TARAUACÁ: Delegado José Ronério faz balanço das ações da Polícia Civil em 2025 e revela detalhes da Operação Patrão em Jordão


O Bom Dia Tarauacá recebeu nesta quarta-feira (19) o delegado de Polícia Civil de Tarauacá, Dr. José Ronério, para uma entrevista exclusiva onde ele faz um amplo balanço das ações da corporação ao longo de 2025. Em conversa franca com o radialista Raimundo Accioly, o delegado detalhou desafios, avanços, operações importantes e, pela primeira vez, falou profundamente sobre a Operação Patrão, realizada no município de Jordão, considerada uma das maiores investigações já conduzidas na região envolvendo exploração de famílias vulneráveis e retenção ilegal de cartões do Bolsa Família.

A entrevista integrou uma série especial de prestação de contas com gestores públicos do município e do Estado, promovida pelo programa Bom Dia Tarauacá.


ENTREVISTA — Delegado José Ronério, titular da Polícia Civil de Tarauacá

Bom dia, Dr. Ronério. Como o senhor avalia o ano de 2025 para a Polícia Civil de Tarauacá?

O ano foi extremamente intenso e desafiador. Enfrentamos aumento de crimes patrimoniais, reflexo direto do consumo de drogas, além de índices preocupantes de crimes sexuais e violência doméstica — que ainda predominam no município. Também assumimos investigações mais complexas, como crimes cibernéticos e, mais recentemente, operações de grande impacto social, como a realizada em Jordão.

Crimes virtuais cresceram muito em Tarauacá. Como a Polícia Civil tem atuado nessa área?

Crimes cibernéticos são difíceis e exigem alto nível técnico. O criminoso não é local, é uma rede nacional. Mesmo com estrutura limitada, avançamos bastante. Todos estão vulneráveis: professores, empresários, donas de casa, qualquer pessoa pode cair em golpes. O golpista trabalha com o emocional da vítima, e isso independe de escolaridade.

A população sofreu muito com a fila da emissão de RG no início do ano. Como ficou essa questão?

Foi um momento preocupante. Pessoas madrugavam na porta da delegacia. Com apoio da imprensa, ampliamos parcerias, aumentamos turnos, e hoje o serviço está organizado. Qualquer pessoa chega e consegue atendimento.

Muita gente ainda confunde o papel da Polícia Civil e da Polícia Militar. O que a sociedade precisa compreender?

A Polícia Civil é a polícia investigativa, que toca inquéritos, representa por mandados, conduz apurações. Não fazemos policiamento ostensivo — isso é atribuição da PM. Mas trabalhamos sempre em parceria.

A falta de um IML na região segue sendo uma grande dor da população. Como está essa pauta?

Esse é um problema grave e muito sensível. O projeto existe, mas depende de decisão política e de recursos. Uma unidade de IML em Tarauacá atenderia toda a regional. Hoje, familiares ainda enfrentam o sofrimento de deslocar corpos até Cruzeiro do Sul. É urgente que o Executivo priorize essa pauta.


O tráfico de drogas segue como motor da criminalidade. Como o senhor analisa a situação?

É um problema nacional que chega com força na Amazônia. Facções dominam regiões inteiras, e jovens — muitos menores de idade — são cooptados pela ilusão do “ganho fácil”. Mas ninguém prospera no tráfico. Ele puxa crimes como furtos, roubos, porte ilegal de armas, corrupção de menores e formação de quadrilha.
OPERAÇÃO PATRÃO — O que ninguém sabia

Um dos pontos mais fortes da entrevista foi a revelação dos bastidores da Operação Patrão, deflagrada simultaneamente em Tarauacá e Jordão, após dois anos de investigação minuciosa.

Segundo o delegado:

28 mandados de busca e apreensão foram emitidos.
05 alvos em Tarauacá.
23 alvos em Jordão.
Mais de 700 cartões de programas sociais foram apreendidos.
Dinheiro, armas, munições, procurações e documentos foram recolhidos.
Mais de 9 mil litros de combustível estavam sendo comercializados ilegalmente.

Ronério classificou o esquema como “uma nova modalidade de escravidão moderna”, praticada por comerciantes que se aproveitavam de famílias extremamente vulneráveis, principalmente indígenas.

Segundo depoimentos colhidos na operação:

Indígenas estavam trocando seu benefício mensal por um frango e 10 litros de gasolina.

Muitos relataram estar se alimentando apenas de manga e banana, sem acesso a proteínas.

Comerciantes manipulavam preços e mantinham controle da movimentação financeira das comunidades.

Além disso, a prática ilegal de venda de combustível colocava vidas em risco:

Aprendemos quase 9 mil litros de gasolina armazenados de forma irregular. Se um ambiente daquele explode, mata 30 ou 40 pessoas na hora”, alertou o delegado.

A operação também revelou que o dinheiro das famílias não circulava no comércio da cidade, prejudicando a economia local.


Ronério deixou um aviso direto:

Quem estiver retendo cartão de indígena ou de família vulnerável: devolva. Vamos continuar investigando. A operação apenas começou.”

Considerações finais do delegado

O delegado destacou a necessidade urgente de:

Novo concurso para reforçar o efetivo.
Investimentos em segurança pública.
Cobrança da sociedade e da classe política.
União entre Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Judiciário.

Ele também reforçou que Tarauacá sofre com índices elevados de violência doméstica, crimes sexuais e maus-tratos contra animais, áreas onde a Delegacia mantém atuação permanente.

Ao encerrar, deixou o número do canal seguro para denúncias:

📞 (68) 99242-7952 — Anonimato garantido.
CONCLUSÃO

A entrevista exclusiva com o delegado José Ronério revelou um panorama completo da segurança pública em Tarauacá em 2025, expondo desafios estruturais, avanços importantes e um trabalho investigativo silencioso, porém decisivo. A Operação Patrão se destaca como marco histórico no combate à exploração de famílias vulneráveis, especialmente povos indígenas, e abre caminho para uma nova fase de fiscalização e responsabilização.

O Blog do Accioly continuará acompanhando os desdobramentos desta operação e a atuação da Polícia Civil na região.

Segurança pública se constrói com investigação séria, participação social e cobrança permanente.

Blog do Accioly, informação com responsabilidade e compromisso com Tarauacá.

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