Tenho boas lembranças de minha infância. Lembranças de quando morava no bairro de Copacabana, e era feliz. Do quanto me sentia bem em ir jogar bola nas “palhas” de arroz atrás da Cageacre com meus amigos.
Das belas manhãs as quais ia até a escola Delzuite Barroso, não somente para estudar, mas também, para estar perto de pessoas que assim como eu, desde de criança sonhavam com uma vida feliz.
Nostalgia é a palavra certa para descrever.
Disfunções comportamentais causadas pela exacerbada vontade de regressar aquele tempo. Onde meus amigos de infância não estavam presos, mortos, ou dominados pelas drogas.
Hoje, domingo, 08 de setembro de 2013, dia em que presenciamos uma perfeita conjunção da Lua com Vênus, tudo parecia correr para uma noite no mínimo tranqüila e bonita em nossa cidade. Mas a mesma Lua que embalaria momentos bons para alguns, se mostrou com tom fúnebre para outros. A tristeza me tomou conta, ao receber a infeliz notícia de que um velho amigo de infância, de forma trágica se foi. Mais uma vítima da violência avassaladora que se instalou em nossa cidade.
Tristeza que não é nada. Não é nada perto da dor que um pai, uma mãe, uma esposa, e 3 filhos sem dúvida estão sentido. Não se trata de apenas uma morte, mas sim, de 6. Se trata da morte de 2 filhos, 1 esposo, e 3 pais.
Tarauacá não é mais a mesma. Muita coisa mudou, e é uma pena que tenha sido para pior.
Há quem diga, que a violência é conseqüência do desenvolvimento, do crescimento de qualquer cidade. Assim sendo, será que alguém aqui pode por favor me falar em que melhoramos?
A educação pública continua péssima. Fato que pode ser facilmente percebido nos resultados dos vestibulares, e que de forma alguma, é culpa dos professores.
A saúde simplesmente piorou. Sendo que nem mesmo cirurgias simples que antes eram feitas aqui, agora somente são realizadas em Cruzeiro do Sul ou Rio Branco, pelo fato de aqui não haver um anestesista. O que também de forma alguma, é culpa dos médicos. Que se desdobram, e praticamente fazem milagres para salvar vidas sem uma estrutura adequada.
O planejamento urbano aqui não existe.
E isso pode ser facilmente percebido ao sairmos de casa. Pessoas morando em áreas de risco, em várzeas, e sem saneamento básico algum.
O índice de desemprego é alarmante.
Enquanto isso, os filhos de quem manda, ou já mandou na cidade, estão recebendo educação de primeira fora do município. Em universidades privadas, num status social que lembra a burguesia inglesa. Expondo através das redes sociais, como nosso dinheiro tem sido “bem” investido em benefício próprio.
Não investem na educação pública, porque investir na educação pública não os convém. Afinal, é bem mais fácil dominar uma massa analfabeta, semi-irracional pela falta de estudo.
Enquanto a saúde do município pede socorro, eles tem planos de saúde, que cobrem até “dor na unha do dedão.”
Enquanto eles, e as pessoas que os cercam tem 4 anos para sugar do bolso público o suficiente para nunca mais trabalhar, a grande maioria da população, é forjada a se alienar, aceitar e ficar calada com medo de perderem o emprego, ou qualquer outro vínculo que tem com a prefeitura.
E alguns deles ainda tem coragem de trazer no peito um slogan de “Partido dos trabalhadores”.
Aaah, vá... To cansado dessa utopia.
A cada quatro anos no Brasil, em um domingo do mês de Outubro, um evento tem se repetido: os tarauacaenses vão às urnas escolher novos chefes para o poder executivo do município. Assim como votar para presidente, governador e deputados, eleger um prefeito para o mandato de quatro anos é algo de extrema importância e, ao mesmo tempo, de responsabilidade por parte de cada eleitor, pois o futuro da cidade estará nas mãos de quem vencer.
Por conta disso, sinto muito em ter que dizer que somos todos irresponsáveis. Irresponsáveis por sermos responsáveis pela eleição de pessoas sem compromisso algum por nenhum de nós.
Que não resolvem os problemas sociais da cidade. Problemas aos quais as soluções são trocadas pelo bem individual daqueles que elegemos.
Como conseqüência disso, temos inúmeros exemplos. E um deles, é esse que infelizmente tivemos o desprazer de presenciar hoje.
Mais um ser humano, sem escolaridade, diarista, sem oportunidade, com outros problemas que não convém aqui citar, morador de uma área onde a violência tem vigorado, que foi morto por alguém com as mesmas condições. Deixando 3 filhos e uma esposa sem expectativas de como sobreviverão daqui por diante. Enquanto quem matou será remunerado por isso.
E se alguém aí está pensando... “Ah, mas ele ter sido morto, não quer dizer que tenha sido pelo quadro social” sinto muito também em ter que dizer que esta pessoa é no mínimo tola.
Diga-me quantos médicos, advogados, pessoas formadas em geral, tem cometido, ou tem sido vítimas de homicídio, ou mesmo tem entrado no caminho sem volta das drogas, que eu tentarei contabilizar os milhares acontecidos com a classe lesada.
O número é infinitamente maior. Quase do tamanho da dor de quem perdeu uma parte insubstituível da família.
Elivelton Menezes
Elivelton Menezes
elivelton23fj@hotmail.com