ARTIGO: Rio Acre, um verdadeiro Lixão a céu aberto.

Tião Figueiredo
Um dos principais problemas ambientais da atualidade é a poluição dos rios. Enquanto países da Europa desenvolveram planos eficientes de despoluição de rios, o Brasil continua com uma grande quantidade de rios poluídos, causando graves problemas ambientais. 

Em muitas cidades o esgoto sanitário é precário, em razão da falta de planejamento urbano, o esgoto doméstico é lançado diretamente no rio sem receber nenhum tipo de tratamento. Esse esgoto é um dos principais causadores da poluição das águas e da morte de milhares de peixes e de outras espécies de vida aquática. Os produtos químicos e agrotóxicos que as indústrias lançam nas redes de esgoto e nos rios também contribuem ainda mais para o alto nível de poluição das águas. Embora essa prática seja considerada crime ambiental, nas maiorias das cidades brasileiras as leis ambientais não vêm sendo cumpridas de forma eficiente, dada a falta de fiscalização e a ausência do poder público. Quando ocorrem chuvas de grande intensidade, a vazão do rio diminui e provoca alagamento nas margens, causando enchentes e grande prejuízo para as pessoas que habitam nas proximidades desses locais. 

O que está acontecendo hoje no sudeste brasileiro, principalmente na cidade de São Paulo, é quase que uma calamidade pública devido à falta de água potável. Isso se deve ao descompromisso dos governantes que nada fizeram para salvar suas fontes hídricas. Aqui no Acre, se medidas não forem tomadas neste sentido, estaremos correndo o mesmo risco do povo paulista. Hoje sofremos com enchentes, amanhã, quem sabe, pela falta de água para o consumo. O rio Acre, que nos dá água de cada dia, nasce em território peruano, e abastece diretamente oito cidades: Assis Brasil, Iñapari (Peru), Brasileia, Cobija (Bolívia), Epitaciolândia, Xapuri, Rio Branco, Porto Acre, e milhares de ribeirinhos que habitam as suas margens ao longo de seu curso. Acontece que, com o passar dos anos, devido à falta de política de saneamento básico e de educação ambiental, esse rio vem se transformando em um grande deposito de lixo. Para piorar ainda mais a sua sobrevivência, as fontes de água e os igarapés que alimentavam esse manancial, foram transformadas em barragens para criação de alevinos, diminuindo consideravelmente o seu volume hídrico. 

Os esgotos domésticos e industriais como os materiais orgânicos, sintéticos, plásticos, detergentes, solventes, tintas, inseticidas, fertilizantes agrícolas, carcaça de veículos, eletrodomésticos, e outros tipos de resíduos são despejados direta ou indiretamente no rio sem nenhum tipo de tratamento. 

Os fertilizantes agrícolas e inseticidas, usados no plantio da agricultura, são arrastados pelas águas das chuvas para o leito do rio e outras fontes, o que ocasiona a poluição por agrotóxicos e a alteração física na composição química da água. Com o tempo, o lixo sólido, vai se acumulando nas laterais e no assoalho do rio. 

A retirada das matas ciliares é um outro fator que provoca o assoreamento. Quando ocorrem chuvas em grande intensidade, a vasão do rio diminui, ocasionando transbordamento em suas margens, gerando sérios transtornos para as pessoas que ali habitam. A exemplo do que está ocorrendo hoje com essa enchente, observamos que em vários locais onde houve alagamento, grande quantidade de lixo de toda espécie foi deixada pelas as águas em diversos locais e até mesmo dentro das residências, isso pode ser uma resposta da natureza:” Estou devolvendo o presente que você me deu. Cuida desse lixo, que não é meu”. 

Finalizo, alertando as autoridades que para atenuar esse problema, é necessário investimento do poder público e privado, em relação à construção de estações de tratamento de esgoto em todas as cidades banhada pelo rio acre e, principalmente, campanhas conscientizando as pessoas das cidades e ribeirinhos, para que não joguem lixo dentro do rio, bem como aplicação de multas pesadas, para aqueles que desrespeitarem a lei. Vale lembrar, que nessa vida, podemos viver sem muitas coisas, mas sem água ninguém vive.


Por Sebastião Batista de Figueiredo.
Geógrafo - Universidade Federal do Acre
Pós-graduado em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável.

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