Em 2025, praticamente todos os municípios do Acre realizaram seus festivais e feiras temáticas: a festa da farinha, da melancia, do açaí, do coco, do mandi, entre outras celebrações regionais que unem economia, cultura e identidade.
Tarauacá, no entanto, terra do maior abacaxi do mundo, ainda não se pronunciou oficialmente sobre a realização do Festival do Abacaxi, evento que, historicamente, representa não apenas uma celebração, mas uma afirmação do que somos enquanto povo e território.
O silêncio que incomoda
O atual governo municipal, liderado pelo prefeito Rodrigo Damasceno, vem se destacando pela retomada de grandes eventos populares, como o carnaval e o festival de praia. No entanto, o silêncio em torno do Festival do Abacaxi tem gerado desconforto entre os produtores rurais, comerciantes e moradores, além de se tornar combustível para o debate político local.
E há razão para isso: o festival é mais do que uma festa — é um instrumento de valorização simbólica e econômica do produto que mais representa Tarauacá no imaginário acreano e nacional.
O abacaxi é, literalmente, o nosso maior patrimônio natural e identitário. É ele que coloca o nome de Tarauacá em manchetes, memes, feiras e conversas pelo Brasil. Ignorar sua celebração é, de certo modo, negar nossa própria imagem coletiva.
A economia que não amadurece
Por décadas, o discurso político exaltou o “maior abacaxi do mundo” como bandeira de orgulho local. Mas a realidade prática permanece estagnada.
Tarauacá ainda não possui uma política pública estruturada voltada à industrialização, beneficiamento e comercialização do abacaxi. O que temos é uma cadeia produtiva baseada quase exclusivamente na venda in natura, sem agregação de valor, sem plano de exportação e sem estímulos permanentes aos produtores.
Enquanto isso, cidades como Feijó e Cruzeiro do Sul transformaram seus produtos-símbolos — o açaí e a farinha — em vetores de desenvolvimento econômico. Eles exportam, industrializam e geram renda. Tarauacá, com seu fruto gigantesco e sabor inigualável, limita-se a festejar por três dias e depois retorna à rotina, como se nada tivesse acontecido.
A festa como política pública
A realização do Festival do Abacaxi não deve ser vista apenas como entretenimento. Ela é um mecanismo de política cultural e econômica.
Um evento desse porte movimenta o comércio, aquece o turismo, gera empregos temporários e reforça o sentimento de pertencimento da população. Além disso, atrai investimentos, desperta o interesse de novos mercados e fortalece a imagem do município no cenário estadual e nacional.
Não se trata de promover shows caros por vaidade política, mas de pensar o festival como plataforma de valorização produtiva e cultural — uma vitrine que una o produtor rural, o artista local e o empreendedor urbano em torno de um mesmo símbolo: o abacaxi.
Conclusão: o desafio da maturidade política
Se Tarauacá tem o maior abacaxi do mundo, precisa também ter a maior consciência pública sobre ele.
É hora de transformar o orgulho simbólico em projeto concreto, a retórica em política de Estado, o discurso em desenvolvimento real.
O festival pode — e deve — ser o ponto de partida dessa virada. Mas, para isso, é necessário planejamento, diálogo e compromisso.
A grandeza de um povo não se mede apenas pelo tamanho do seu fruto, mas pela capacidade de cultivá-lo como símbolo de futuro.
Tarauacá merece celebrar seu abacaxi, não apenas com festa, mas com respeito, visão e propósito.
Por Raimundo Accioly
Professor e comunicador
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MAIOR ABACAXI DO MUNDO
