Quem acompanha o filósofo Mario Sérgio Cortella sabe que ele consegue abordar temas complexos e atuais com muita sabedoria e simplicidade, vai direto ao ponto e nos promove muitas reflexões importantes sobre nós mesmos e sobre a sociedade de uma maneira geral.
No momento de grandes mudanças que vivenciamos atualmente, precisamos aprender a mudar e nos adaptar, para continuarmos evoluindo em um caminho positivo. Essa evolução deve se dar especialmente na educação, em casa e no mundo lá fora. Em uma entrevista exclusiva à CRESCER, Cortella fala sobre esse tema, reforçando a importância da educação saudável e equilibrada das crianças por parte dos pais.
Para Cortella, as mudanças constantes que vivenciamos na sociedade afetam diretamente os relacionamentos entre pais e filhos:
“Uma parte das famílias acabou perdendo um pouco a referência dada à velocidade das mudanças e à rarefação do tempo de convivência com as crianças. Isso fez com que muitas acabassem terceirizando o contato com os filhos e delegando à escola aquilo que é originalmente de sua responsabilidade. Só que isso perturba a formação das novas gerações. É claro que criar pessoas dá trabalho e exige esforço. Acontece que, no meio de todas essas mudanças, alguns pais e mães ficam desorientados. Por isso, é necessário que eles encontrem apoio, em livros, revistas, grupos de discussão. Não é só a educação dos filhos que é necessária, mas a dos pais também.”
O que ele quer dizer é que, para que os pais consigam criar seus filhos da maneira correta, devem apresentar a eles os melhores caminhos e contribuam para seu sucesso e realização em todas as áreas da vida, precisam capacitar a si mesmos em primeiro lugar. Afinal, os pais são os maiores exemplos dos filhos, e é neles que as crianças se espelham para moldar seu caráter e personalidade.
“No convívio familiar, uma coisa que é antiga, mas não é velha, é o respeito recíproco. Outra é a capacidade de o adulto saber que a criança é “subordinada” a ele, ou seja, que está sob as suas ordens. O pai não pode se tornar refém de alguém que ele orienta e cria. Agora, uma coisa que é velha e que deve ser descartada é o autoritarismo, a agressão física, o modo de ação que acaba produzindo algum tipo de crueldade. Isso é velho e é necessário, sim, mudar. Na relação de convivência em família é preciso modificar aquilo que é arcaico. O que não dá para perder é a honestidade, a afetividade e a gratidão. Tudo isso vem do passado e tem que continuar.”
Apesar de os pais deverem manter sua postura de autoridade, podem fazer isso com respeito, para que se tornem amigos dos filhos, e construam um lar democrático, sem autoritarismo.
“O pai e a mãe têm que saber que ele ou ela é a autoridade. Ao abrir mão disso, há um custo. Quem se subordina a crianças e jovens, e têm sobre eles alguma responsabilidade, está sendo leviano.
Claro (que podem ser amigos dos filhos). O que não pode é ser íntimo no sentido de perder a sua autoridade. Eu tenho amizade com os meus alunos, mas isso não retira a autoridade nem a responsabilidade que eu tenho sobre eles como professor. Há uma frase que precisa ser deixada de lado que diz que “o amor aceita tudo”. Isso é uma tolice. O amor inteligente, o amor responsável é capaz de negar o que deve ser negado.
A frase certa é: “Porque eu te amo é que eu não aceito isso de você”. O amor que tudo aceita é leviano, irresponsável.”
O relacionamento com os pais é um dos mais importantes para as crianças, porque serão a base de sua saúde emocional. Por isso é fundamental que haja um equilíbrio saudável entre amizade e autoridade, e que os pais estejam abertos a se reeducarem, quando for necessário.
Direitos autorais da imagem de capa: Nana Higa/Divulgação
fonte: https://osegredo.com.br/