destacado, também, a importância da parceria governo/prefeitura para garantir um dos pilares fundamentais de seu governo: a efetivação de projetos que garantam que o Acre, a partir de 2010, seja um dos melhores lugares para se viver na Amazônia.

Ele diz ainda que não será candidato a reeleição ou a qualquer outro cargo em 2010, frustrando as apostas daqueles que sonham com uma eventual candidatura à reeleição ou ao Senado, mas destaca sua disposição de trabalhar com os prefeitos da oposição projetos de melhoria da qualidade de vida da população do interior e da reunião que fará em novembro em Rio Branco com os 22 prefeitos eleitos e os mais de 200 vereadores eleitos, para tratar de projetos do governo para os próximos anos.
Abaixo os principais trechos de uma entrevista do governador à TV Acre.



Qual a sua avaliação das eleições municipais, em que seu partido, o PT, fez 12 prefeituras e a Frente Popular, 17?


Minha leitura dos números é vitoriosa. E estou extremamente feliz. Estou extremamente grato a Deus e à população por essa bela vitória, um resultado surpreendente. Foi o melhor resultado da Frente Popular em 20 anos. No ano que vem a Frente Popular completa 20 anos e eu vejo que a cada ano ela está mais jovem, ela se comunica mais com a população, e o resultado eleitoral é o resultado da aprovação da população ao trabalho do governo, ao trabalho dos nossos parlamentares e dos nossos prefeitos. Foi o melhor resultado que nós tivemos. Inclusive, o PT vai realizar aqui, este ano, um encontro nacional, porque foi aqui o melhor resultado [eleitoral] do Partido dos Trabalhadores em todo o Brasil. Nós realizamos nessa campanha um resultado de 56% dos prefeitos eleitos são do PT e mais de 25% dos vereadores eleitos em todo do Acre são do PT. Esse é o melhor resultado do Brasil. E o vitorioso não foi só o PT, foi toda a Frente Popular. Quando eu fui eleito, nós depois tivemos a adesão de algumas prefeituras, então este ano nós tivemos, além do número de prefeituras que tinham aderido ao projeto, um número além daquelas que tinham sido e foram eleitas pela Frente Popular. Para mim, a vitória mais surpreendente não tenha sido a eleitoral, a do voto, mas foi o envolvimento da população nas campanhas. E aqui eu quero ressaltar Cruzeiro do Sul. Em Cruzeiro do Sul, onde eu participei ativamente da campanha, o povo foi para as ruas, animado, feliz, porque começou a compreender que esse projeto [da Frente Popular] não é o projeto de um partido, não é o projeto de poucas pessoas, é um projeto do Acre. É um projeto que nós estamos trabalhando para que a população tenha, de fato, uma melhoria na qualidade de vida. Se você olhar os municípios do Acre, eles estão cada dia mais bonitos, eles estão bem cuidados, os prefeitos têm outro padrão. Eu acho que desde que o Jorge Viana foi prefeito de Rio Branco em 1993, criou-se outro padrão de administração pública e isso é identificado com a Frente Popular. E essa vitória da Frente Popular nas eleições municipais deste mês eu acho que é a aprovação desse projeto.

Qual vai ser a relação do governo com os prefeitos eleitos pela oposição? Vai ser de parceria, trabalhar junto, como tem defendido o prefeito eleito de Cruzeiro do Vagner Sales, que é da oposição?

Claro. Eu acho louvável que o prefeito eleito Vagner Sales tenha falado na parceria, porque durante a campanha muitos candidatos a prefeito falaram que não precisavam do governo, e no Brasil é muito importante o trabalho em parceria. As prefeituras receberam atribuições demais e dinheiro de menos. Então, é muito importante que nós, governo e prefeituras, trabalhemos juntos, porque as atribuições também são muito diferentes. O governo do Estado cuida da grande estrutura, de infra-estrutura de desenvolvimento, mas as obras que vão mais perto das casas são atribuição das prefeituras. Por mais que o governo queira fazer um trabalho na área de saúde, por exemplo - e em Cruzeiro do Sul o trabalho na área de saúde é muito complicado, muito ruim, a cidade está abandona -, isso é trabalho de prefeitura, eu não posso fazer sem autorização da prefeitura. Essa parceria é importante, é louvável.

O senhor pretende se reunir com os prefeitos eleitos. Serão todos os 22 prefeitos?

