Delação do ex-deputado Pedro Correa cita Lula, Augusto Nardes, Aécio e emenda de reeleição de FHC

Reportagem do jornal "Folha de S.Paulo" cita partes do acordo de colaboração premiadaassinado entre o ex-deputado Pedro Correa e o Ministério Público Federal. A TV Globo confirmou que esses trechos divulgados fazem parte da delação do ex-deputado.

Um dos anexos desse acordo de delação, segundo o jornal, é intitulado "mesada de Augusto Nardes".

Nardes é ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). De acordo com a reportagem, Correa afirmou que, entre 2003 e 2005, quando Nardes era deputado federal pelo Partido Progressista, o PP, ele estava entre os nomes da bancada da Câmara que recebiam propina arrecadada pelo deputado José Janene, morto em 2010, junto à Petrobras e a outros órgãos com diretorias indicadas pelo PP.

Também segundo o jornal, Pedro Correa apresentou uma lista de operadores de propina e incluiu o nome de Andrea Neves, irmã do senador Aécio Neves, do PSDB de Minas Gerais, e uma de suas principais assessoras, como a responsável por conduzir movimentações financeiras ligadas ao tucano.

A citação à irmã de Aécio é a primeira numa lista que inclui nomes como Marcos Valério, operador do mensalão, e Benedito Oliveira, investigado na Operação Acrônimo, que apura suspeitas de irregularidades na campanha de Fernando Pimentel (PT) ao governo de Minas Gerais em 2014.

A "Folha de S.Paulo" diz ainda que a delação do ex-deputado tem um anexo sobre o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que tem como foco a votação que aprovou a emenda constitucional da reeleição em 1997.

Segundo o relato, o ex-presidente contou com apoio financeiro do empresariado para aprovar o projeto da reeleição.

O então presidente do conselho de administração do Banco Itaú, Olavo Setubal, morto em 2008, é mencionado como alguém que ajudou FHC.

O ex-deputado disse, segundo jornal, que Olavo Setubal dava bilhetes a parlamentares que acabavam de votar, para que se encaminhassem a um doleiro de Brasília e recebessem propinas em dólares americanos.

A delação do ex-deputado Pedro Correa tem pouco mais de 70 anexos, cada um com um tema. Segundo o jornal, cinco desses anexos se referem à presidente Dilma Rousseff e outros cinco ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Um dos fatos apontados por Pedro Corrêaenvolvendo o ex-presidente Lula é uma reunião entre os dois, o então ministro da Casa Civil,José Dirceu, e José Eduardo Dutra, na época presidente da Petrobras.

Nessa reunião, teria sido acertada a nomeação de Paulo Roberto Costa para o cargo de diretor da Petrobras.

Segundo o relato, José Eduardo Dutra, que morreu no ano passado, era contra a nomeação mas Lula atuou a favor de Paulo Roberto Costa, que depois se tornaria o primeiro delator da Operação Lava Jato, acusado de receber propina.

De acordo com Pedro Correa, José Eduardo Dutra disse nessa reunião: "Mas Lula, eu entendo a posição do conselho. Não é da tradição da Petrobras, assim, sem mais nem menos, trocar o diretor". Ao que o ex-presidente Lula respondeu: "Se fossemos pensar em tradição, nem você era presidente da Petrobras e nem eu era presidente da República".

O jornal afirma que, apesar das revelações, há pouca prova documental apresentada pelo ex-parlamentar. Pedro Correa, depois de uma longa negociação, deve começar a prestar depoimentos e a apresentar as provas que tem a partir da semana que vem.

Versões dos mencionados
Augusto Nardes afirmou ao jornal que o envolvimento de seu nome na delação é "uma retaliação pela oposição que fazia dentro do PP". Diz que foi candidato independente e não contou com o apoio de Pedro Correa, na época presidente do partido.

O senador Aécio Neves declarou à "Folha" que Andrea Neves, irmã dele, não conhece e jamais teve contato com Pedro Correa. O senador também enfatizou que repudia as falsas acusações mais uma vez repetidas sem indícios que possam minimamente comprová-las.

Ao tomar conhecimento da citação envolvendo a compra de votos na emenda de reeleição em seu governo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso classificou o relato como "ridículo".

O presidente do Itaú, Roberto Setúbal, disse ao jornal que fica "profundamente indignado" ao ver o nome do pai dele, Olavo Setúbal, "absurdamente envolvido numa história sem comprovações".

Setúbal disse que ele era "um homem absolutamente ético e tenho convicção de que jamais se envolveu em nada parecido com o que, covardemente, o ex-deputado descreveu."

Setubal declarou ainda ao jornal que o pai dele não participava de qualquer atividade politico-partidária desde 1986 e não há nenhum indício de que essa história possa ter fundamento.

O Instituto Lula disse que não comenta falatórios e "quem quiser levantar suspeitas em relação a Lula que apresente provas.

A defesa de Pedro Correa não quis se manifestar.

Vladimir NetoDa TV Globo, em Brasília

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