Em Tarauacá, as obras de restauração da parte física do histórico Teatro José Potyguara ja foram concluídas e a prefeitura local, com apoio da Fundação Elias Mansour, ja está em fase de conclusão nas insctalações dos aparelhos de ar condicionado, estrutura de som e iluminação. A inauguração está prevista para acontecer nos dias 1, 2 e 3 de julho.
De acordo com a Secretária Municipal de Cultura Geania Portela, os trabalhos estão em ritmo acelerado e a reinauguração deve acontecer com uma intensa programação que vai iniciar no dia 1º de julho e deve durar 3 dias. "Muito trabalho. Nesse momento os técnicos enviados pela Fundação Elias Mansour do Governo do Estado, estão já na fase final da montagem da estrutura de som e da iluminação. Vamos inaugurar com uma vasta programação com espetáculos que vão reunir artistas locais, outros vindos de Cruzeiro do Sul e Rio Branco, declarou.
A restauração do teatro teve inicio em dezembro de 2022, com recursos de uma emenda parlamentar da então Senadora Mailza Assis. "Agradecemos a vice governadora Mailza, que quando era senadora destinou duas emendas para revitalização desse nosso patrimônio, o Senador Marcio Bittar que também colaborou, o então deputado federal Jesus Sérgio, ,o nosso parceiro que é o governo do estado através da FEM e, claro, nossa prefeita Maria Lucinéia e toda a nossa equipe de governo que tem se dedicado a essa ação", finalizou Geânia.
O TEATRO
Batizado com o nome do antigo promotor de Justiça e escritor José Potyguara, autor do livro “Terra Caída”, um romance em que é narrada a aventura da colonização no Acre no início do século passado, o Teatro José Potyguara é o grande patrimônio cultura do município.
O “José Potyguara” foi um dos primeiros teatro construído no Acre, inaugurado em 26 de janeiro de 1933, na administração municipal do então prefeito José Florêncio da Cunha, um jornalista que também fundou no município o jornal “A Reforma” – Florêncio, aliás, vem a ser avô do cientista Djalma Batista, um taracauense que é nome de rua no centro de Manaus (AM). e avô de Djalma Batista.
O Teatro recebeu encenações das peças de José Potyguara, entre elas “Alma Acreana” e “Rasga coração”, além, das apresentações musicais do maestro Mozart Donizetti, autor da música do Hino Acreano, à época todos residindo em Tarauacá.
Fundado em 1932 e enraizado na rica história de Tarauacá, o Teatro José Potyguara tem sido um símbolo de cultura e identidade para a comunidade local. Nos últimos anos, o teatro enfrentou um período de abandono, deixando sua presença imponente envolta em tristeza e negligência.
Agora, o Teatro José Potyguara está prestes a iniciar um novo capítulo emocionante em sua história.
O historiador Isaac Melo, ganhador da medalha Mário de Andrade do IPHAN (Instituto Histórico do Patrimônio Nacional), conta que o Tetro foi inaugurado numa quinta-feira, debaixo de uma chuva torrencial, às nove horas da manhã, diante de uma plateia seleta. Era batizado como “Theatro Municipal” de Tarauacá, “obra grandiosa para Seabra e construída com todos os requisitos da moderna arquitetura”, conforme noticiou um jornal da época. Era o dia 26 de janeiro de 1933.
Ainda de acordo com o historiador, a obra surgiu para atender a do anseio da elite local, construída na administração de José Florêncio da Cunha, o “Cazuzinha”, prefeito do município de 1930 a 1934. Homem culto e apaixonado por artes, “Cazuzinha” fundara, em 1918, um dos mais duradouros e importantes jornais da cidade, “A Reforma”, que circulou até 1938. Ele também era avô do médico e escritor Djalma Batista, acreano ilustre que fez sua vida em Manaus e hoje dá nome a uma das avenidas mais importantes da Capital do Amazonas.
O então promotor e depois escritor de sucesso José Potyguara entra na história como autor do projeto arquitetônico do teatro. O prédio, de construção mista, era de madeira de lei sobre base de alvenaria, medindo, conforme dados da época, “40 palmos de frente por 100 palmos de fundo, contendo um vestíbulo (terraço aberto em arcadas) de 20 palmos; um salão de 50 palmos; caixa de Teatro com palco e camarins”, segundo reproduz Isaac Melo.
