Nesses dez anos que estou fora do Acre, e, consequentemente, de Tarauacá, nunca havia voltado com uma impressão negativa tão forte.
Tarauacá me assustou. A cidade está horrível, parece que foi bombardeada, as ruas esburacadas e enlameadas (o que nunca foi nenhuma novidade). Pensei que havia sido por causa das enchentes. Mas, nos bairros e ruas que não alagaram a situação é a mesma. Um barulho infernal, carro de som alto, vizinhos que ouvem músicas em volume absurdo. A violência assume dimensões de cidade grande; as drogas se alastram terrivelmente, atingindo crianças, jovens e adultos. O lazer se resume, praticamente, a futebol e a boates e clubes. É quase nula as atividades culturais. Os jovens, os que não deixaram a cidade em busca de melhores condições de estudo ou de trabalho, estão à mercê da sorte.
Assustou-me como a juventude encontra-se apática, sendo agenciada por grupos ou políticos para defender seus interesses. E o pior de tudo é que não vejo perspectiva de mudanças, não vejo líderes, mas oportunistas, em sua maior parte gente desqualificada, com boas intenções, mas sem preparo. Pela primeira vez chorei de tristeza pela minha terra, a terra que anuncio por onde passo, e denuncio agora a todos a violência que a ela tem sido perpetrada, a violência do descaso público, a violência da falta de oportunidades, a violência da ausência de políticas públicas e culturais, a violência do desrespeito à memória, a violência dos sonhos e esperanças mutiladas. Tarauacaenses adotivos ou natos de todo o Brasil, uni-vos, pois a nossa terra agoniza.
POR ISAC MELO