Jogo da Politicagem

Por Archibaldo Antunes

O estardalhaço feito pelo senador Sérgio Petecão (PSD) em torno do “jogo da solidariedade” revela a vileza dos artifícios a serem usados pela oposição nas eleições deste ano. Sob a justificativa de prestar auxílio às vítimas da alagação, Petecão protagonizou episódios no mínimo condenáveis ao se escorar na reputação de celebridades como Romário e Popó para driblar o bom senso e nocautear a verdade. Mas o senador foi além: findo o espetáculo, ele saiu de cena sem dar satisfação sobre o destino dos donativos, limitando-se a declarar que o Ministério Público e a OAB acompanhariam a aplicação dos recursos resultantes da partida de futebol.

Ontem a reportagem do Página 20 telefonou ao presidente da OAB/Acre, Florindo Poersch. Ele afirmou que uma reunião marcada para a sexta-feira, com os representantes da Defesa Civil de Rio Branco, fora transferida para esta segunda devido à dificuldade de contato com os organizadores do jogo. A OAB tenta intermediar a entrega dos donativos à Defesa Civil do estado e do município.

O coronel Gilvan Vasconcelos, chefe da Defesa Civil municipal, confirmou a versão de Florindo e acrescentou que não foi procurado pela assessoria de Petecão para discutir os detalhes da entrega dos donativos. 

A impressão que resta deste episódio é a de que, atingido o objetivo de fustigar os adversários políticos, o senador guardou as chuteiras sem se importar com a propalada urgência em atender os necessitados. Disso também se conclui que a prioridade do evento, longe de ter sido pensado para auxiliar os atingidos pela enchente no Acre, foi efetivar uma jogada de marketing que descambou para as agressões contra o governador Tião Viana.

Respostas à altura

Longe de se intimidar com as astúcias e agressões do senador Sérgio Petecão, o governador Tião Viana resolveu ontem comentar o que acha dos episódios que cercam o “jogo da politicagem”. Pelo twitter, ele mandou seu recado: “Lamento que o senador Petecão se apequene tanto ao mentir vergonhosamente sobre a minha pessoa... um ato, no mínimo, covarde”.

“Petecão poderia ter desfrutado do jogo que organizou, ter gerado uma ação positiva para a população do Acre. Infelizmente não agiu assim. Covardemente, Petecão mente a meu respeito. Chafurda pela injúria, a calúnia e a difamação ao dizer que eu me recusei a receber donativos”, prossegue o governador em seu twitter.

A direção regional do Partido dos Trabalhadores também contra-atacou com uma nota enviada à imprensa. Nela, o senador é definido como “um político que sobrevive da desgraça alheia”. Sobre o jogo promovido por ele, a nota afirma que “embora divulgado (...) como um evento sem fins políticos (...) serviu, na verdade, como pano de fundo para o uso da farsa e da rapinagem política”.

O secretário de Comunicação do governo, jornalista Leonildo Rosas, deu uma entrevista ao site ContilNet para desmentir a versão de que o governo havia se recusado a receber os donativos resultantes da partida de futebol. Ele explicou que as arrecadações outrora feitas pelo governo, por meio da campanha do Acre Solidário, foram repassadas a igrejas, entidades de classes e ao Exército. Isso, segundo Rosas, para garantir que não houvesse dúvida sobre a lisura na entrega dos donativos.

Das jogadas desleais do senador do PSD ao vídeo deplorável postado na internet, no qual Acelino de Freitas, o Popó, esmurra sem piedade o bom senso enquanto pensa atingir o governador Tião Viana, se pode deduzir que a política, infelizmente, se presta por vezes a objetivos mesquinhos.

Se Sérgio Petecão nunca ganhou um cinturão da Federação Mundial de Boxe, como Popó, nem fez vibrar o mundo com dribles desconcertantes e gols espetaculares, como o baixinho Romário, pode agora acrescentar ao currículo a vergonhosa façanha de ter colocado essas duas celebridades mundiais a serviço dos seus interesses escusos.

fonte: http://pagina20.uol.com.br