Em novembro, no mês que vem, eu vou estar realizando uma reunião com todos os prefeitos. Todos. Vai ser uma reunião com todos os prefeitos e uma outra reunião com todos os vereadores.Todos. Sejam da Frente Popular ou não. Sejam de oposição, ou não. Nessa reunião eu vou apresentar os planos para os próximos dois anos, e nós teremos grandes investimentos no Acre em 2009 e 2010, e de maneira nenhuma eu quero trabalhar sozinho nem posso realizar o sonho de tornar o Acre o melhor lugar da Amazônia sem a parceria dos prefeitos. Agora, essa parceria acontece em forma de programas. Eu não posso fazer uma parceria de saúde, por exemplo, de repassar remédios para uma determinada prefeitura e o prefeito se apropriar dos remédios, como muitas vezes a política tradicional está acostumada, e colocar dentro de casa e ficar distribuindo remédio. Não, tem que ser dentro de um programa dedicado ao sistema de saúde, que atenda à população de maneira republicana, democrática, que atenda a todos. Esse é o patamar. Se for assim, meu trabalho é com todos.

O senhor é uma liderança da Frente Popular. Qual sua avaliação das eleições, levando em conta o fato de que em Rio Branco, embora o prefeito Angelim tenha colocado mais de 40 mil votos à frente do segundo colocado, não houve segundo turno por menos de um por cento dos votos?

Olha, muita gente está enganada com relação a essa eleição aqui de Rio Branco. Foi uma grande vitória. E isso acontece porque às vezes a gente não tem a referência da história. Se eu perguntar a qualquer cidadão qual foi a margem que o Jorge Viana teve em relação ao seu opositor quando foi eleito prefeito de Rio Branco, em 1992, todo mundo vai achar que ele teve uma margem grande de votos, mas o Jorge Viana foi eleito com 33% dos votos. Havia três candidatos, o [José] Bestene, o Mauri Sérgio e o Jorge Viana. Todos eles foram muito bem votados. O Jorge Viana teve um pouquinho de votos a mais que o Mauri Sérgio, que teve um pouco de votos a mais que o Bestene. Então, em Rio Branco, a eleição sempre foi muito apertada , mas essa eleição foi a eleição que nós tivemos a maior vitória. Porque o Angelim mesmo, que concorreu depois de ter sido o deputado estadual mais bem votado do Acre, depois de oito anos que a prefeitura estava abandonada, ele foi concorrer a prefeito e imaginava-se que pudesse ter mais de 60% dos votos, e teve 49%. Ou seja, na eleição passada do Angelim, que era a mais favorável para ele, porque não estava no poder e não era cobrado sobre aquilo, ele teve 49% dos votos. Nesta eleição [2008], o Angelim teve todos os votos que ele teve na eleição passada e mais 10 mil votos. Então, aqui em Rio Branco, a Frente Popular cresceu mais 10 mil votos. Ela não só cresceu em termos proporcionais, mas em votos absolutos. Na eleição do Angelim eu não tinha dúvidas: ou ele ia ganhar no primeiro turno ou ia ganhar no segundo turno, mas que ele ia ganhar ninguém tinha dúvidas, as pesquisas diziam. Mas ele ganhou no primeiro turno, na primeira vez em que a eleição municipal teve dois turnos na história e foi uma vitória muito bem comemorada, porque mereceu e foi uma vitória incrível e o melhor resultado da Frente Popular em Rio Branco.

Tarauacá é uma cidade onde a população reclama de abandono, de falta de condições de funcionamento da rede de saúde pública e pede o apoio do governador para melhorar a qualidade vida. Como o senhor avalia esses questionamentos?


É um questionamento pertinente e tenho certeza de que não é só do povo de Tarauacá, muitos municípios vivem em situação difícil. A primeira coisa que eu devo dizer - e não sei se todas as pessoas já sabem - é que este ano eu lancei a segunda etapa do hospital de Tarauacá, que vai ser um hospital de referência, tão bom quanto o hospital que nós temos agora em Cruzeiro do Sul, que é um cartão-postal de saúde pública lá na região do Juruá. E agora, na região do Tarauacá-Envira, nós teremos um grande hospital de referência. O Jorge Viana fez no governo dele a primeira fase e eu agora vou fazer todo o restante de que precisamos fazer para ter um grande hospital. Além disso, mesmo o prefeito não sendo da Frente, eu não estive no palanque do prefeito [reeleito, Vando Torquato] de Tarauacá e, como já falei aqui, vou trabalhar com todos os prefeitos, dentro de princípios éticos. Se esses prefeitos aderirem a um projeto correto, que vai atender à população, não tenha dúvida nenhuma: eu vou estar trabalhando também para que a população seja beneficiada.

Em Epitaciolândia, há muitos questionamentos da população em relação à educação e à saúde...


