Análises de Gilberto Menezes Côrtes mostram que o banco Itaú pode ser o mais rentável do mundo, graças ao oligopólio do sistema bancário brasileiro, e que o lucro acumulado recorrente e consolidado do BTG o inscreveu no seleto grupo de instituições financeiras que geram mais de R$ 10 bilhões
Banqueiro André Esteves, do BTG Pactual Reprodução de vídeo
Itaú lucra R$ 35,6 bilhões em 2023 e paga R$ 21,5 bilhões aos acionistas
Por Gilberto Menezes Côrtes
O Itaú Unibanco Holding, que compreende as atividades financeiras e bancárias no Brasil e na América Latina, teve lucro líquido recorrente gerencial de R$ 9,401 bilhões no último trimestre, com aumento de 4%, fechando o ano com R$ 35,6 bilhões, um aumento de 15,7% sobre 2022. Houve retorno de 21,0% sobre o patrimônio líquido (+0,6 p.p. frente a 2022). No ano passado, o Itaú distribuiu (pagos e a serem pagos) R$ 21,5 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio para os acionistas. Um “payout" de 60,3%.
As operações no Brasil representaram 92,4% do lucro (R$ 32,906 bilhões), enquanto as operações na América Latina renderam R$ 2,712 bilhões (7,6% do total). O Itaú aproveitou a venda da operação na Argentina, que gerou R$ 1,2 bilhão, para reduzir as provisões para devedores duvidosos (para Americanas e outros devedores), que caiu 3,5%, de R$ 57,3 bilhões, em 30 de junho, a R$ 55,3 bilhões, em dezembro.
Inadimplência de 4,4% em pessoas físicas
O Itaú reduziu a inadimplência na carteira de grandes empresas para 0,1% no Brasil, mas o atraso das pessoas físicas, embora em queda, fechou em 4,4%, influindo na taxa total de 2,8%, o dobro da inadimplência da América Latina (1,4%), onde houve forte crescimento de atrasos no Chile.
As receitas com prestação de serviços e seguros aumentaram 5,3% na comparação anual, somando R$ 42,6 bilhões. O aumento ocorreu com maior faturamento na atividade de cartões, tanto em emissão quanto em adquirência, além da evolução positiva do resultado com seguros. As despesas não decorrentes de juros cresceram 6,5%, enquanto o índice de eficiência recuou 1,3 p.p. no consolidado e 1,2 p.p. no Brasil, e atingiram 39,9% e 37,9%, respectivamente.
Venda de carteiras
No trimestre, o Itaú vendeu carteiras ativas sem retenção de riscos para empresas não ligadas. Dessa venda, R$ 375 milhões referem-se a créditos ativos, que estavam com atraso superior a 90 dias, dos quais R$ 344 milhões ainda estariam ativos ao final de dezembro de 2023 não fosse a venda.
Ainda vendeu R$ 195 milhões referentes a carteiras ativas em dia ou com atraso curto. Essas vendas de carteiras ativas trouxeram impactos negativos de R$ 19 milhões no produto bancário, positivo de R$ 55 milhões no custo do crédito e positivo de R$ 20 milhões no resultado recorrente gerencial, e não trouxeram impacto material nos indicadores de qualidade de crédito.
O lucro trimestral
As operações de Varejo, que incluem crédito pessoal, imobiliário, empréstimos consignados, cartões de crédito, serviços de adquirência, financiamento de veículos, seguros, previdência e capitalização, clientes do Uniclass e do Personnalité e micro e pequenas empresas registraram lucro de R$ 3,606 bilhões no quarto trimestre, com aumento de 12,8% sobre o trimestre anterior.
Nas atividades do Atacado, que compreendem as operações da AL, o lucro recorrente foi de R$ 4,876 bilhões, com queda de 4,2% no ano, pelo fim das operações na Argentina. As atividades de mercado e corporativas renderam R$ 919,7 milhões, com aumento de 21,8% sobre 2022.
BTG lucra R$ 10,4 bi e bate Santander
Com a divulgação, após o fechamento dos mercados, do resultado do Itaú Unibanco holding no quarto trimestre, já dará para medir a tendência da rentabilidade do sistema bancário em 2023. Os analistas esperam elevação de 30% nos lucros do último trimestre. Como o Itaú, incluindo operações da América Latina da “holding”, lucrou R$ 9,04 bilhões, isso projeta lucro de R$ 9,4/9,5 bilhões no último trimestre, e lucro anual de R$ 34/35 bilhões em 2023.
