TARAUACÁ: Ordens Paramaçônicas realizam campanha "Filantropia do Abraço Grátis".


Já faz um certo tempo que uma modinha se espalhou entre várias pessoas em diferentes lugares do mundo, oferencendo abraços gratuitos. 


A ação consiste em colocar a frase “Abraço Grátis” em um cartaz e sair às ruas para abraçar as pessoas. 


Em Tarauacá, as Ordens Paramaçônicas "Filhas Jó do Bethel 02", "Ordem Demolay", "Escudeiros" e "Abelhinhas" realizaram a recentemente a "Filantropia do Abraço Grátis".



Imersos na cultura da internet, e em tudo o que a revolução digital significa, somos afetados pela cibercultura como um todo. Nosso cotidiano está recheado de ações que dependem de um clique e de uma boa conexão para realizar tarefas comuns, desde saber como está o tempo e o trânsito, até checar os e-mails e ler jornais. 

Estamos vivendo conectados em grande parte de nosso dia e, de tal modo que, nos colocamos disponíveis a distância de um clique para diversas situações e pessoas.

Arriscaríamos dizer que a finalidade com a qual mais utilizamos esses recursos é para nos comunicarmos informalmente com os mais diversos tipos de pessoas. 

Temos muita gente em nossas conexões, porém, nem sempre estamos com alguém efetivamente. 

Tal paradoxo de muitos amigos versus a solidão cotidiana pode ser apreendido com esta simples campanha do abraço. Afinal, não seria estranho uma campanha que doa abraços em plena era da conectividade? 

Doar abraços quando temos a possibilidade de "milhões de amigos”?

De algum modo, somos gratos a essa interconexão que nos aproxima e, ao mesmo tempo, nos distancia. Afinal, se por um lado nos tornamos mais próximos com a ajuda dos aparelhos conectados à rede, por outro nos distanciamos ao fazer dele nosso único modo de encontro. Com as inúmeras trocas de mensagens teríamos deixado de olhar nos olhos de quem nos circunda? Temos a impressão que substituímos o encontro entre pessoas, desprovidas de qualquer aparato tecnológico se não calcados em sua precariedade existencial, pelo contato frio e límpido das trocas de mensagens. Por vezes, convivemos com a pessoa, mas enviamos mensagem para lhe dizer algo quando bastaria alguns passos até sua direção.

Seria então, o abraço uma tentativa de nos restituir ao encontro com o outro? Parece-nos que, o olhar, a voz, o abraço de alguém ainda continuam sendo uma maneira singular de nos colocarmos na presença de outrem. Em nosso mundo das tecnologias digitais, uma ligação, por mais simples que seja, nos lança ao encontro do outro pela força de presença que a voz possui.

É impressionante essa magia que nossos sentidos carregam em nos fazer mais presentes no outro. A voz, assim como o olhar e o toque, possui uma capacidade íntima de provocar o encontro, este enlace desajustado de duas corporalidades que co-habitam o mesmo universo. 

A voz pressupõe um ouvido capaz de escutar. É um início de comunicação entre corpos e não apenas trocas de mensagens. Ouvir o outro significa muito mais que entender o que ele nos diz, mas ver seus gestos, sentir o timbre de sua voz, a altura e modo como nos dirige. Nesse sentido, a voz nos convoca a nos voltarmos inteiramente ao outro. Nossos ouvidos ficam a disposição daquele que fala. Essa intercomunicação é sempre da ordem do afeto, uma vez que, somos afetados pelo outro. Desse modo, nos fazemos em uma comunicação entre corpos.

As mensagens do nosso cotidiano, nem sempre são possuidoras desse poder mágico que o encontro dos corpos favorece. Elas cumprem bem sua função de nos auxiliar a dizer algo, mas está longe de nos afetar por inteiro. Em meio a tantas mensagens de textos, um abraço, ou uma ligação, por mais simples que seja, pode nos colocar inteiramente na presença de outrem. Afinal, no corpo estamos não apenas conectados ao outro, mas lançados nessa existência que compartilhamos. 

A cibercultura é fantástica mas não substitui a simplicidade do abraço, da troca de olhares e tampouco da escuta da voz de alguém. São esses encontros, que ao nosso ver, chamamos de pequenas revoluções ordinárias. A campanha do “abraço grátis” visa nos restituir o lugar que ocupamos no mundo ao nos chamar a atenção para o corpo como afeto, que nos constitui. (Rafael B. Barbosa - Doutorando em filosofia contemporânea na École Normale Supérieur (ENS- Paris) e Paris Science et Lettres (PSL), Paris, França.)






















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