Cracolândia do Acre


“Bem vindos a cracolândia da Rodoviária”. Com essas palavras nossa equipe de reportagem foi recebida, ao chegar à Rodoviária de Rio Branco. No local, um grupo de viciados usava crack em plena luz do dia, sem se importar com passageiros e clientes dos comércios do entorno.

Cracolândia (por derivação de crack) é uma denominação inicialmente populariza em uma região no centro da cidade de São Paulo, mas que se espalhou pelo resto do Brasil e se instala ao redor da rodoviária Internacional de Rio Branco.

O “líder” do grupo, identificado por Messias, indagou o motivo de nossa presença. Notavelmente drogado, repetia por diversas vezes que queria dinheiro e queixava-se de dores na cabeça.

Ele estava acompanhado de sete parceiros de fumo, que discutiam e revezavam o cachimbo improvisado, construído com cano PVC e fita adesiva.
Márcia de Souza vive no lugar há mais de um ano e, segundo ela, por várias vezes foi abordada pela polícia. “Os policiais já me abordaram, tomaram meu dinheiro e em seguida fui esmurrada”, comentou. Márcia entrou no mundo das drogas depois que foi expulsa de casa, e sem ter para onde ir resolveu morar nas ruas. “Sou mãe de três filhos, fui expulsa de casa pelo meu marido que não aceitava minha dependência”.

Por toda parte havia embalagens de drogas e muito lixo espalhado pelo chão, atestando que a prefeitura não realiza a limpeza e manutenção do local periodicamente.

Fora da rodoviária, vários comércios desativados servem como abrigo para marginais e usuários de drogas, que já fizeram do local ponto de consumo e prostituição. Nos comércios que ainda funcionam o medo e a insegurança impera entre os comerciantes que reclamam da falta de policiamento no entorno da rodoviária.

“Policiamento aqui só quando chamamos pelo telefone 190, e quando chegam, os marginais fogem e ficamos no prejuízo, ou seja, a insegurança é grande”, desabafou Aline Soares.
Dentro da rodoviária a aflição dos comerciantes e taxistas também é notória. Uma vendedora que optou por não se identificar relata que existe um box da Polícia Militar no local, porém, há mais de seis meses foi desativado contribuindo para que os assaltos se tornassem frequentes. “Semana passada fui testemunha de um assalto ocorrido dentro do banheiro feminino. O marginal entrou e assaltou uma passageira levando sua bolsa”.

Para confirmar a denúncia fomos ao box da PM mas a porta estava trancada e, realmente, com indícios de abandono. Durante o tempo que a reportagem permaneceu na rodoviária, nenhum patrulhamento da polícia foi visto.

Os prejuízos são muitos, tanto para comerciantes que são obrigados a fecharem as lojas mais cedo, quanto para os passageiros que constantemente são assaltados ou, quando pouco, abordados por pedintes, na sua maioria usuários de drogas.
O empresário Jeronimo Pereira diz que a rodoviária está esquecida pelos administradores. “Essa rodoviária está entregue as baratas, ninguém toma providências, os assaltos são constantes, além da sujeira dentro dos banheiros e a desorganização no saguão”, enfatiza.

Igor Albuquerque também trabalha no lugar e queixa-se das condições dos banheiros e da insegurança. “O perigo é tanto que é recomendável ir ao banheiro somente com acompanhante, devido os frequentes assaltos”.

Fundada em 1990 a manutenção da Rodoviária Afonso Amoedo Costa é de responsabilidade da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (RBTRANS). Na administração do órgão fomos recebidos por um funcionário identificado por Rafael que afirmou a precariedade do lugar, mas, segundo ele a Gerente Administrativa estava de férias e o responsável interino participava de uma reunião.


Se durante o dia o cenário é aterrorizante, pela noite a situação foge ao controle. De longe é possível enxergar os cigarros acesos e a fumaça produzida pela queima da droga. O cheiro funciona como atrativo para dezenas de usuários que habitam o lugar.

De um lado o módulo de Saúde da Família Dr. Mário Maia. Do outro, dezenas de bares que funcionam até a madrugada.

Enquanto providências não são tomadas, a cracolândia da rodoviária de Rio Branco continua crescendo e abrigando dezenas de usuários de drogas, marginais e outros tipos de viciados. Indagado sobre o futuro da rodoviária, Messias responde com um recado curto e direto: “Se a rodoviária sair daqui, sem dúvida também mudaremos pra lá”.

Wanglézio Braga
Do Acrealerta.com

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