*POR CHAGAS BATISTA - Após três dias de intenso trabalho da Prefeitura e da Câmara de Vereadores em apoio às famílias atingidas pela enchente, a queda de um trapiche no Beco Altas Horas quase ofuscou todo o esforço e a solidariedade de muitos.
É lamentável que as mazelas de Tarauacá só sejam discutidas em momentos de tragédia. Nessa enchente, tudo o que era possível fazer foi feito. A verdade é que nunca se viu tanto empenho do poder público para assistir à população como agora.
As imagens do desabamento do trapiche, justamente no momento em que agentes públicos carregavam uma pessoa doente em meio aos escombros, são chocantes. Elas escancaram a dura realidade: Tarauacá é uma cidade desumana e insalubre. Vivemos em uma região com menor concentração de habitantes por Km4, Temos muita terra, o povo não pode morar nela.
No entanto, não se pode atribuir o caos urbano à atual gestão. O prefeito Rodrigo foi o único, entre os últimos quatro prefeitos, que demonstrou preocupação em evitar novas construções em áreas alagadiças e de risco. Os demais foram omissos e, em alguns casos, até incentivaram ocupações irregulares.
Entre 2013 e 2016, foram elaborados planos essenciais para o desenvolvimento da cidade: a reformulação do Plano Diretor, o Plano de Mobilidade Urbana, o Plano de Saneamento e Resíduos Sólidos e o levantamento, em parceria com a Defesa Civil, de todas as moradias em áreas de risco, com a consequente proibição de novas construções nesses locais.
Poderia continuar listando irresponsabilidades, ações e omissões, mas basta destacar um fato emblemático: nos últimos 20 anos, apenas o Bairro Esperança foi criado para acolher famílias de baixa renda que não tinha condições de comprar terras. Todas as outras ocupações surgiram de invasões em áreas de preservação permanente e de risco.
Terreno habitável em Tarauacá existe somente para quem tem dinheiro. As pessoas humildes resta a condição de construir casebres em áreas alagadiças e imprópria para moradia. Vou mais uma vez pedir uma audiência pública para debater soluções para enfrentar essa realidade vergonhosa. É preciso discutir uma reforma urbana em Tarauacá.
Não podemos mais aceitar situação como ocorreu na última gestão. Grandes extensões de terra foram adquiridas no perímetro urbano, o dinheiro público foi utilizado para promover infraestruturação e valorizar algumas propriedades particulares.
Digo isso para que os fatos sejam compreendidos com clareza. Embora possa ter divergências com o prefeito Rodrigo, é inegável que, entre os últimos gestores, ele é o que menos contribuiu para que Tarauacá se tornasse essa cidade desumana.
*Chagas Batista é vereador em Tarauacá
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OPINIÃO