THE INTERCEPT - Pastores, generais, sertanejos...

Não falha: para onde se olhe na extrema direita brasileira, ali estará uma falcatrua. Em todas as áreas, em todos os meios. Generais, pastores, empresários, políticos e até cantores sertanejos. A extrema direita brasileira é o berço da mamata.

O esquema da vez é bem simples. Prefeituras de pequenas cidades onde falta de tudo, saneamento, asfalto, profissionais de saúde, contratam shows caríssimos de cantores sertanejos sem licitação. Aquele mesmo pessoal que gritava pelo fim da Lei Rouanet não vê problema algum em repassar diretamente pras mãos de Gusttavo Lima R$ 800 mil por um show. "Mas qual o problema nisso?", você pode perguntar.

O mais óbvio é a questão ética. Hoje já sabemos que uma das cidades que contrataram Gusttavo, por exemplo, foi devastada pelas chuvas de março. Diante disso, a prioridade da prefeitura deveria ser pagar o show do sertanejo?

Por outro lado, sabemos que esse é o tipo de história em que quanto mais se mexe, mais fede — razão pela qual já pegou nas redes sociais a hashtag #CPIdosSertanejos. Afinal, que baita coincidência que um mesmo grupo de artistas seja contratado com frequência por prefeituras de perfil similar, não? Mexendo, já se descobriu, por exemplo, que boa parte dos recursos vêm de emendas parlamentares, as tais "emendas Pix", aquelas em que o prefeito faz o que bem entender com o dinheiro. Não é descabido acreditar que tem algo aí para ser investigado com profundidade, convenhamos.

Agora, uma pergunta: você sabe como essa história veio à tona? Sim, tudo começou com o bate-boca entre Anitta e os sertanejos nas redes, mas quem foi atrás das contratações das prefeituras foram jornalistas. Quem também chamou atenção para os esquemas dos pastores do MEC, da rachadinha de Flávio Bolsonaro, para o "homem da casa de vidro" e outros tantos conluios foram jornalistas investigativos.

O que quero te mostrar é que até outubro dá para expor muita sujeira da extrema direita, não tenho dúvida. Como disse no começo deste texto: tem mamata para tudo quanto é lado, e revelar esses casos é parte essencial do esforço para salvarmos o que ainda dá para salvar da democracia brasileira. A extrema direita não é apenas violenta, racista, misógina: ela é antes de tudo um parasita da institucionalidade. Ela não quer apenas corroer as instituições: enquanto faz isso, se alimenta delas, sugando o que pode de recursos públicos. Esse é o resumo da trajetória da família presidencial: passaram a vida detonando as instituições enquanto criavam esquemas para acumular dinheiro por meio delas.

Juntos, nós ainda podemos fazer algo em relação a isso. Não sei como será depois de outubro, mas até lá precisamos muito do bom combate. E nesses quatro anos de bolsonarismo ficou claro que o bom combate passa necessariamente pelo jornalismo que investiga, denuncia e expõe. O Intercept está nessa trincheira e você bem sabe da nossa capacidade de ir pra cima deles.



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