Inspirado em Marina, Inácio Moreira, pré-candidato da Rede ao Senado, prega produção com sustentabilidade



Jorge Natal, especial para o Notícias da Hora

Inácio Alves Moreira Neto, de 55 anos, nasceu e cresceu em Rio Branco, notadamente nos bairros Capoeira, Aeroporto Velho e Placas. Envolveu-se com a política aos 14 anos quando foi líder estudantil, ingressando na Tendência Popular, corrente política cujos integrantes eram do PC do B e se abrigavam no então PMDB dos anos 80.

A infância foi marcada por dois momentos: o primeiro, de bonanças, principalmente por pertencer à tradicional família Moreira, herdando, inclusive, o nome de seu avô; e o segundo, de luta pela sobrevivência, quando foi vendedor ambulante e fazedor de ‘bicos’. “Mas a minha mãe foi visionária e me colocou para estudar no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), onde me formei como mecânico de automóveis”, recordou o nosso personagem.

Após concluir o curso profissionalizante, fez o teste de aptidão e foi direcionado para fazer o curso de magistério no segundo grau. Depois de se formar em Pedagogia pela Ufac, em 1992, passou num concurso público e é professor há 34 anos. Mas a sua vida seria marcada por outro evento: o fato de ter uma carreira profissional sempre dividida entre o trabalho público e a iniciativa privada, ao longo de 30 anos.

E foi com esse currículo, ancorado no engajamento político-partidário, que entrou para a vida pública, no segundo mandato do governador Jorge Viana, no início dos anos 2000. “Fui da Secretaria de Esporte, no governo do Binho Marques. No governo do Tião Viana, fui da Secretaria de Articulação Política, da Secretaria de Indústria e Comércio e, por último, como presidente da Agência de Negócios do Acre (Anac)”, detalhou Moreira.

Palanque do Ato Público da Greve Geral de 1987, onde se vê a partir da esquerda; Marina Silva (punho erguido), Marcos Afonso, Ademir, Inácio Moreira, Antônio Manoel, Everaldo Maia, Fábio Vaz, Chico Pereira e Wilson

Nesse último cargo, pôde desenvolver as suas habilidades, intermediando negócios e propondo difundir um modelo de autodesenvolvimento capaz, segundo ele, de gerar emprego e renda e qualidade de vida para os acreanos. “Podemos ter polos de tecnologia e de pesquisa farmacêutica, cosmética e alimentícia, dentre outras tipologias produtivas que se adequem às nossas potencialidades vocacionais”, exemplificou.

Além do desenvolvimento econômico, também despertou para as questões socioambientais junto a Binho Marques, que, a seu ver, foi um governo marcado pela singularidade. “Foi na revitalização dos igarapés que vi o quão importante é o diálogo e o respeito junto às pessoas impactadas por obras”, destacou.

A fusão de tudo isso o levou à Rede Sustentabilidade, partido liderado pela ministra Marina Silva, cuja leitura de mundo e práxis política divide opiniões. “Eu entrei em 2023, dez anos depois de deixar o PC do B”, explicou o ativista. Candidato a senador da República, ele abre uma série de reportagens com candidatos majoritários das eleições vindouras. Veja a entrevista:

NH - A sua pré-candidatura está mantida?

Moreira – Sim. Essa é uma decisão da nossa federação REDE/PSOL. Deliberamos que apoiaremos a pré-candidatura do presidente da APEX, Jorge Viana para a segunda vaga para o Senado. Claro que só temos governabilidade sobre a nossa federação e essa nossa decisão, em nenhum momento, é uma camisa de força ao pré-candidato Jorge Viana. Ele está liberado para fazer voto casado com outros pré-candidatos, conforme deliberação da Federação Brasil Esperança (PT, PCdoB e PV) da qual ele faz parte.


NH - A sua federação tem como principais líderes a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e Guilherme Boulos, ministro da Secretária-geral da Presidência. Essas suas referências políticas num Estado majoritariamente bolsonarista não lhe atrapalham?

Moreira – Pelo contrário, nos conduz para um debate programático, com bandeiras de lutas modernas, como o meio ambiente e as mudanças climáticas, a geração de energias renováveis, a reforma agrária, o direito à moradia, a redução da jornada de trabalho. Além disso, deixar claro que sou, de fato, verde por fora e vermelho por dentro. Sou de esquerda, defendo o Estado Social, sou Lula e pretendo fazer este debate de cabeça erguida, reconhecendo todo o legado dos governos da Frente Popular do Acre, bem como autocrítica dos nossos erros. Tenho fé e esperança em dias melhores para todos nós.

NH - Diante de tantos pré-candidatos com memória eleitoral, inclusive a maioria com mandatos e outros que já tiveram mandatos, todos têm muita estrutura de campanha. O que te encoraja nessa luta de Davi contra Golias?

