A MÁQUINA DE GUARDAR CHUVA

O governador do Acre fez um esforço gigantesco para trazer ao Acre um presidente da República de um país vizinho, um ex-presidente brasileiro, ministros, enfim, mobilizou o coração do Brasil e até um pedaço da América Latina.

Tião Viana queria mostrar que é possível, aqui no meio da floresta amazônica, desenvolver as forças produtivas sem destruir as nossas matas e rios. Erguer fábricas, utilizando a engenharia que o próprio povo adquiriu como memória e como experiência.

O portentoso complexo de piscicultura e a fábrica de ração, erguidas por Tião Viana, sob a coordenação de Edvaldo Magalhães, aproveita o mundo das águas no qual vivemos. Serve-se da experiência secular do nosso homem amazônico em manusear suas redes de pesca, ajustar seu cotidiano ao tempo da abundante chuva e adequa a moderna tecnologia ao mundo ribeirinho. Não tem como dá errado.

A criação e industrialização do peixe, aqui no Acre, quebra dois discursos ultrapassados: o de que não cabe indústria aqui em nosso mundo de mata nativa e o de que a floresta não serve em pé.

Os últimos estudos demonstram que a floresta em pé é essencial ao ciclo da chuva. E esta é necessária à manutenção dos grandes açudes e dos tanques. Aqui temos florestas abundantes, dezenas de rios e centenas de igarapés que, juntos, reporão as águas de açudes e tanques.

O peixe é um alimento saboroso e era abundante na Amazônia, mas, foi escasseando com o crescimento da população. Criá-lo em tanques, aos milhares, era a solução que faltava ao Acre, para garantir alimento ao nosso povo e gerar riquezas.

Jesus de Nazaré tinha um apreço por esse alimento salutar e de acesso popular, quando os mais pobres podiam encontrá-lo nos lagos e igarapés. E olhe que Jesus viveu numa terra árida, com um único rio, o Jordão, e dois mares, e um de água salgada, o mar Morto.

Jesus não apenas serviu peixe aos homens e mulheres que o seguiam, mas, utilizava-o como metáfora de sua mensagem de amor e, quando pensou em organizar seus discípulos, foi em busca de palestinos e judeus do mar e disse-lhes que eles seriam, a partir daquele momento, pescadores de homens.

Imagine aqui, nessa imensidão de água, como se todo o suor secular do homem amazônico, as lágrimas milenares de mulheres, pajés, curumins e guerreiros indígenas, tivessem se tornado rios, igarapés, lagos silenciosos, a nos ensinar a arte de sobreviver através das águas.

Por isso, esse projeto tem substância, porque agrega valor tecnológico à sabedoria popular, não inventa, não cria a roda, a faz rodar, moderniza a tradição, não industrializa matéria-prima estranha, usa o que temos em abundância e prova que a ciência, quando usada com inteligência, pode juntar o desenvolvimento e a sustentabilidade.

É o equilíbrio entre o óleo da copaíba e o esgoto da poluição.

Escrito por Moisés Diniz

Postar um comentário

ATENÇÃO: Não aceitamos comentários anônimos

Postagem Anterior Próxima Postagem