Foi-se o tempo em que uma conversa sobre o Twitter girava em torno da grande “bomba” do dia, do último viral da web ou da última gafe cometida por um famoso. No último dia 15 de março, sete ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deliberaram que, assim como as propagandas na TV e no rádio, pré-candidatos não podem veicular mensagens eleitorais na rede social de 140 caracteres.
A decisão se deu em meio ao julgamento do recurso do ex-candidato Índio da Costa (DEMRJ), vice de José Serra (PSDB-SP) em 2010, multado em R$ 5 mil por ter feito propaganda eleitoral do tucano em sua conta pessoal, antes do período permitido por lei. Mantido o veredicto, antes de 6 de julho, políticos e partidos estão vetados de tuitar com fins eleitoreiros.
Quatro dias após a decisão, o senador Roberto Freire (SP), presidente nacional do PPS, comunicou publicamente – ironicamente ou não, através de sua conta no Twitter – que entrará com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) contra a decisão. “O problema da rede é que ela é algo coloquial, as pessoas participam por livre e espontânea vontade e querer controlá-la é querer controlar o diálogo entre duas pessoas livres.”
A pré-candidata à prefeitura de São Paulo, Soninha Francine (PPS-SP), e integrante da lista dos dez Twitters políticos mais influentes do país, segundo levantamento da Burson-Marsteller, faz coro com o senador. “Não sou só eu quem se prejudica, mas todo o processo. A internet não é concessão pública e, além disso, reduz a desigualdade entre os candidatos, porque não depende de tanto dinheiro”, argumenta.
Gabriel Chalita, pré-candidato à prefeitura pelo PMDB-SP, salienta que não considera a rede o local adequado para pedir voto ou fazer campanha, “principalmente, antes da hora” –, enfatiza. Acredita, porém, que houve exagero na imposição de controle tão rígido sobre o Twitter, igualando-o aos meios tradicionais. “Achei interessante a posição da ministra Cármen Lúcia, que disse que o Twitter é como uma conversa na mesa de um bar, só que virtual”, explica.
Pilotando a mídia - Se, como dito pela ministra Cármen Lúcia, o Twitter pode ser comparado a uma “mesa de bar virtual”, comportar-se nele – ou em qualquer parte da internet –, como se estivesse em uma, resultaria, certamente, em retumbante desastre.
Dono de outro dos Twitters políticos mais influentes da web brasileira, o senador Cristovam Buarque é conhecido por sua habilidade em lidar com a ferramenta. Para isso, conta com uma “ajudinha” de sua equipe de comunicação, que tem garantido sua assiduidade na rede. “Ele não abre mão de tuitar e já está viciado. Mas a gente também ajudou a viciá-lo. Convencemos o senador a comprar um iPhone e também o presenteamos com um iPad”, diz o assessor de imprensa, Paulo Miranda. Desde fevereiro de 2010, os 22 mil seguidores do senador pularam para os atuais 286 mil.
“No caso dos políticos, a preocupação não é só com a qualidade do conteúdo, a periodicidade dos posts e o bom uso do português, mas, acima de tudo, com a reputação que é transmitida através das publicações”, ressalta a jornalista e consultora em media training, Aurea Regina de Sá. Tuitar pessoalmente e deixar que seu “séquito” cresça de forma espontânea são outras dicas da consultora.
Manter-se longe de declarações dúbias e ser sucinto para não ser mal interpretado é quase lei em um ambiente onde o poder da “viralização” da informação e do registro permanente dos mecanismos de busca pode botar tudo a perder. “Tudo o que é falado é passível de checagem e, no mundo 2.0, no qual vivemos atualmente, o discurso deve ser sempre fiel e coerente à sua prática”, destaca Yara Peres, vice-presidente da CDN, agência de comunicação corporativa que presta serviços na área de media training.
Famosa nas redes – Twitter e Facebook –, a deputada, reeleita em 2010, Perpétua Almeida (PCdoB-AC) diz ter ficado impressionada com a quantidade de gente que passou a segui-la no último pleito. Dois perfis no Facebook – cada um com 5 mil amigos – foram lotados. Para ela, o público das redes não pode ser desconsiderado. “É um público diferente do púbico que lê os jornais e que, não tenho dúvida, me ajudou muito nas eleições.”
Em meio às alagações ocorridas no Acre – que deixaram milhares de desabrigados em fevereiro deste ano –, a deputada descobriu outra utilidade da mídia. Do pequeno barco que a conduzia para o socorro das comunidades isoladas, espalhou pedidos de ajuda em suas redes. “Foi uma enorme alegria ver que as pessoas me entregavam água e cestas básicas depois de ler as mensagens”, comenta. E deixa sua reclamação sobre o veto ao Twitter. “Que outro espaço tão legítimo e democrático como este existe para o cidadão dizer o que pensa?”
*Com Jéssica Oliveira
Matéria publicada na edição de maio (278) da Revista IMPRENSA