Moreira – Primeiro que a decisão está com o povo e, às vezes, o eleitor resolve pregar surpresas. Segundo que eu, e a maioria da população, estamos cansados e muito decepcionados. Diante desta situação, resolvi ser pré-candidato e apresentar propostas, que serão elaboradas por diversos segmentos da sociedade. São eles que sofrem com os problemas do nosso Estado e ainda estão por aqui. Muitos já foram embora.


NH - E que vocês propõem com relação aos problemas de saúde pública do nosso Estado?

Moreira – Precisamos fortalecer o quadro de profissionais em saúde tanto na cidade quanto em locais remotos. Temos que fortalecer os salários como forma de segurar e atrair os profissionais de diversas áreas, inclusive, mantendo, no Acre, os recém-formados do curso de medicina da Ufac. Também mitigaremos os problemas decorrentes dos fenômenos climáticos extremos, como enchentes e períodos de seca, que geram crises de saúde pública. Essas devem ser feitas com os programas Saúde na Comunidade e Saúde Itinerante, além das campanhas de vacinações. Muitos jovens sofrem com a síndrome do pensamento acelerado, depressão e outros problemas de saúde mental, que têm se tornado uma preocupação crescente na população, necessitando de atenção e recursos específicos.

NH - E na educação?

Moreira – Primeiro repor os 10% referentes ao nosso Plano de Cargos Carreira e Salário dos trabalhadores da educação. No caso do ensino infantil, da creche até o ensino fundamental I, ou seja, da 1ª a 5º série, o quadro de professores tem que ser efetivo. Não dá para substituir um professor durante o ano letivo, pois o choque emocional é muito forte tanto para os alunos, pais e professores. É importante consolidar escolas de tempo integral em bairros com os indicadores sociais muito baixos. Também precisamos fortalecer o atendimento das crianças deficientes com o maior número de especialistas: psicólogos, fonoaudiólogos, professores, médicos, psicoterapeuta etc.


NH – E a segurança pública?

Moreira – Todo problema tem solução desde que municípios, Estados e Governo Federal juntem forças, atuem de forma conjunta, planejada. O Exército poderia ajudar no patrulhamento das nossas fronteiras, uma vez que rios e igarapés servem de rota para contrabando e tráfico de drogas.

NH – O que o senhor propõe para gerar emprego e renda?

Moreira – O ex-governador Binho Marques criou as Zonas de Atendimento Prioritário (ZAPs), que eram áreas definidas para receber ações e investimentos prioritários, geralmente voltados para a melhoria das condições sociais e de infraestrutura de comunidades carentes, tanto rurais quanto urbanas. A intenção é que a comunidade possa resolver todos os seus problemas na própria regional. É algo muito parecido com o conceito de urbanismo sustentável e design urbano, chamada de Cidade de 15 minutos. A ideia é que todos os cidadãos possam acessar suas necessidades essenciais (moradia, trabalho, estudo, saúde, compras, lazer) a pé ou de bicicleta em, no máximo, 15 minutos. Esse modelo fortalece o comércio local com várias iniciativas de pequenos negócios, gerando emprego e renda. Precisamos ter um programa forte de reflorestamento rural, com espécies frutíferas, que garantam volume e frequência de entrega tanto para as redes de supermercados locais, pequenos comerciantes nos bairros, merenda escolar, hospitais e municípios isolados, priorizando o abastecimento do mercado local e, caso haja excedente, que seja feita a exportação para outros Estados e países. Propomos fortalecer cadeias produtivas de proteínas animais como suíno, frango, galinhas poedeiras, carneiros, peixes a pecuária dando segurança aos frigoríficos de matéria prima a ser processada, aqui mesmo no Estado. A exportação deve ser feita de peças de carne. Jamais devemos admitir exportar a proteína inteira para ser processada em frigoríficos fora do nosso Estado. Queremos também explorar o bambu, que pode gerar produtos como palitos de dente, portas, janelas e até pontes.

NH – O seu partido é contra a abertura de estradas. Como resolveremos os nossos problemas de logística?

Moreira – Essa afirmação não é verdadeira. Com relação aos ramais, é preciso definir com os moradores destas áreas a inclusão deles no processo de melhoramento, asfaltamento, abertura de novos ramais etc. É preciso incluir no orçamento aportes para a produção de polpas de frutas, animais de pequeno porte, cacau, açaí etc. Caso contrário, a especulação imobiliária provocará um êxodo rural, desmatamento de suas margens e transformando-as em pastos ou commodities. No caso específico do nosso fluxo interno, defendo a ligação entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul através de uma ferrovia paralela à BR-364. O Acre não aguenta mais gastar tantos recursos anualmente com esta BR, que não suporta o peso que é transportado sem controle nenhum, inclusive as balanças foram retiradas ao longo do percurso da estrada. A BR-364 de asfalto ficaria para uso exclusivo de carros de passeio.


NH – E as reservas extrativistas? Elas são um atraso para o desenvolvimento do nosso Estado?

