TARAUACÁ: A história de um “Papai Noel” da vida real

Manoel de Albuqueque Fontinele, 63 anos 
Eu amo contar histórias e  a de me incluo nela, pois vou contar um pouco sobre  meu guerreiro e querido pai.

Periferia de Tarauacá Acre, região Norte do Brasil. Um lugar de difícil acesso, uma casinha simples cheia de pessoas que vivem de forma desumana, lembranças de  partir coração ao mesmo tempo uma grande lição de vida. Um homem de um coração imenso, uma fé intocável, um caráter exemplar, um papai Noel de verdade.

Manoel de Albuqueque Fontinele, 63 anos, nasceu e se viveu muito anos na zona rural do município de Jordão/Acre. Mesmo sem ter onde estudar Fontinele não ficou sem aprender, transformou as árvores em caderno, lata que carregava a farinha para se alimentar em livros e a faca de cortar seringa em um lápis e com muita garra aprendeu a ler e escrever. 

Emocionado Fontinele conta como era difícil a sua infância que não deixou saudade “Eu fui uma pessoa que não tive escola na minha vida, nem eu nem os meus irmãos. Eu tinha muita vontade aprender e já tava rapaizinho de nove, dez anos e aquela vontade de aprender a ler, nesse tempo não existia escola no seringal, não existia uma cartilha, ai eu comecei a pegar na estrada quando eu terminava de corta as seringueiras eu corria no estirão da estrada e onde tinha árvore eu fazia com a faca de seringa uma letra riscando. Quando passava uma pessoa que sabia ler e via aquilo que eu fazia tudo errado, a pessoa saia gargalhando saia mangando de mim e quando passava a onde eu tava dizia rapaz eu vi aquele nome que tu fez lá naquela árvore, ficou de cabeça pra baixo rapaz tu fez foi ao contrario, eu dizia meu irmão eu nunca tive leitura, nunca tive ensino. Onde eu morava a única pessoa que sabia ler um pouquinho morava meia hora da minha casa pra dele correndo de rio acima. Eu ia cortar, colhia, chegava defumava a borracha, ai pegava um papel qualquer colocava na cabeça, colocava o chapéu encima e corria de rio acima, as vezes o suor até molhava o papel, quando eu chegava lá pra ele dizer uma letra que eu tinha passado o dia embaçado com aquela letra. Assim cheguei a aprender fazer um bilhete fazer uma mensagem, graça a Deus eu faço uma mensagem um bilhete mas nunca me sentei em uma cadeira de uma aula de uma escola, nunca”. Conta Manoel Fontinele.
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Neide FontineleNeide Fontinele
Após perder seu pai e sua mãe, sendo um dos filhos mais velhos Fontinele teve que fazer o papel de pai e mãe e criar seus irmãos mais novos como explica sua irmã Neide Fontinele “Meu pai e minha mãe faleceram eu era muito pequena ai ele cuidou dos quatro irmão e criou. Nós viemos do Jordão para Tarauacá todos pequenos em uma canoinha a remo, ele batalhou com nós até criar, então ele é considerado o nosso pai”. Neide Fontinele.

Em busca da sobrevivência após a perca dos pais Fontinele mudou se para Tarauacá, porém como não tinha dinheiro para comprar uma casa se viu obrigado ir para a zona rural, dessa vez para o seringal Vitoria Nova no Rio Muru, onde se casou e criou seus cinco filhos. Mesmo com as dificuldades daquela época, tendo que viajar quatro dias no varejão para vim fazer a feira na cidade Manoel criou e educou seus filhos.


Alcioneide FontineleAlcioneide Fontinele
Fontinele criou seus irmãos, depois os seus filhos e hoje ainda ajuda a criar os netos “Eu tenho 35 anos sou mãe de cinco filhos e tenho muito a agradecer por ele ter mim ajudado já muito na vida dele. Desde eu criança ele sempre foi um homem muito batalhador, nunca teve muita suade e precisou de muito sofrimento pra criar os filhos, sempre foi muito guerreiro, venceu a sua doença, batalhou e nunca deixou faltar nada para os filhos. Eu me casei, depois me separei, voltei para dentro de casa e hoje mesmo velho e doente ele ainda batalha vendendo picolé para ajudar a criar meus filhos os seus netos”Alcioneide Fontinele, filha de Manoel.

Tudo estava muito bem, quando um fazendeiro apareceu e expulsou Fontinele de sua colônia. Como perdeu uma vida de trabalho, sendo que teve que abandonar praticamente tudo o que tinha, Fontinele teve que vim para a cidade mesmo sem condições, tudo o que conseguiu foi uma casinha atrás das outras que na época estava apenas coberta.


Alcionildo FontineleAlcionildo Fontinele
Com sérios problemas de saúdes Fontinele não desistiu e foi vender picolé, para comprar o pão de cada dia e aos poucos terminar a pequena casa que fica isolada no fundo de um terreno “ Eu lembro como hoje quando a gente chegou em Tarauacá, após sair do conforto que vivíamos na nossa colônia que foi tomada, o dinheiro que o pai conseguiu só deu para compra uma pequena casa no fundo do quintal onde vivemos até hoje. Como a casa estava apenas coberta eu e meu pai fomos vender picolé, o dinheiro que ele pegava comprava a comida e guardava um pouquinho, quando tinha o suficiente ele comprava uma tabua e apregava na casa, até que terminou de fechar. Infelizmente hoje os moradores da frente construíram casas novas e deixou a nossa família sem saída”. Alcionildo Fontinele, filho de Manoel.

Você já se imaginou com uma renda menor que um salário mínimo sustentar uma família de 11 pessoas, essa é a triste realidade de Manoel Fontinele. “ A renda que eu recebo é que devido de eu ser doente eu conseguir uma aposentadoria, ai eu tenho esse salário mínimo, mas nós somos 11 pessoas aqui pra comer desse salário ai não dar a gente passa um pouco devagar. Só que graças a Deus a gente não anda pedindo nada a ninguém, mais dizer que dar para comer dignamente não dar não” ressalta Fontinele.



Com uma fé em Deus infinita Fontinele explica porque a vários anos não corta a barba nem o cabelo “O homem deve usar os pêlos que Deus deu a ele, Deus é tão bom que em cima de nós só temos porque  é santo, ele não tem sangue e é vivo , então o homem que puder conservar será bem aceito por Deus, você ver que no passado os homem todos eram assim, no Egito, aquele povo lá de fora, ainda hoje tem muita gente que usa cabelo e barba, então hoje pra sociedade aqui do nosso Brasil, é sebosidade, é isso e aquilo, mas pra Deus é uma grande honra o homem ter o cabelo e a barba grande” diz Fontinele.

Hoje já com mais de 60 anos de idade e com sérios problemas de saúde, Fontinele está em uma situação extremamente difícil, pois a passagem por onde a família saia de casa para a rua foi tampada pelos os moradores da frente que construíram novas casas deixando Fontinele e família totalmente sem saída.

A família já se procurou na secretária de assistência social, fez um cadastro até agora nada foi feito. Só resta esperar que um dia os governantes olhem e ajude esse homem que tanto contribuiu e contribui para uma sociedade melhor, de pessoas mais justas.

Por Alcionildo Fontinele

1 Comentários

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  1. Rapaz, eu gostei da história desse senhor aí. Batalhar com dignidade para ajudar a criar os irmãos, isso é ser herói. Meu amigo, continue acreditando em Deus que ele não te desamparará. Tu recompensa será grande.
    Que Deus abençoe a você e família.

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