A construção, também sob a direção de Potyguara, foi executada na parte de alvenaria pelo “competente artista Sebastião Alves Maia”, português que viveu muitos anos em Tarauacá, responsável por construir os primeiros prédios em alvenaria da cidade, falecido em Manaus, em 1934.
Três dias depois da inauguração, a 29 de janeiro de 1933, estreou ali a primeira peça, chamada “Razões do Coração”, um “melodrama” de autoria de Potyguara, com os números musicais a cargo de Mozart Donizetti, Potyguara e Donizetti eram cearenses de Sobral, e foram personagens importantes da vida cultural, musical e literária de Tarauacá em fins da década de 1920 e dos primeiros anos da de 1930. O Teatro, na época, todavia, não ficou sob a responsabilidade da Prefeitura, que o arrendou em seguida à “Sociedade Sportiva e Dramática Taraucaense”, uma agremiação que havia sido fundada em 1925.
À época do surgimento do Teatro, Tarauacá não contava mais que dois mil habitantes. Já era tempo de crise da borracha, que só ganharia novo fôlego a partir de 1942, sob os efeitos da II Guerra Mundial e os chamados “Acordos de Washington”.
O Teatro, inicialmente, teria cobertura de palha, mas dada às críticas recebidas, “uma nota dissonante na plástica”, conforme se dizia, foi finalmente coberto de telhas. Ao longo dos anos, o Teatro tornou-se o principal ponto de convergência da pequena elite local, lugar onde se realizava os principais eventos, de saraus aos concorridos e animados bailes. Já na década de 1970 funcionou nas dependências do Teatro a “Rádio Educadora 15 de Junho”, que aí ficou até 1981. Também ali funcionou um cinema.
A partir da década de 1990, o Teatro começa a perder fôlego e a estrutura começa a ruir, mesmo tendo sido tombado, em 1994, como patrimônio histórico do Município, na gestão do então prefeito Cleudon Rocha. Só em 1999, na gestão de Jasone Ferreira da Silva, o Teatro foi recuperado, a partir de um convênio com o Ministério da Cultura. “Desde então, o teatro nunca mais havia recebido uma recuperação geral, a não serem reparos paliativos, ao longo das administrações, que, em sua maioria, o ignoraram (e ignoram), tanto do ponto de vista cultural quanto histórico”, escreveu Isaac Melo.
Depois dos anos 2000, o Teatro ainda teve atividade, com a realização, inclusive, de festivais de teatros e apresentações musicais e de dança. Além, é claro, das costumeiras reuniões e convenções políticas. O Teatro Municipal de Tarauacá passou a ser denominado “Teatro José Potyguara” a partir de uma sugestão do historiador e empresário tarauacaense saudoso João Maia. O Teatro José Potyguara, obviamente, não é o primeiro, mas é o mais antigo teatro do Acre. Porém, não é tombado como patrimônio histórico do Estado e, apesar de sua importância cultural e histórica segue, ao longo dos anos, entre descasos e abandonos, correndo o risco de se acabar.
O TEATRO
Está para ser inaugurado, brevemente, o Teatro Municipal, desta cidade, uma das mais úteis realizações do governo do Ilmo. Sr. Tte. Cel. José Florêncio da Cunha. “Obra sunptuosa para Seabra”, como disse o ilustrado clínico Dr. Epaminondas Martins, quando aqui esteve da última vez, o que tem sido confirmado por todos que a visitam. Até admira a sua construção na crise que atravessamos.
Felizmente realizamos uma das aspirações do povo deste Município, e esperamos que outras venham, com o andar dos tempos e ausência da crise, para enriquecer o nosso patrimônio municipal.
