A divisão igualitária das tarefas possibilitaria a todos uma relação mais saudável.
A relação hierarquizante nas famílias acaba reforçando as relações de poder antigas e trabalhadas em anos de exploração das mulheres.
Sabemos muito bem o quanto a educação infantil pode ser complexa, e não podemos esquecer que cada família tem as próprias dimensões de certo e errado. As subjetividades das relações humanas fazem com que algumas temáticas importantes deixem de ser debatidas pelo simples fato de serem consideradas complexas demais.
A frase que usamos como título deste texto é do psiquiatra e escritor Içami Tiba, que produziu diversas obras abordando a relação entre pais, filhos e educadores.
A frase é um trecho do livro “Disciplina – limite na medida certa”, em que aborda um pouco da temática sobrecarga materna, mas partindo do princípio de que as mães deveriam deixar os filhos tomarem as rédeas da própria vida, ao invés de fazer tudo por eles.
De acordo com o psiquiatra, essa forma de agir passa a ideia de que as mães têm toda a responsabilidade, enquanto aos filhos cabe apenas curtir a vida. Ele acredita que o melhor seria se as mães apenas ajudassem os filhos, sem carregar todo o peso, mas se mostrando disponíveis e acolhedoras.
Como as mulheres cresceram numa sociedade majoritariamente machista e viram alguns direitos sendo conquistados ao longo dos anos, acabaram se encontrando em uma encruzilhada de ideias, sem saber ao certo como devem agir. Ao mesmo tempo em que hoje em dia podem trabalhar fora, culturalmente ainda são as que mais realizam as atividades domésticas.
Além disso, a carga de criação dos filhos acaba sendo atribuída mais às mães do que aos pais, isso porque ainda não se mudou o pensamento enraizado de que elas são mais “amorosas”, “compreensivas” e “delicadas”, sem falar que “levam mais jeito com as crianças”. Enquanto os genitores não dividirem as funções domésticas e de criação, as crianças continuarão crescendo enxergando essa disparidade entre os gêneros.
É muito simples. Culturalmente, as mulheres são tendem a “dar conta de tudo” para mostrar que conseguem trabalhar fora e merecem salários igualitários e posições de destaque em empresas grandes. Quando se deparam com as demandas da casa e da família, abraçam-nas com a mesma intensidade, inclusive realizando tarefas que os filhos deveriam fazer.
Mas não é preciso ir muito longe para ver onde nasce essa ideia. Enquanto as mulheres lidarem com a sobrecarga emocional e física de trabalhar em duplas ou triplas jornadas, sendo que apenas uma tem remuneração, os filhos não vão aprender como superar a desigualdade de gênero.
Oferecer acolhimento e amor aos filhos é uma das principais ferramentas de transformação que existem. Conversar com eles como indivíduos, respeitando suas vontades e mostrando que as suas também devem ser respeitadas abre as portas para uma criação neurocompatível, em que todos lutam por um futuro melhor, onde ninguém precise lidar com sobrecarga nenhuma.