É verdade, mas o que eu posso dizer a essas pessoas é que fiquem tranqüilas, nós estamos melhorando muito a saúde, tanto em Epitaciolândia, como em Brasiléia. Em Epitaciolândia nós temos uma parceria com o prefeito reeleito, José Ronaldo, e temos uma preocupação muito grande nessas regiões que vão ter um impacto muito grande da Transoceânica [estrada que liga o Brasil, através do Acre aos portos do Pacífico, no Peru], para que possamos fortalecer ainda mais o trabalho de ações básicas e não só na saúde. Além da saúde, onde nós já estamos trabalhando, melhorando o hospital de referência em Brasiléia, que atende também Epitaciolândia, estamos preocupados também com a segurança, para que a gente não tenha a juventude envolvida com narcotráfico, que a gente possa ter opções para a juventude. E essas regiões, tanto de Epitaciolândia, como de Brasiléia, entraram no Pronasci e são regiões prioritárias onde nós iremos fazer um conjunto de ações voltadas para a juventude, de esporte, lazer, de educação e de ensino profissionalizante. Por isso as pessoas fiquem tranqüilas, os próximos dois anos muito bons, serão os melhores anos do nosso governo e a parceria com as prefeituras é fundamental para que a gente possa realizar um trabalho que não seja uma disputa, mas uma união de prefeitura e governo para que a população saia ganhando.

Quais são os projetos do seu governo para os próximos dois anos?


Eu falei que só iria governar até 2010, que não seria candidato a nada, e não serei. Não serei candidato a reeleição, não serei candidato a nenhum cargo, mas coloquei como desafio a gente realizar oito anos em quatro. O que fosse possível fazer em quatro anos e que fosse comparado a um governo de oito anos, nós iríamos fazer. Então, de certa forma, nós estamos concluindo o primeiro governo, já que estamos na metade. Esses dois anos significam para mim quatro anos. Se formos computar o que já foi feito nesses dois anos em termos de infra-estrutura, a BR-364, a BR-317 que nós concluímos, toda a parte de infra-estrutura de alargar ruas para melhorar a infra-estrutura melhor em Rio Branco com a quarta ponte. Nós estamos negociando cinco pontes na BR-364 e aí está também a ponte de Cruzeiro do Sul, e se Deus quiser iniciará neste governo. Então, eu diria que nesses dois anos nós já temos quase o equivalente a quatro anos de governo. Nesses dias logo após as eleições, eu me reuni com toda a minha equipe e nós montamos um calendário de inaugurações, de obras, que nós vamos concluir neste segundo ano, para que a gente possa fechar um primeiro mandato simbolicamente.

E nós próximos dois anos?

Nós próximos dois anos, que é a sua pergunta, nós continuamos no mesmo ritmo. Nós temos uma prioridade para infra-estrutura, que é dar continuidade às obras da BR-364 e, se Deus quiser, e essa situação econômica [mundial] não nos atrapalhar, nós vamos concluir até 2010 o asfaltamento de Rio Branco a Cruzeiro do Sul e também consolidar essas regionais, que estamos chamando de Zonas Especiais de Desenvolvimento. Então, em cada regional do Acre, nós estaremos fortalecendo a economia, com mecanização agrícola, com consolidação das áreas que já foram desmatadas, para que a gente não precise desmatar novas áreas, criando alternativas de emprego e renda para a população. Assim, na economia, na infra-estrutura, está andando muito rapidamente e a outra parte, que é a área que eu sempre trabalhei, que é a inclusão social, eu diria que os nossos projetos estão redondos. Nós estamos concluindo uma fase importante neste fim de 2008, para que na metade do ano que vem tenhamos pelo menos duas grandes áreas consolidadas, que são a segurança e a saúde. Até metade do ano que vem, vários municípios vão ter policlínicas para que a gente possa melhorar muito, e precisa, a população está clamando por isso, a situação da saúde e Rio Branco vai ser um grande exemplo disso. Nós estaremos criando em Rio Branco, junto com o prefeito Angelim, cinco policlínicas que vão diminuir a pressão sobre o prontos-socorro e a Fundação Hospitalar e que vai melhorar o atendimento da saúde municipal. E para concluir a sua pergunta, é a área de segurança pública. Nós estamos contratando 600 policiais militares e estaremos recebendo em março próximo os policiais civis, especialmente os delegados, e aí consolidamos o nosso plano de segurança. E, no segundo Distrito de Rio Branco, vai funcionar o nosso piloto do novo modelo de segurança pública que já este ano estamos começando.
Raimundo Accioly

Cidadão comum da cidade de Tarauacá no Estado do Acre, funcionário público, militante do movimento social, Radio Jornalista, roqueiro e professor. Entre em Contato: accioly_ne@yahoo.com.br acciolygomes@bol.com.br 68-99775176

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