Nada de helicópteros, batalhões de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas ou histeria na mídia. Nesta sexta-feira (29), o ex-presidente FHC prestou depoimento na sede da Polícia Federal em São Paulo na investigação que apura a remessa ilegal de grana ao exterior para financiar as despesas da sua ex-amante Mirian Dutra, jornalista da TV Globo por 35 anos. Da mesma forma como no passado a imprensa amiga escondeu o caso extraconjugal do “príncipe da Sorbonne” – que na época mantinha um casamento de conveniência com a antropóloga Ruth Cardoso –, agora ela tratou de abafar o depoimento. A PF também agiu com discrição. Nada de vazamentos seletivos ou cenas cinematográficas. Mesmo sem ter foro privilegiado, o grão-tucano foi ouvido na sede da instituição.
Os jornalões evitaram escandalizar o assunto – afinal, FHC foi tão generoso em seu reinado com anúncios publicitários, subsídios e outras benesses. A Folha tucana publicou um relato frio e diminuto. “O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi ouvido nesta sexta-feira na Superintendência da Polícia Federal, em São Paulo, sobre as acusações de que ele teria usado uma empresa concessionária do governo federal para repassar dinheiro a jornalista Mirian Dutra para custear as despesas de educação de seu filho Tomás. FHC manteve um relacionamento com a jornalista nos anos 1980 e 1990 e, em 2009, decidiu reconhecer oficialmente a paternidade de Tomás – então com 18 anos”.
Ainda de acordo com a matéria, assinada pelo jornalista Walter Nunes, a Polícia Federal “investiga a suspeita de evasão de divisas desde que Mirian afirmou que os repasses eram feitos por meio de um contrato fictício de trabalho com a empresa Brasif, que explorava os free shops (lojas com isenção de impostos) de aeroportos brasileiros na gestão do tucano. O ex-presidente foi ouvido pelo delegado João Thiago Pinho, da Delegacia de Repressão aos Crimes Financeiros e Desvio de Verbas Públicas, de Brasília, das 14:20 até as 17:20 horas. O teor do depoimento está sob sigilo, já que o caso corre sob segredo de justiça. O ex-presidente foi acompanhado pelo advogado Sérgio Bermudes”.
Já o oligárquico Estadão foi mais recatado na descrição do episódio. Informou apenas que o depoimento à PF tratou de dois inquéritos envolvendo FHC. O que investiga a remessa ilegal de dinheiro para a ex-amante Mirian Dutra e o que trata da suposta propriedade de imóveis no exterior, que não teriam sido declarados pelo ex-presidente à Receita Federal. A matéria registra ainda que o grão-tucano não saiu da PF pela porta da frente. Usou a prerrogativa de ser ex-presidente para poder sair de forma mais discreta do prédio. O jornal da famiglia Mesquita também destaca a defesa do advogado Sérgio Bermudes, que negou as acusações contra o seu cliente e garantiu que os recursos enviados ao filho provêm de “rendas legítimas”, depositadas em contas legais e declaradas à Receita.
Já o jornal O Globo, a rádio CBN, a Globo News e o Jornal Nacional – todos pertencentes à famiglia Marinho – prefeririam evitar confusão. Afinal, a repórter Mirian Dutra trabalhou na empresa e – segundo afirmou em várias entrevistas – foi enviada ao “exílio” para evitar causar prejuízos à carreira política de FHC – o queridinho dos barões da mídia. No começo de abril, em depoimento de mais de cinco horas na Polícia Federal, a jornalista confirmou que recebia cerca de US$ 3 mil mensais do ex-presidente. Ela garantiu que a grana era repassada em espécie. Ela também confirmou os pagamentos da Brasif. Na ocasião, porém, Mirian Dutra preferiu não incriminar o poderoso Grupo Globo. Agora, a famiglia Marinho retribui a gentileza. É melhor não mexer no vespeiro!
Por Altamiro Borges
Blog do Miro