A política brasileira tem dessas ironias: basta um fato de grande repercussão ocorrer para que, em questão de minutos, surja uma fila de “solidários de ocasião”, todos ávidos para posar de defensores, herdeiros ou fiéis escudeiros de quem está no centro da polêmica. A recente prisão de Jair Bolsonaro não fugiu à regra, ao contrário, tornou-se um prato cheio para oportunistas que já miram as eleições de 2026.
De repente, todos passaram a vestir o manto do “companheiro injustiçado”. Políticos que até outro dia mantinham distância segura agora ocupam as redes sociais com discursos inflamados, mensagens dramáticas, vídeos ensaiados e promessas vazias. Não há genuína defesa de princípios, tampouco compromisso com alguma causa. O que há é cálculo eleitoral. O que há é faro para voto. O que há é a velha esperteza de quem enxerga, na turbulência, a oportunidade de surfar numa onda que não criaram.
Bolsonaro, com todos os seus erros e acertos, tornou-se ao longo dos anos um ativo político valioso, principalmente entre setores que enxergam nele uma representação direta de suas angústias, revoltas e expectativas. E é exatamente essa força eleitoral que tantos agora tentam capturar. A prisão funciona como combustível para multiplicar discursos de solidariedade interessados, enquanto cada um tenta se apresentar como o “verdadeiro defensor” do ex-presidente.
Mas é bom lembrar: a história mostra que ondas populistas frequentemente elegem pessoas sem o menor compromisso com agenda social, com políticas públicas, com responsabilidade ou com o bem coletivo. Elegem personalidades construídas exclusivamente sobre emoção e barulho. Elegem rostos que nada têm a entregar além de discursos inflamados e lealdade performática.
É por isso que, paradoxalmente, a prisão de Bolsonaro acaba sendo “salutar” para muitos desse campo político. Ela os alimenta. Ela impulsiona candidaturas. Ela dá narrativa. Ela cria palco. E, principalmente, oferece a eles a chance de se vestirem de algo que não são: heróis de uma causa.
O Brasil assiste, mais uma vez, ao espetáculo do oportunismo eleitoral, em que o objetivo não é defender alguém, mas defender a si próprio. E, no fim, quem paga o preço é sempre o eleitor, levado por paixões momentâneas a entregar seu voto a quem não tem nenhum projeto de país.
É preciso olhar com cuidado. É preciso separar convicção de conveniência. É preciso saber quem realmente acredita no que diz, e quem apenas aproveita a maré para não chegar atrasado nas urnas de 2026.
Escrito por Raimundo Accioly