Jornal A Reforma, 22 de janeiro de 1933, domingo, Ano XVI, N. 706
ATA DE INAUGURAÇÃO DO TEATRO MUNICIPAL DA CIDADE SEABRA
Ata original de inauguração do Teatro Municipal de Tarauacá (foto de R. Palazzo)
Aos vinte e seis dias do mês de janeiro de mil novecentos e trinta e três, nesta cidade Seabra, sede do Município e Comarca do Tarauacá, Território do Acre, da República dos Estados Unidos do Brasil, sendo Interventor Federal do mesmo Território o Exmo. Sr. Dr. Francisco de Paula de Assis Vasconcellos, pelas nove horas da manhã, presentes o Exmo. Sr. Tte. Cel. José Florêncio da Cunha, Prefeito Municipal do Tarauacá, comigo secretário, abaixo nomeado, e todas autoridades judiciárias e chefes de todas as repartições Federais, Comércio, representantes de classes, famílias e grande número de cidadãos, foi pelo mesmo Sr. Prefeito Municipal, no salão nobre do Edifício do Teatro Municipal, este inaugurado com as formalidades do estilo. Depois do que usando a palavra o Sr. Prefeito fez diversas considerações sobre a ereção da obra, mostrando com dados escritos as despesas ocorridas na construção do mesmo Teatro, salientando o valioso concurso administrativo prestado pelo Exmo. Sr. Dr. Assis Vasconcellos, que patrioticamente ouviu e atendeu todos os pedidos desta administração e em seguida elegiou a ação profícua e benemérita do Exmo. Sr. Dr. José Potyguara da Frota e Silva na realização da obra que hoje se inaugura, revelando assim o seu alto patriotismo e amor ao progresso destas regiões novas, onde tão salutar se torna os efeitos maravilhosos da civilização. O Dr. José Potyguara exerce com aplausos e critério, o cargo de Adjunto de Promotor Público do 2.o Termo desta Comarca, com sede em Feijó. E para constar lavrei esta presente ata que vai assinada pelo Sr. Prefeito, autoridades e por todos os presentes ao ato. Eu, Manoel Elísio da Frota, Secretário da Prefeitura a escrevi e assino. (Assinados): José Florêncio da Cunha, Edgard de Castro (dr.), Rafael Guedes Corrêa Gondim (dr.), Rafael Dornelas Câmara (dr.), José Potyguara da Frota e Silva (dr.), João Jeronimo Magalhães, Julio Pereira Roque, Auton Furtado, Leoncio José Rodrigues (dr.), José Marques de Albuquerque, Raul Mendes, Jamil Ossami, Hipólito de Albuquerque Silva, Ubaldo Menezes, Libania Gomes Rodrigues, Hilda Gomes Farias Rezende, Joaquim Ribeiro Viana, Tte Domingos Gonçalves Sobreira, José Umbelino de Souza, Odete do Rego Catão, Carlota Cunha, Alaide Herminia do Nascimento, Maria de Farias Furtado, Irineu Catão, Arnaldo Farias, Raimundo Otavio da Costa, Maria Ester de Sousa Vale, Carmina Saboia, Alda do Rego Catão, Mozart Donizetti Gondim, Antônio Teófilo Lessa, Almerio Bandeira de Melo, João Caldas do Lao, Magib Alabi, Sergio Paugo, Jofre do Rego Catão, Carlos Martinho, José Higino de Sousa, J.M. Neiva, Antonio Paulino Gomes, João Umbelino de Sousa, Antonio Albertino Filho, Rusá Eliamen, José Soares Judidat, Gabriel Vieira de Sousa, José do Rego Catão, Horacio Ferreira Lima, Francisco Altino Angelim, João Bruno Cordeiro, João Vieira Leitão, Benedito da Silva Coutinho, Sebastião Alves Maia, Bento Moreira de Rezende, Francisco Pinheiro Dantas, Raimundo Araújo, Anastacio Rodrigues de Farias, Audizio Farias, Raimundo Acreano, Odilon Nunes da Rocha, Braulino Cicero de Sousa, Manoel Sousa de Albuquerque, Hiran Augusto de Sousa, Manoel Vieira da Cunha, Manoel Elisio Frota, Antonio Gabriel de Oliveira, Antonio Murú Ramos de Menezes, Manoel de Oliveira Martins e José de Sá Barreto.
Jornal A Reforma, 29 de janeiro de 1933, domingo, Ano XVI, N. 707
Fontes:
Blog Alma Acreana
ContilNet
tarauaca.ac.gov.br