“Linda aos 99 Anos” foi o slogan escolhido pelo deputado e líder do Governo, Moisés Diniz (PCdoB), para a sessão solene que comemorou os 99 anos de aniversário de Tarauacá nesta quinta-feira, 26, e homenageou 75 de seus filhos ilustres. A galeria do povo e o plenário foram tomados por tarauacaenses residentes ou espalhados pelo território acreano que se destacam ou se destacaram na política, na economia, no meio acadêmico, intelectual, artístico, sindical e religioso.
Autor do requerimento que solicitou a realização da homenagem, Moisés informou que a sessão pelos 99 anos da fundação de Tarauacá na Capital do Acre, foi para dar uma noção do que deverá ser a sessão especial pelo 1º Centenário que será realizada na própria cidade em 2013. “Para os 99 anos, nós criamos uma comissão que fez uma prospecção das personalidades tarauacaenses para serem homenageadas e, certamente, esquecemos algumas que vão ser lembrados em 2013”, observou Moisés.
“Tenho o umbigo em Cruzeiro e o coração em Tarauacá”
O líder do Governo, deputado Moisés Diniz, autor da iniciativa de realizar a sessão pelos 90 anos de Tarauacá, comentou em pronunciamento na solenidade que todos pensam que ele é filho daquela cidade, embora nascido em Cruzeiro do Sul . Mas ele comentou que tendo se casado e construído sua família em Tarauacá, pode dizer que tem o umbigo em Cruzeiro e o coração em Tarauacá.
Moisés comentou sobre a época em que era vítima de preconceito na cidade, por ser comunista - “algumas pessoas se benziam quando passavam por mim” - e dos tempos em que era inspetor de Ensino e não conseguia ser recebido nem pelo secretário estadual de Educação. “Quando precisávamos de uma resma de papel tínhamos que vir para a Capital e então quem nos ajudava era o presidente da Aleac, o deputado Manoel Machado, que fretava três ou quatro aviões para mandar material escolar para Tarauacá”, revelou Moisés.
O deputado concluiu seu pronunciamento lendo um poema intitulado “Linda aos 99 Anos” onde diz que falar sobre Tarauacá é como amar uma mulher, atravessar um rio, descobrir segredos da mata virgem, vencer o medo. “Tarauacá é uma cidade de povo resistente, acolhedor, festivo, combativo... da mulher bonita e do abacaxi grande, terra de dois rios, afável, bela”.
Concluindo, Moisés deseja em seu poema que os 99 anos de Tarauacá sirvam para aproximar corações e construir fraternidade e que nenhuma criança durma nas ruas, que nenhum mendigo deixe de ter seu pão e abrigo, que nenhuma mulher seja agredida no seu corpo e na sua honra, que nenhum idoso fique sem um abraço e que nenhuma dor fique sem um alívio.
Tarauacá: LINDA AOS 99 ANOS
"Escrever sobre Tarauacá é como amar uma mulher, atravessar um rio, descobrir segredos da mata virgem, vencer o medo. Tarauacá é uma cidade de povo resistente, acolhedor, festivo, combativo".
‘LINDA AOS 99 ANOS’ é um grito de esperança do povo de Tarauacá, sua eterna espera em dias melhores, suas lutas incansáveis, seus grupos de jovens, suas canções teimosas, seus sindicatos, suas utopias. ‘LINDA AOS 99 ANOS’ é um pedido para que o povo se organize e construa o seu próprio destino, que arme tendas para os homens bons, que adorne suas mulheres para o dia da festa, da chegada da primavera, de pão farto, de abrigo, de emprego, de vida digna.
Noventa e nove anos de travessia, de uma pequenina vila, sem telefone, sem aeroporto, sem escola, para uma média cidade acreana, repleta de homens e mulheres que decidiram não largar a luta pelo futuro e pela dignidade humana. Terra de homens e mulheres que orgulham seus filhos com as suas letras, as suas leis, as suas canções, os seus nomes fortes, que brilham aonde chegam e fazem questão de dizer: “eu sou de Tarauacá!”
Tarauacá impressiona quem chega, pela hospitalidade, o carinho do lugar, o jeito de cidade grande, européia, mas carregada de valores locais, raízes indígenas, seringueiras, caboclas.
Tarauacá é terra de mulher bonita, capazes de amar um homem como se amassem mil, mulheres belas, terrivelmente ciumentas, valentes, mulheres de orvalho, de chuva, de temporal, vulcão, mulheres de diamante.
Uma cidade que tem uma floresta que protege o seu coração, com rios e igarapés suntuosos, comoventes, silenciosos, cheia de entes mágicos, animais e borboletas, peixes, lagartas e raízes. Uma floresta, um sonho, uma mulher densa e verde, Caipora, instante mágico de chuva.
Aldeias indígenas, belas donzelas, anciãos, curumins, kaxinawás, katukinas, yawanawás, kampas, kulinas. Cidades de palha, cidades de paxiúba, cidades de milho, de amendoim, cidades de peixe, kupixawa, caiçuma, mariri.
Hoje eu só quero falar de Tarauacá, falar das coisas do interior, de suas alegrias e de suas frustrações. Nossas mulheres são belas como uma madrugada de janeiro, uma tarde de maio, uma manhã de agosto, os homens são românticos, descontrolados, às vezes, possessivos, querendo fazer de sua amada um campo de cultivo medieval. A hospitalidade desconcerta, acolhe, faz da chegada uma bênção e da despedida uma dor.
Uma cidade que vai completar cem anos, capaz de vencer os imensos desafios de incluir as maiorias na produção, na economia sustentável, na saúde de qualidade e na educação para todos. Um sonho de lutadores como Amin Kontar, que deixaram o legado de esperança e fé na humanidade que reparte, que cuida dos seus, que ama com intensidade, que acalenta utopias desde o tempo das grandes provações.
Tarauacá, da mulher bonita e do abacaxi grande, terra de dois rios, valente, afável, bela. Que esses 99 anos sirvam para aproximar corações e construir fraternidade e que nenhuma criança durma nas ruas, que nenhum mendigo deixe de ter pão e abrigo, que nenhuma mulher seja agredida no seu corpo e na sua honra, que nenhum idoso fique sem um abraço e que nenhuma dor fica sem um alívio.
Parabéns, Tarauacá!