Projetos que 'matam' a terra miram exterminar povos originários, afirma líder e professora indígena (Nedina Yawanawa)


Nedina Yawanawa disse à reportagem da Aduff que Congresso do Andes-SN no Acre expressa apoio à luta pela existência do povos originários, 'vítimas de 4 anos de tentativa de extermínio' pelo governo Bolsonaro

A realização do 41º Congresso do Andes-SN em Rio Branco, capital do Acre, pela primeira vez ao longo das últimas quatro décadas, deu visibilidade aos desafios enfrentados pelo Estado e pela comunidade da instituição anfitriã, a Associação de Docentes da Universidade Federal do Acre (Adufac). Também ultrapassou os muros da Academia para ampliar olhares para a luta das comunidades tradicionais (indígenas, quilombolas e ribeirinhos) que representam a diversidade e a cultura amazônica, já que uma das características dos eventos nacionais do Andes-SN é dialogar com a realidade e os atores políticos do local, considerando as especificidades de cada estado.

Uma das deliberações do evento contemplou ajuda de R$ 200 mil para os Yanomami, povo que enfrenta grave crise humanitária, com dezenas de casos de malária e de desnutrição grave. Dados do Ministério dos Povos Indígenas estimam que cerca de 570 crianças morreram em decorrência da fome e da contaminação por mercúrio.

De acordo com Nedina Yawanawa - coordenadora da Organização de Mulheres Indígenas do Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia (Sitoakore), professora indígena e líder do grupo musical "Cantos e Encantos Yawanawa" - um evento do porte do que foi realizado pelo Andes-SN no Acre, reunindo docentes de todo o Brasil, se voltou também para a luta dos povos originários pelo direito à existência. Ela participou do 41º Congresso e afirmou à reportagem que o direito à educação e à saúde públicas de qualidade; à demarcação de terras e à segurança; à preservação do meio ambiente e das florestas são questões caras aos indígenas e foram seriamente negligenciadas pelo governo de Jair Bolsonaro.

Segundo Nedina, nos últimos quatro anos esteve em curso um claro projeto genocida que ameaçou a vida das populações minoritárias. Além do avanço de atividades ilegais em territórios indígenas (exploração de madeira e o garimpo ilegal, por exemplo), houve o esvaziamento dos órgãos institucionais que deveriam zelar pela preservação dos direitos dos indígenas, a exemplo da Fundação Nacional do Índio (Funai). "Sentimos a consequência do sucateamento e da retirada de recursos da Fundação. Exemplo é a forte situação de calamidade, de miséria e de desrespeito à vida dos seres humanos na terra indígena Yanomami", disse Nedina.

Para ela, o governo Bolsonaro buscou exterminar os povos indígenas atacando primeiramente a terra e se omitindo a auxiliar a população. "Precisamos que a terra esteja protegida para sobreviver; há uma forte relação dos povos originários com a terra. E quando o governo abre as terras para a exploração – para o garimpo, para o uso de agrotóxico, para a construção de hidrelétrica e extração de madeira, ele está projetando o extermínio desse povo", apontou Nedina.

Segundo a indígena, a Terra tem dado um recado sobre a exploração e o desmatamento da região Amazônica, ocorrido nos últimos anos com mais intensidade e permissividade das autoridades nacionais. "O modo de viver dos indígenas é respeitoso, tudo o que é feito lá dentro é feito para preservar as gerações futuras. Temos uma conexão espiritual com a floresta. A devastação total da natureza gera impacto para a sociedade - enchente, mudança climática. A Terra está falando que precisamos respeitar a vida, as águas, todos os seres", defendeu Nedina Yawanawa.

Da Redação da Aduff
Por Aline Pereira
Foto: Luiz Fernando Nabuco/ Aduff

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