Ex-primeira-dama e filho 03 faziam parte de um grupo de conselheiros radicais que incitava o então presidente; acusação ocorreu dentro do acordo de delação premiada
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), afirmou à Polícia Federal, dentro do acordo de delação premiada, que recebeu ordem do então chefe de Estado para avaliar o valor de um relógio Rolex e outros itens de luxo que faziam parte do kit recebido de presente da Arábia Saudita. Na delação, ele afirmou que o seu ex-patrão fez uma "determinação" e ainda o autorizou a vender as peças. A informação é do Blog da Andréia Sadi, no g1.
O acordo de delação foi firmado pela PF e homologado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em 9 de setembro. Cid aponta Bolsonaro como mandante dos supostos crimes investigados nesta frente de apuração — peculato (desvio de bens públicos) e lavagem de dinheiro.
A versão de Cid confirma as suspeitas anteriores da PF de que as joias foram vendidas a mando do ex-presidente, que teria recebido os valores em dinheiro vivo para não deixar rastros. Ao mesmo tempo, vai de encontro a declaração de Bolsonaro, que alegou que seu ajudante de ordens tinha “autonomia” e que não mandou “ninguém vender nada”.
O ex-ajudante de ordens ainda relatou que Bolsonaro estava reclamando de ter que pagar uma condenação judicial em processo movido pela deputada Maria do Rosário (PT-RS), além de gastos com a mudança e o transporte do acervo de presentes recebidos, além das multas de trânsito por não usar capacete em motociatas. Na ocasião, início de 2022, ele perguntou a Cid quais presentes de valor havia recebido de países no exterior.
O militar, por sua vez, disse que verificou que as peças mais fáceis de mensurar o valor seriam os relógios, e solicitou ao Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH), órgão que organizava o acervo presidencial, uma lista dos relógios que o presidente ganhou.
O tenente-coronel contou à PF que avisou Bolsonaro que o relógio que poderia ser vendido de forma mais rápida era um Rolex de ouro branco dado pela Arábia Saudita em 2019, durante uma viagem oficial.
Ainda segundo Cid, o presidente perguntou se esse relógio poderia ser vendido. O ex-ajudante de ordens afirmou que “recebeu determinação do presidente” para levantar o valor e vender o Relox e os demais itens do kit ouro branco.
Golpe de estado
Cid também "jogou no ventilador" as tramas do clã Bolsonaro para um golpe de Estado. De acordo com o militar, que era uma das pessoas mais próximas de Jair durante seus quatro anos de mandato, a ex-primeira-dama Michelle e um dos filhos do ex-presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), faziam parte de um grupo de conselheiros radicais que não aceitava o resultado das urnas e incitava o ex-capitão à intentona.
Os golpistas, segundo Cid, diziam que Bolsonaro tinha apoio da população e dos atiradores esportivos, conhecidos como CACs (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador), para uma tentativa de golpe.
Cid conta ainda que, no lado oposto do irmão e da esposa do pai, o senador Flávio Bolsonaro (PL) fazia parte de um grupo moderado composto pela ala política do governo que tentava convencer Bolsonaro a se pronunciar publicamente sobre o resultado da eleição para pedir que os manifestantes golpistas deixassem as ruas e voltassem para suas casas.
Michele e Eduardo Bolsonaro negam
A defesa de Jair e Michelle Bolsonaro classificou as acusações de "absurdas", e disse que não são amparadas em elementos de prova.
"As afirmações feitas por supostas fontes são absurdas e sem qualquer amparo na verdade e, via de efeito, em elementos de prova. Causa, a um só tempo, espécie e preocupação à defesa do ex-presidente Bolsonaro que tais falas surjam nestes termos e contrariem frontalmente as recentíssimas — ditas e reditas —, declarações do subprocurador da República, dr. Carlos Frederico, indicando que as declarações prestadas pelo tenente-coronel Mauro Cid, a título de colaboração premiada, não apontavam qualquer elemento que pudesse implicar o ex-presidente nos fatos em apuração", afirmou o advogado Paulo Cunha Bueno.
Bueno disse também que Bolsonaro ou seus familiares "jamais estiveram conectados a movimentos que projetassem a ruptura institucional do país".
O deputado Eduardo Bolsonaro seguiu na mesma linha e acrescentou, em nota, que a delação já foi classificada como "fraca, inconsistente e sem elementos de provas" pelo subprocurador Carlos Frederico.
"Querer envolver meu nome nessa narrativa não passa de fantasia, devaneio. Se a oposição queria dar um golpe, pergunta-se, então, por que o ministro da Justiça tudo fez para que as imagens de seu ministério não se tornassem públicas?", afirmou.
Por Jornal do Brasil
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