Desde 1999 a BR-364, no trecho de 672 km que liga a capital do Acre, Rio Branco, a Cruzeiro do Sul, tem sido aberta ao tráfego somente no período do chamado verão amazônico, entre junho e outubro. Porém, a partir deste ano, a expectativa é de que a rodovia não feche mais na época das chuvas.
É que as obras de pavimentação da estrada finalmente começa a chegar em sua etapa final, com previsão de término em dezembro. Financiada pelos governos federal e estadual, ela integra o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e está orçada em cerca de R$ 1 bilhão.
Um dado mostra a importância da rodovia para a integração econômica da região: calcula-se que 80% da população do Acre depende da BR-364.
No início de junho, durante a inauguração da ponte sobre o rio Juruá, próximo a Cruzeiro do Sul, enquanto autoridades se preparavam para a solenidade, centenas de pessoas que acompanhavam a cerimônia nas duas margens do rio romperam o cordão de isolamento e correram em direção uma das outras em um gesto de alívio, pois finalmente podiam cruzar o rio sem precisar usar canoa ou balsa. Quem esteva lá relata que a cena foi emocionante e tornou-se um marco do que representa a entrega de uma obra desse tipo à população. Antes da abertura da ponte, moradores dos bairros de Miritizal e Lagoa viviam quase isolados do resto da cidade de Cruzeiro do Sul, com enorme dificuldade para ter acesso aos serviços básicos, como saúde e educação.
A ponte sobre o rio Juruá, do tipo estaiada, com 550 m, é uma das mais modernas da região. Como o Vale do rio Juruá é um dos mais propícios do país a terremotos — no último 24 de agosto um abalo sísmico no Peru, próximo à região de fronteira com o Brasil, foi sentido no Acre —, a obra foi projetada estruturalmente prevendo-se essas ocorrências.
A construção da ponte foi realizada pelo consórcio Alto Juruá (construtoras Cidade e Camter) e levou dois anos para ficar pronta. Um ato solene com a presença do presidente Lula deu início a obra em julho de 2009 —, encarando dificuldades de logística típica da região. Para sua execução, foram consumidos 70 mil sacos de cimento, que vieram de Manaus (AM) por meio de balsa pelo próprio rio Juruá, afluente do rio Amazonas. Já a pedra brita veio de pedreiras perto do rio Abunã, em Rondônia, outro estado vizinho do Acre. O carregamento do material percorreu estradas e balsas até o canteiro de obras da ponte, em uma viagem que levava até 60 dias.
A obra da ponte consumiu 18 mil t de concreto e 4 mil t de aço – material este que veio dos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Quase mil pessoas trabalharam diretamente e indiretamente na construção da ponte.
O governo do Estado do Acre anunciou este ano que a ligação entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul não mais fechará no período das chuvas. O motivo é o adiantado das obras de pavimentação do trecho da BR-364 entre aquelas cidades. Já há alguns anos, a liberação da estrada tem sido feita por um período cada vez mais longo. Mas agora a previsão é que não feche mais durante o inverno da Amazônia.
47 pontes
A primeira frente de trabalho atua na restauração de 89,3 km no trecho Tarauacá-Cruzeiro do Sul. A segunda, trabalha na construção de 224 km no trecho entre Sena Madureira e Feijó, sendo que a parte entre Manuel Urbano e Feijó é o mais complicado, com terreno bastante argiloso. Por isso, há intensas atividades na região.
A terceira e última frente trabalha na construção de algumas pontes da rodovia e de 21,4 km de acessos. Há centenas de canais, galerias e pontes em construção ou já construídos na estrada pelo fato de ela cruzar várias microbacias hidrográficas que compõem a região amazônica. Ao todo, o trecho da BR-364 entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul tem 47 pontes.
Nesta obra na BR-364, no trecho acriano, que está sendo finalizado, foram construídos 3.594 m de linhas de galerias e 15 pontes que totalizam 2.786 m. Há pontes de vários tipos: convencionais, de viga reta em concreto, ponte em viga metálica e estaiada.Porém, quatro pontes se destacam pela dimensão: sobre o rio Juruá, a do rio Purus, a sobre o rio Envira, e a do rio Tarauacá. A do rio Juruá, chamada de Ponte da União, já foi inaugura, tem extensão de 550 m e é do tipo estaiada. A largura do tabuleiro é de 17,8 m nos vãos de acesso e 20,2 m no vão estaiado. A ponte tem quatro faixas de rolamento e duas faixas de passeio.
A ponte do rio Purus tem 407 m e também está pronta. A largura do tabuleiro é de 12,8 m, com duas faixas de rolamento e duas de passeio. O gabarito de navegação é de 12 m. A estrutura principal é de viga caixão de concreto protendido, construída em balanços sucessivos, com vão central de 100 m. Já as estruturas de transição são de grelha mista de vigas metálicas e laje de concreto armado com cinco vãos de 35,4 m.
Por fim, a ponte do rio Tarauacá tem 300 m e é também do tipo extradorso. Já concluída, possui as mesmas características da ponte que está sendo executada sobre o rio Envira.
Desafios da Amazônia
A logística para transporte de insumos e equipamentos requer apurado planejamento no período de inverno amazônico (outubro a maio), quando intensas chuvas atingem a região. O breve período anual para a execução das obras, no chamado verão amazônico (junho a outubro), as demandas de mobilização e desmobilização são imensas.
O solo da região possui baixa capacidade de suporte. Os cursos d'água sem leito definido e fundos de vales transversais à rodovia exigem grande quantidade de bueiros, galerias e pontes na estrada. No Sul do País, uma rodovia tem em média um bueiro por km. Na região, a previsão é de três bueiros por km.
A presença do solo de tabatinga (pedra argilosa) altamente suscetível aos efeitos da água e a umidade presente na região amazônica, aliada ao intenso regime de chuvas, tornam necessárias medidas adicionais nas execuções do pavimento rodoviário em comparação com as demais regiões do Brasil.
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