Moreira – Ao contrário. São ativos de bombas d’agua que ajudam na constituição de rios voadores, que irrigam todas as agriculturas, além de sequestrar carbono e liberar oxigênio limpo para a nossa respiração. Precisamos pagar as populações tradicionais por estes serviços prestados à humanidade. O modo de vida deles justificou a criação das reservas extrativistas. Eles precisam de tecnologias para auxiliar os seus trabalhos e dessa forma, aumentar a produção.

NH – Se por um lado é preciso preservar o bioma, por outro, devido ao isolamento, existem pessoas morrendo por causa de picada de cobra e até de verminose. Além do direito de ir e vir, é preciso levar as políticas públicas para esses brasileiros. Comente sobre isso.

Moreira – Temos pessoas morrendo nas filas dos hospitais nas cidades. Muitas estão morrendo de covid, feminicídio, outras tirando a sua própria vida, através do suicídio, consumindo bebidas com etanol, ou seja, as pessoas estão passando dificuldades tanto na zona rural quando na zona urbana. O que precisamos é de um Estado forte, que desenvolva políticas públicas urgentes. Que tal redirecionarmos o uso da ciência e da tecnologia para o bem? Os drones, utilizados nas guerras, são os mesmos drones que fazem entregas do iFood. Podemos muito bem utilizá-los para entregar medicamentos em áreas isoladas. Precisamos elaborar e implementar o Plano Municipal de Arborização de Rio Branco, envolvendo os três Poderes, empresa de distribuição de energia elétrica, universidades e a comunidade em geral, criando o IPTU verde, como uma forma de incentivo para mitigarmos os impactos do aquecimento global. Precisamos virar as nossas cidades novamente de frente para os rios e igarapés. Chega de aterrar rios, igarapés e córregos, enquanto o mundo discute projetos de cidades esponjas proporcionando uma arquitetura harmônica entre construção civil e a natureza.

NH – A agricultura em larga escala, tirando a parte leste do Estado, é inviável por causa da topografia, entre outros fatores. Como é possível estimular a produção nas demais regiões?

Inácio – Quem coloca alimento na nossa mesa é a agricultura familiar. São eles que abastecem o nosso mercado interno, ou seja, são as hortas comunitárias, as plantações de mandioca, o açaí nativo, as diversas espécies de feijão do Juruá. O produtor perde essa colheita por falta de pontes. Só nos municípios, em de Rio Branco, existem mais de 150 delas que precisam ser feitas, além de quilômetros e mais quilômetros de ramais para serem asfaltados.


NH – Por que as indústrias não se instalam no Acre?

Moreira – Porque é preciso de uma política de atração de investidores. O Jorge Viana criou a Agência de Negócios do Acre (Anac), no ano 2000, e o governador Tião Viana foi ousado, neste sentido, constituindo parcerias entre o governo do Estado e a iniciativa privada, tornando-se sócios de plantas industriais como a Dom Porquito S.A, que hoje, junto com a Acreaves, gera 800 empregos diretos. O presidente Lula fez a rodovia transoceânica, vários portos foram construídos no Peru que facilitam a exportação da nossa produção tanto para a China como para os Estados Unidos e outros países. Hoje temos o presidente da Apex que conhece a nossa região. Ele lidera reuniões bilaterais no mundo todo abrindo mercados para as empresas brasileiras. O que falta é diálogo entre as instituições, bem como colocarem os interesses da população acima das disputas eleitorais.

NH – A Peixes da Amazônia S.A faliu. Comente sobre isso?

Moreira – É lamentável e triste, mas foi mesmo que aconteceu com outras grandes empresas como as lojas Americanas, a 123 Milhas e tantas outras. Só no ano de 2024, registrou-se um número recorde de pedidos de recuperação judicial no Brasil, superando a série histórica iniciada em 2006, com 2.273 solicitações. Embora o número de falências (quando a recuperação judicial não é possível) tenha tido uma queda momentânea no início de 2025, o volume geral de empresas em dificuldades financeiras é alto. No entanto, nesse desenho societário o lucro, o sucesso é de todos como o prejuízo também, diferente da Cila, Banacre, Cageacre e tantas outras empresas indiretas que o prejuízo era único e exclusivamente do Estado. No caso da Peixes da Amazonia tanto o Estado quanto as empresas estabeleceram um limite de investimento sem colocar em riscos os seus negócios.

NH – O que o Acre precisa para se desenvolver?

Moreira – O Acre precisa de um choque de capitalismo. No bioma Amazônico, é quase impossível algum empreendido se firmar sem o auxílio do poder público. Temos inúmeros gargalos, entre os quais a matriz energética, estradas, portos e o mercado. Quando se conversa com um investidor, ele pergunta logo sobre a logística. Há alguns anos, o Acre era o final do mundo porque não havia ligação terrestre com o restante do país. A ponte do Rio Madeira era um sonho. A BR 364 até Cruzeiro do Sul só existia nos mapas e nem havia ligação com os países vizinhos. Precisamos é de política de Estado, sobretudo que valorize os produtos do Acre como a borracha, a castanha, o açaí, o cupuaçu, a mandioca e outros produtos que nossos antepassados dominaram o plantio.

(NOTICIASDAHORA)

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