Apesar da “performance”, que deve vir acompanhada de generosa distribuição de dividendos, o Itaú pode vir a ser superado em 2023 pelo Banco do Brasil, que acumulou ganhos de R$ 24,957 bilhões até setembro, contra R$ 26,217 bilhões do Itaú. Excluindo os impactos das filiais no exterior (o BB também é ativo), sem dúvida, o BB deve se manter como o maior banco do país. Na gestão de recursos, segundo a Anbima, o BB amealhou R$ 1.495,4 bilhões, contra R$ 1.435,9 bilhões do Itaú. A distância sobre o Bradesco (divulga os resultados na quarta-feira) se alargou na gestão de recursos, com o banco da Cidade de Deus amealhando R$ 1.043,5 bilhões.
O efeito Americanas
Um dos fatores que vai influir nos lucros são as provisões para as Americanas e outras empresas em recuperação judicial (Light, Gol, Unigel). O Bradesco, que era o maior credor, seguido pelo Itaú (considerando os fundos geridos pelo Itaú), sofreu muito e os ganhos só não foram menores graças aos resultados da Bradesco Seguros, controlada 100% pelo banco.
O Santander, que já divulgou os resultados em 2023, teve de elevar fortemente as provisões no último trimestre para cobrar perdas de devedores duvidosos e encolheu o lucro em 27%. A filial brasileira da organização de Ana Botin, já perdeu posição para o BTG-Pactual no ranking de gestores de recursos. Segundo a Anbima, o Santander tinha R$ 414 bilhões sob sua gestão, sendo superado pelos R$ 593,5 bilhões do BTG-Pactual, que ficou na quinta posição, atrás dos R$ 626,6 bilhões da Caixa Econômica Federal.
BTG entra na faixa de R$ 10 bi de lucro
O resultado do BTG-Pactual no quarto trimestre (R$ 2,847 bilhões) ficou bem acima dos R$ 2,2 bilhões do Santander no mesmo período e consolidou a posição do banco controlado por André Esteves como o quinto de maior lucro do país. O lucro acumulado recorrente e consolidado do BGT-Pactual em 2023 (R$ 10,419 bilhões) não só o inscreveu no seleto grupo de instituições financeiras que geram mais de R$ 10 bilhões de resultado, como desbancou o Santander, que ficou com modestos R$ 9,383 bilhões, com as perdas da Americanas.
A CEF, que lucrou R$ 7m8 bilhões de janeiro a setembro, também pode fazer parte do grupo com mais de R$ 10 bi de lucro. O Bradesco corre o risco de não atingir R$ 22 bilhões, o que o deixaria muito distante do Itaú e do BB.
Clivagem poupa recursos públicos
Os dados já revelados na peneira feita pelo Ministério do Desenvolvimento Social na listagem dos beneficiários do Bolsa Família é um indicador animador para que outras unidades do governo façam clivagem para verificar a autenticidade das credenciais dos beneficiários dos programas sociais.
É sabido que as varreduras (sempre criticadas) nos beneficiários dos diversos programas do INSS (seja aposentados que já morreram e não deram baixa, seja beneficiários do seguro-desemprego que já estão empregados, mas evitam assinar a carteira para não perder o pecúlio, ou mesmo quem estava de licença médica, mas já estava curado e trabalhando e continuava pendurado no INSS) têm poupado muito dinheiro público. O mesmo se passado no BPC.
Mas é espantoso o que já se economizou na varredura do cadastro do Bolsa Família. Quando o programa foi batizado de Auxílio Emergencial, no governo Bolsonaro, ele teve um súbito aumento quando o AE foi reajustado para R$ 600 em julho de 2022 (como parte do pacote eleitoreiro do candidato ã reeleição). Ao fim de 2022 havia 5,8 milhões de beneficiários unifamíliares. Após o “pente fino”, o cadastro cortou 1,7 milhão de benefícios indevidos (a R$ 600 cada, uma economia de R$ 1,020 bilhão mensais, ou R$ 12,240 bilhões em um ano). Vale lembrar que o recadastramento no meio do ano passado encontrou 17 milhões de inscrições irregulares e o programa conseguiu incluir 1,3 milhão que tinham direito, mas estavam à margem do programa social.
Justiça fiscal
Imagine-se o que está escorrendo em benefícios fiscais e abatimentos do IR?
Por isso, o secretário especial de Reforma Tributária, Bernard Appy, defende um pente fino geral. Pode-se poupar muito e redirecionar os parcos recursos públicos a quem precisa. Isso se chama justiça fiscal.
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