ACRE: [adj] De sabor picante ou azedo, forte, vivo. [sm] Medida agrária equivalente a 4.047 m². Estado amazônico com percentual de 10% de área desmatada. Detentor de pujante biodiversidade, em especial na região do Vale do Juruá, considerada uma das mais ricas do planeta em biodiversidade.
O Acre não teve um parto normal. De maneira cesariana, o Acre nasceu sob a tempestade da pólvora, do sangue derramado, das armas em punho e dos gritos de guerra. Plácido de Castro, um militar gaúcho que se apaixonou pelo Acre, comandou uma revolução vitoriosa, a Revolução Acreana. Processou-se no Acre uma das primeiras experiências de combate ao colonialismo que, no início do século vinte, já se chamava imperialismo. O Bolivian Sindicate era, na verdade, um sindicato do crime, associação de capitalistas norte-americanos e ingleses que, utilizando o entreguista governo boliviano, pretendia alugar o território do Acre para explorar a hevea brasiliensis, o nosso ouro elástico.
Antes da conflagração, um fato fez do Acre uma terra ímpar. A poesia abriu o caminho da pólvora! Uma delegação de poetas, comandada por Galvez, declarou o Acre independente. A dissolução do gabinete de Galvez, sob os auspícios do fraco governo brasileiro, fez aumentar a insatisfação de seringalistas e seringueiros, apressando o confronto armado. A Revolução Acreana, além de tornar o Acre um rico e audaz pedaço do Brasil, foi palco de uma tática de luta que merece ser estudada. A Revolução Acreana soube combinar os interesses de duas classes antagônicas [seringalistas e seringueiros] na direção do mesmo objetivo: expulsar os bolivianos, que haviam se tornado os testas-de-ferro do colonialismo norte-americano e inglês.
O Acre é impar do parto à vida adulta! Foi no Acre que nasceu o movimento dos hansenianos, comandado pelo lendário Bacurau, tornando-se um movimento nacional, o Morhan. A discriminação à hanseníase já recebera condenação há dois mil anos, quando Jesus curou um leproso, tocando-o [Mt.8,1-4], realizando um ato proibido para a moral religiosa e social da época. O Acre é pioneiro na luta pela ocupação de terras improdutivas, bem antes do surgimento oficial do MST, tendo em Wilson Pinheiro, assassinado pelo latifúndio, um dos mártires da luta pela terra na Amazônia, junto com Paulo Fonteles, João Canuto.
Marca indelével da história do Acre, a saga de Chico Mendes. Líder seringueiro de Xapuri, criou uma forma de luta inédita: o empate. Fazendo confundir ataque com contra-ofensiva, sua tática ganhou aliados, garantindo substancial apoio logístico à sua guerra no meio da floresta assombrosa. Era como se Chico Mendes, ao juntar dezenas de pessoas em frente a um trator e às motosserras, transformasse os atores do empate em árvores, pássaros, raízes, animais, riachos e plantas. Levantavam-se em seu lugar! As mulheres eram a castanheira, a envireira, os cipoais. Os anciãos eram os pássaros, os insetos, as larvas, os animais. Os homens, a sapucaia, a sumaúma, o tucum. As crianças eram os riachos, os lagos, as gotas teimosas do orvalho, o ciclo da chuva. O empate de Chico Mendes é um emblema tático para se estudar na Amazônia!
O Acre é ainda uma grande aldeia, onde vivem e resistem os povos indígenas, anciãos, guerreiros pintados de jenipapo, donzelas índias, pajés e curumins. Dezenas de línguas, com variadas unidades genéticas, fazem do Acre uma federação de povos, a dançar sob a luz da lua crescente, a magia da caiçuma e o tambor da pele de leopardo. Kaxinawás [o pássaro que canta o alvorecer] e Yawanawás [queixada, o rebanho inseparável], junto com Ashaninkas, Kulinas de Igarapé do Anjo, Poyanawas, dentre outros, são povos indígenas que amarram o Acre na utopia de uma vida sem amos, onde o pão e alegria são produzidos sob o suor coletivo e compartilhados.
POR MOISÉS DINIZ
Viva os 52 anos do Acre Estado!