Socorro Neri será candidata à reeleição, se depender de mim, diz deputado aliado


Se até o Império Romano desabou, por que uma força política esquerdista, nos rincões do Brasil, não acabaria? A “fadiga de material” e as lutas intestinas figuram como principais causas. Por conseguinte, uma pergunta (nada retórica) não quer calar: qual foi mesmo o legado deixado pela extinta Frente Popular do Acre (FPA) em 20 anos de poder?

“A FPA deixou de existir em 2018. Neste momento se organiza uma nova força política”/Foto: Reprodução
Para os seus membros, em linhas gerais, foi um período em que as instituições voltaram a funcionar, houve um melhoramento das cidades e ganhos com a preservação ambiental. Para os adversários, um momento de estagnação econômica, perseguição política, aparelhamento das instituições e do movimento social e culto ao personalismo.

Controvérsias à parte, o fato é que o desenho político nos dias atuais é outro. O PT, que foi varrido nas últimas eleições, tem interesses colidentes com o grupo da prefeita Socorro Neri (PSB). O desejo dos companheiros de lançarem candidato próprio é proporcional ao da alcaidesa de se afastar do grupo. Resumo da ópera: a unidade de outrora é apenas uma quimera.

Jenilson foi entrevistado pelo jornalista Jorge Natal/Foto: Reprodução
Para falar sobre isso e outros assuntos, a ContilNet procurou o deputado e presidente municipal do PSB, Jenilson Lopes Leite, de 42 anos. Considerado um dos melhores parlamentares da atual legislatura, ele, que integra as esquerdas deste a adolescência, não titubeia ao avaliar o atual cenário: “A FPA existiu até as eleições de 2018”, sentencia o dirigente.

Nascido no Seringal Mucuripe (Rio Muru), em Tarauacá, o político, que se formou pela Escola Latino Americana de Medicina de Havana (Cuba), destacou-se na defesa dos servidores públicos e consumidores, notadamente nos episódios da reforma da Previdência e nos embates com a malfadada Energisa. Em um local bucólico no Canal da Maternidade, em Rio Branco, ele nos concedeu a seguinte entrevista:

Contilnet – Quando e como a política partidária entrou na sua vida?

Jenilson Leite – Eu fiquei até os oito anos de idade na zona rural. Depois fui morar na casa da minha avó, para poder estudar, e os meus pais continuaram no seringal. Foi quando eu estudava a 5ª série. Era da Igreja Católica, organizava os grupos de jovens, participava das atividades culturais e da organização das missas. Cheguei a me preparar para o seminário, mas, quando conclui o 2º grau, tive que optar entre o sacerdócio e uma escola agrícola. Fui para um colégio interno no interior de São Paulo onde me formei em técnico agropecuário. Depois, de volta ao Acre, entrei na UJS (União da Juventude Socialista). A política partidária aconteceu através do meu tio, o Chagas Batista, que foi vereador pelo PC do B e depois chegou a ser vice-prefeito de Tarauacá.O político se formou pela 

Contilnet – Em que ano o senhor voltou para o Acre?

Jenilson Leite – Voltando para o Acre em 1998, comecei a trabalhar como professor e, naquele mesmo ano, a FPA ganhou as eleições e eu fui ser o coordenador da Seaprof na região. Quatro anos depois, ganhei uma bolsa para fazer Medicina e embarquei para Cuba. Era uma oportunidade que o governo daquele país oferecia para pessoas de baixa renda e ligadas ao movimento social. Eu fiz um ano do Pré-Médico e mais seis até me formar em Medicina. Nesse período, atuei na delegação brasileira em Cuba. Depois fui para a Junta das Nações, que é a representação de todos os países. Também ajudei a criar a Associação Brasileira dos Médicos Formados no Exterior, entidade na qual fui presidente. Em seguida, já como médico, fui para o Haiti na ocasião daquele terremoto. Depois, vim para o Acre e fui trabalhar na Vigilância Epidemiológica da prefeitura de Rio Branco. Pouco tempo depois, passei no exame para a revalidação do diploma e, em seguida, fiz uma especialização em Infectologia.

Contilnet – Em 2014, contra todos os prognósticos, o senhor se elegeu deputado estadual. Como isso aconteceu?

Jenilson Leite – A chapa a que eu concorri tinha o Eduardo Farias e o Chico Viga com mandatos, mas acabei ficando com a única vaga. Empossado deputado, tive a oportunidade de conhecer melhor o Acre. Não perdi a minha ligação com os povos tradicionais, subindo e descendo os rios, em visitas aos pequenos povoados. Esse foi o perfil do nosso primeiro mandato, no qual foi um dos parlamentares mais produtivos. Mesmo sendo da base do governo, a gente votava de acordo com os nossos princípios, sempre optando pelo que era melhor para a população.

Contilnet – Na eleição seguinte o senhor dobrou a sua votação. Por quê?

Jenilson Leite – Foi por causa da nossa presença no município de Tarauacá e nas bases, de um modo geral. Também credito a isso os nossos posicionamentos dentro da saúde, votando contra a terceirização e sendo favorável ao Pró-Saúde. Isso consolidou a marca de deputado da saúde e com posições coerentes.

Contilnet – Como o senhor avalia os 20 anos de governo da FPA?

