O projeto arquitetônico é do escritor José Potyguara, cuja peça, Razões do coração, foi a primeira encenada no teatro, três dias depois de sua inauguração. A peça contava, também, com números musicais do maestro Mozart Donizetti, que aí, em Tarauacá, compôs a melodia da letra do Hino Acreano, escrito pelo baiano Francisco Mangabeira.
Os acabamentos artísticos foram executados pelo artista português José Alves Maia, que faleceu em Manaus-AM. A construção é parte em madeira e parte em alvenaria. Foi a principal referência cultural, durante décadas, da pequena elite local, com seus recitais, peças, bailes, saraus, etc.
Diferentemente do que essas assessorias mal informadas e desses jornalistas incompetentes e preguiçosos do Ctrl+C e Ctrl+V, o Teatro José Potyguara não é o primeiro teatro construído do Acre. Dentre todos os teatros que atualmente existem no Estado, ele é o mais antigo, estando de pé desde 1933, como já assinalado.
Na década de 1930, Tarauacá não contava mais que dois mil habitantes. O Teatro destacava-se em toda a paisagem citadina, inclusive em relação à igreja, que costuma ter o prédio mais imponente.
O teatro surgiu a partir da própria necessidade de um espaço cultural de encontro para a comunidade local, que costumava realizar alguns de seus eventos, no palco do então Grupo Escolar João Ribeiro. Inicialmente a cobertura seria de palha, mas devido as críticas recebidas, decidiu-se pelas telhas.
É importante lembrar que, nesse período, o Acre, de modo geral, vivia um marasmo em sua economia, com fim do 1º ciclo da borracha, ainda antes da década de 1920, sem a efervescências dos seringais, que sobreviviam graças à exploração de madeira, couro animal e produtos extraídos da floresta, como a castanha, etc., e, claro, a borracha, em menor escala.
No último dia 12, deste mês, a prefeita de Tarauacá, recebeu uma equipe de servidores da Associação dos Municípios do Acre com a finalidade de elaborar um projeto de revitalização do Teatro. O dinheiro seria fruto de uma emenda parlamentar da atual senadora Mailza Gomes, orçada inicialmente em 600 mil, mas confirmada, ultimamente, no valor de 500 mil.
A última revitalização ocorreu em 1999, naquela época orçada em 150 mil. Ao longo do anos, em sucessivas administrações, o teatro, por não receber manutenção e os cuidados necessários, foi decaindo até chegar ao extremo do abandono e descaso, como ainda se encontra atualmente.
O teatro é tombado pelo patrimônio histórico do município, mas não é tombado pelo patrimônio histórico do Estado, que, também, ao longo de sua história, o tem ignorado, esse que é um repositório significativo de uma parte pouco conhecida da cultura acreana, por tantos personagens e histórias que encontraram, ali, o seu palco.
São oitenta e nove anos de um Teatro que ninguém sabe, ninguém vê e ninguém quer. Porém, por teimosia, resiste, Potyguara!
Texto de Isaac Melo
Professor, licenciado e especialista em filosofia pela PUC-PR, além de escritor e poeta.
Professor, licenciado e especialista em filosofia pela PUC-PR, além de escritor e poeta.