Agora aí...são os meus...

De todas as minhas modestas dimensões humanas, a que mais me realiza é a de ser pai.


Ser pai é acima de tudo, não esperar recompensas.
Mas ficar feliz caso e quando cheguem. 

É saber fazer o necessário por cima e por dentro da incompreensão.
É aprender a tolerância com os demais e exercitar a dura intolerância (mas compreensão) com os próprios erros.

Ser pai é aprender errando, a hora de falar e de calar. 
É contentar-se em ser reserva, coadjuvante, deixado para depois.

Mas jamais falar no momento preciso.

É ter a coragem de ir adiante, tanto para a vida quanto para a morte. 
É viver as fraquezas que depois corrigirá no filho, fazendo-se forte em nome dele e de tudo o que terá de viver para compreender e enfrentar.

Ser pai é aprender a ser contestado mesmo quando no auge da lucidez.
É esperar. 
É saber que experiência só adianta para quem a tem, e só se tem vivendo.

Portanto, é agüentar a dor de ver os filhos passarem pelos sofrimentos necessários, buscando protegê-los sem que percebam, para que consigam descobrir os próprios caminhos.

Ser pai é saber e calar. 
Fazer e guardar. 
Dizer e não insistir. 
Falar e dizer. 
Dosar e controlar-se.

Dirigir sem demonstrar. 
É ver dor, sofrimento, vício, queda e tocaia, jamais transferindo aos filhos o que, a alma, lhe corrói.

Ser pai é ser bom sem ser fraco.
É jamais transferir aos filhos a quota de sua imperfeição, o seu lado fraco, desvalido e órfão.

Ser pai é aprender a ser ultrapassado, mesmo lutando para se renovar
É compreender sem demonstrar, e esperar o tempo de colher, ainda que não seja em vida.

Ser pai é aprender a sufocar a necessidade de afago e compreensão. 
Mas ir às lágrimas quando chegam.

Ser pai é saber ir-se apagando à medida em que mais nítido se faz na personalidade do filho, sempre como influência, jamais como imposição. 
É saber ser herói na infância, exemplo na juventude e amizade na idade adulta do filho.

É saber brincar e zangar-se.

É formar sem modelar, ajudar sem cobrar, ensinar sem o demonstrar, sofrer sem contagiar, amar sem receber.

Ser pai é saber receber raiva, incompreensão, antagonismo, atraso mental, inveja, projeção de sentimentos negativos, ódios passageiros, revolta, desilusão e a tudo responder com capacidade de prosseguir sem ofender; de insistir sem mediação, certeza, porto, balanço, arrimo, ponte, mão que abre a gaiola, amor que não prende, fundamento, enigma, pacificação.

Ser pai é atingir o máximo de angústia no máximo de silêncio.

O máximo de convivência no máximo de solidão.

É, enfim, colher a vitória exatamente quando percebe que o filho a quem ajudou a crescer já, dele, não necessita para viver.

É quem se anula na obra que realizou e sorri, sereno, por tudo haver feito para deixar de ser importante.

Arthur da Távora


Postar um comentário

ATENÇÃO: Não aceitamos comentários anônimos

Postagem Anterior Próxima Postagem