Jenilson Leite – A FPA acertou muito e errou também. Um dos acertos administrativos foi a repaginagem na cara do Acre. Essa imagem mudou aos olhos das pessoas que vinham de fora e também pelo povo daqui. Hoje temos cartões postais e as instituições passaram a verdadeiramente funcionar. A saúde avançou muito porque quase não tínhamos especialidades no Acre. Quantos aos erros foram mais políticos do que administrativos. Na parte econômica, passamos um bom tempo com a Florestania. Não surgiu nenhum produto florestal capaz de ter larga escala comercial. Não adicionamos ciência nas tipologias produtivas, principalmente no setor de biotecnologia. Tudo que é fármacos e cosméticos é produzidos através de pasmas animais e seivas vegetais, respectivamente. A pecuária deveria ter sido estimulada, pois é o setor que mais gera divisas para o estado. Faltaram investimentos para alavancarmos a produção, uma vez que é possível criar quatro cabeças de gado por um hectare. A agricultura familiar não foi diversificada e ficamos com as culturas temporárias como a mandioca, o milho e a banana. Faltaram investimentos em culturas permanentes como o cupuaçu, a graviola e o açaí. A fruticultura, ou seja, a agroindústria, que movimenta os três setores da economia, poderia ter sido uma alternativa econômica para o estado do Acre.

Contilnet – O senhor apresentou algum o projeto para alavancar o setor produtivo?

Jenilson Leite – Sim, mas foi em outro setor. Apresentei um projeto de lei para tornar, não só o acesso, mas o investimento em conhecimento e na produção de tecnologias da informação. Os jovens, principalmente do interior, precisam aprender a fazer aplicativos, dentre outros programas, mesmo porque esse mercado é aberto para o mundo, ou seja, ele não precisa de estradas, de rios ou pontes.

Contilnet – E o agronegócio do governador Gladson Cameli?

Jenilson Leite – O governador associou o agronegócio ao plantio de soja. Não podemos inventar coisas que fogem da nossa realidade. Não existem tantas terras disponíveis para essa cultura. Somos uma das regiões que mais chove no Brasil e, como sabemos, a plantação começa no mês de novembro. O Gladson vai ter terminar o governo dele sem conseguir produzir uma lata de óleo da soja do Acre. A palavra agronegócio significa ter um setor organizado deste o plantio, passando pelo transporte até o comércio.

Contilnet – Como o senhor avalia a saúde no estado?

Jenilson Leite – A saúde piorou. Desde o governo passado já tínhamos problemas. Mas agora os fluxos foram cortados. As cirurgias, a aquisição de medicamentos e o material médico-hospitalar foram reduzidos. O Gladson dizia que tinha dinheiro e o que faltava era gestão. Nós tivemos uma greve, que se deu pelo não cumprimento de uma promessa do governador com os servidores. E o que aconteceu? Eu fui pedir para a direção receber uma comissão e fui tratado com hostilidade por um coronel, que apontou o dedo para mim. Eu pedi para ele baixar a mão e o gestor chamou os servidores de vagabundos. Eu exigi respeito e fui agarrado pelo braço, segundo ele para me dar voz de prisão. Eu o empurrei e gerou toda aquela confusão.

Contilnet – Por que o senhor saiu do PC do B?

Jenilson Leite – A minha saída foi tranqüila. Eu me relaciono bem com as pessoas do partido, inclusive com o deputado Edvaldo Magalhães. Quanto eu morava no seringal saí de casa para estudar. Quando estava na casa da minha avó fui para São Paulo. Sempre procurei novas perspectivas e desafios. Eu busco no PSB novos horizontes e, graças a Deus, fui muito bem recebido. A prefeita Socorro me convidou para dirigir o partido aqui na capital. A minha relação com ela é de parceria e amizade.

Contilnet – A prefeita é candidata à reeleição?

Jenilson Leite – Ela vai anunciar isso. Em diversas oportunidades, já sinalizou que será. Em minha opinião, ela será candidata. A FPA deixou de existir em 2018. Neste momento se organiza uma nova força política e estamos avaliando como isso deve acontecer. Entendemos que 2020 será o ano para isso se consolidar. É sempre louvável buscar mudanças, novos horizontes nos reinventarmos. Mudar não é um processo fácil, porém necessário. A candidatura da Socorro independe da vontade do PT. Essa decisão é tão-somente dela, embora exista a necessidade de dialogarmos com todos os partidos e líderes. Ninguém ganha eleição sozinho. O PT sinaliza com uma candidatura e a prefeita, mesmo assim, manteve os espaços dos partidos que ganharam a eleição em 2016.

Contilnet – Como o senhor avalia a administração da prefeita Socorro Neri?

Jenilson Leite – De forma positiva e com respostas. Em apenas um ano, ela conseguiu resolver aquela buraqueira, sobretudo no centro da cidade e nos corredores dos ônibus, embora os bairros ainda estejam com problemas, que serão resolvidos no verão. A prefeita conseguiu organizar as finanças, inclusive foi considerada uma das melhores gestoras do Brasil, o que prova, de forma inequívoca, que ela é zelosa com a coisa pública. Também já foi premiada na saúde e educação. A Socorro Neri já demonstrou que sabe cuidar de Rio Branco.

JORGE NATAL, PARA O CONTILNET

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